O Caminho para a Liberdade na África

Por Adewale R. Bankole. Publicado originalmente em inglês no AfricanLiberty.org. Traduzido e adaptado para o português do Brasil por Renan Felipe dos SantosPara ler o artigo original, clique aqui.

Liberdade é a habilidade de viver a própria vida como se quer respeitando a vida dos outros, “você é o dono da sua vida”.
Para viver, é preciso produzir o que sustenta a vida. O que você é capaz de produzir ou inventar é seu produto, ou “os frutos do seu trabalho”.

Seu produto é sua propriedade, que é o resultado do seu pensamento criativo, do seu tempo e energia para inovar e trazer idéias inimagináveis para a realidade, e que são valiosas e podem ser trocadas através de um mútuo acordo.

Por sua vez, um bom governo existirá apenas para proteger esta liberdade, “sua liberdade”, não para redistribuir riqueza, nem para garantir privilégios especiais, nem para interferir na vida dos indivíduos. O governo de um país livre, propriamente falando, reside não nos seus oficiais eleitos mas em suas leis.

Isto é normalmente conhecido como “governo das leis, não dos homens”.

Partindo desta premissa, a África mais do que qualquer outro continente sofreu da quase ausência de liberdade. A distorção da liberdade da África é mais antiga que o período do comércio de escravos e a era colonial.
O período colonial já passou e há muito foi esquecido; ainda assim muitas nações africanas passaram sua era pós-colonial tentando várias formas falhas de governo, incluindo o marxismo e o regime militar.

Dos muitos efeitos da escravidão, dos quais a África sofre a maioria, a escravidão mental é o maior e o pior. Escravos não tem direitos nem para pensar por si mesmos ou experimentar novas idéias; escravos não possuem nada; escravos não investem ou compram porque eles foram comprados. Este é o único método efetivo que senhores de escravo usam para manter o senhorio sobre seus súditos. Consequentemente, a tirania nos governos modernos é até certo ponto uma transição da era colonial que já acabou há muito tempo mas legou um efeito aparentemente permanente.

Tiranos e ditadores proliferaram, especialmente na África pós-colonial, não tanto por causa de sua ingenuidade mas porque operavam uma estrutura política hierárquica e repressora que herdaram, e a usaram para oprimir as pessoas, limitar as empresas, violar a liberdade e a independência individual.
A maioria dos governos africanos não entende a liberdade e a dinâmica do mercado. Em vez disso acreditam, ou fingem acreditar, em mitos associados a eles. Para os poucos que entendem, o que eles promovem é “crony capitalism”[1] – um sistema no qual o capital nacional é pouco mais do que uma gigantesca colméia pulsante de lobistas, burocratas, consultores, especuladores buscando renda fácil, e no qual empresas públicas foram vendidas in leilões corruptos fechados para “amigos do governo” em nome da liberalização.

Para as pessoas da África, globalização significou pouco mais do que seus “líderes” indo para conferências – às custas delas – em outros países. Enquanto escrevo este artigo, há uma notícia anunciando que um novo país, “Azawad”, acabou de separar-se do Mali; Mugabe do Zimbábue está com um novo modelo de nacionalização, expropriando negócios privados apesar do espantoso crescimento negativo e da inflação bilionária que o país registrou nos últimos anos; Boko Haram – uma seita islâmica radical – está ameaçando a unidade da Nigéria com bombas explodindo quase que semanalmente na parte norte da Nigéria; O norte e o sul do Sudão estiveram brigando pelo Heiglig, uma região rica em petróleo. Estas são realidades decepcionantes que ameaçam a liberdade na África.

Por todo o continente africano praticamente não há um país sem problemas de violação da liberdade individual, dos direitos de propriedade e da liberdade econômica, como resultado de governos despóticos.

Hoje, o despotismo se tornou a gangrena do continente africano. George Ayittey em seu mais recente livro entitulado Defeating Dictators: Fighting Tyranny in Africa and around the World (2011)[2], ele observa que “ditadores modernos vem em diferentes matizes; raças, cores de pele e religiões, e eles professam várias ideologias”. Não obstante, déspotas tem muito em comum: eles são líderes que não são escolhidos pelo seu povo e, portanto, não representam as suas aspirações. Conforme a oposição se levanta contra eles, eles refinam suas táticas e aprendem novos truques numa tentativa de deter a maré de forças pró-democracia.

Os homens deveriam buscar sua liberdade, lembrando que qualquer coisa menor do que isso coloca sua sobrevivência debaixo dos sentimentos emocionais de homens que nunca se permitiram conhecer a essência da liberdade. Por isso para vencer a batalha pela liberdade na África, devemos começar por liberdade intelectual. O intelecto começa com o conhecimento da Verdade. A Liberdade do invidíduo é um pré-requisito da Liberdade do Estado.

[1]Nota do Tradutor: capitalismo de compadrio, capitalismo estatal, coronelismo, corporativismo. O termo crony capitalism descreve um sistema pretensamente capitalista, mas onde não há real liberdade de mercado porque o governo interfere privilegiando certas empresas, cartéis e oligopólios. Mais ou menos como o que acontece aqui no Brasil com a tal da ‘parceria público-privado’ e o capitalismo estatal.

[2] Nota do Tradutor: Defendendo Ditadores: Combatendo a Tirania na África e no Mundo.

O perigo de uma única história

Um discurso interessante que assisti pela internet e gostaria de compartilhar com vocês. Estava discutindo no Orkut sobre o artigo que postei aqui outro dia, sobre a visão da empresária senegalesa Magatte Wade e o empreendedorismo na África. No meio da conversa uma forista me recomenda assistir esta palestra. Eu esperava algo sobre Economia da África, pobreza, colonialismo, etc.

Chimamanda Adichie

Bom, a mulher que discursa é Chimamanda Ngozi Adichie, uma autora e contadora de histórias nigeriana de origem Igbo. O que ela conta, além de um pouco de sua própria história de vida, é uma lição muito importante para aqueles que pretendem entender os problemas sociais, não só da África, e agir para solucioná-los.

Chimamanda expoe aquilo que eu chamo de caricaturização. A caricaturização é um meio de descrever ou representar as pessoas ou povos inteiros de tal modo que somente certas características são exibidas e acentuadas, ao passo que outras são omitidas. A caricaturização é uma técnica de propaganda e guerra ideológica, muitas vezes, quando procura vilificar um povo ou martirizar outro. Muitas vezes, a caricaturização tem a intenção de ser “socialmente sensível” aos problemas do outro, mas acaba por ser prejudicial a quem se pretende defender. Bom, Chimamanda explica melhor do que eu. Assistam:

Parte I

Parte II

Site de Chimamanda: http://www.l3.ulg.ac.be/adichie/index.html