Feliz Páscoa

Hoje é um dia muito importante para a fé cristã, é o dia em que Jesus Cristo teria vencido a morte há quase 2000 mil anos atrás e assim libertou a humanidade de seus pecados. Mas com o passar dos anos as pessoas esqueceram o verdadeiro significado da páscoa, que é justamente o do renascimento, mudar ou melhorar e não apenas mais um feriado para se trocar lembrancinhas e realizar banquetes com ovos de chocolate na sobremesa.

A páscoa cristã tem sua origem em rituais pagãos e na páscoa judaica que vem do hebraico pessach, que significa passagem. Os judeus relembram e comemoram a êxodo para a Terra Prometida e a bíblia judaica institui o pessach em Êxodo 12, 14: Conservareis a memória daquele dia, celebrando-o como uma festa em honra de Adonai: Fareis isto de geração em geração, pois é uma instituição perpétua.

A última ceia de Jesus Cristo com seus discípulos como é descrita nos Evangelhos, é geralmente considerada um “sêder do pessach”  que é a refeição ritual que acompanha a festividade judaica, se nos ativermos à cronologia proposta pelos Evangelhos sinópticos. Já o Evangelho de João remete a outra cronologia, essa situa a morte de Jesus Cristo por volta da hecatombe dos cordeiros do pessach, sendo assim a última ceia teria acontecido antes da festividade.

A páscoa como conhecemos hoje está cheia de símbolos e não é por acaso. O coelho é um desses símbolos na verdade é símbolo de fertilidade  e os ovos representam a luz solar (renascimento), mas para entender a atual páscoa cristã é necessário entender os antigos povos anglo-saxões da Idade Média. Eles nesse período do ano homenageavam a deusa da primavera  Ostera ou Esther, que Easter em inglês significa páscoa. Ostera é representada segurando um ovo e com um coelho pulando ao redor dela, o ovo que ela segura representa uma nova vida e o coelho à fertilidade.

Desejo uma feliz páscoa a todos, mesmo a quem não é cristão, pois o real significado da páscoa é buscar uma vida nova, uma vida melhor.

O Comunismo, por Plínio Correa de Oliveira

Presentinho para os católicos e católicas que leem o blog. Este artigo foi escrito por Plínio Correia de Oliveira há mais de 60 anos – continua atual! – e trata de três aspectos (o crime, a propriedade e a família) sob duas óticas (a cristã e a comunista). Plínio faz uma crítica contundente das falhas do comunismo, explicando porque o mesmo necessita da violência como instrumento político, ao mesmo tempo que contrapõe com a alternativa da doutrina católica. Boa leitura!

por Plínio Correa de Oliveira. Legionário, N.º 688, 14 de outubro de 1945

Como vimos atrás, o comunista se sacrifica pela aceleração de uma felicidade futura que a humanidade alcançará pelo desenvolvimento indefinido do progresso, e que trará consigo a isenção de qualquer sofrimento, de todos os defeitos e quiçá da própria morte. Só será ela retardada pelo mal, não pelo mal moral que o comunismo nega, mas pelo único mal que reconhece: o erro técnico.

Para o comunismo a noção de crime perde sua razão de ser se esse crime não teve conseqüência perturbadora do progresso da evolução da humanidade para a felicidade. Assim considerados, muitos atos de culposa criminalidade deixam de o ser, porque as conseqüências práticas não apareceram em sociedade prejudicando-a. Somente a utilidade das coisas para o progresso humano é que as torna boas ou más.

Daí o dispor o Estado dos particulares, de suas aptidões e capacidades, com um despotismo tirânico. Senão, vejamos. Um casal comunista é enviado pelo Estado a uma região do país onde há grande atraso cultural, com o encargo de lá fazer chegar a instrução, a arte, em suma, a cultura suficiente para um povo civilizado. Aquela peça da engrenagem universal obedece o mandato imperioso do Estado, embora que com sacrifício. O esmorecimento porém não se faz esperar porque o homem se pergunta, no íntimo, da causa de se esforçar, uma vez que irá participar de qualquer maneira da felicidade futura. E mais dia menos dia nada significam para quem vai gozar para sempre, prescindiu da lei moral, prevalecendo-se de motivos humanos.

Comparemos agora alguns dos diversos motivos que levam o homem a obedecer e analisemos os processos de julgamento comunista e católico. Suponhamos que um ébrio nos injurie e nos ameace e nós dele nos livramos, seja de qualquer maneira. Amanhã o mesmo homem se nos apresenta dentro da farda de guarda-civil. Respeita-lo-emos. Por que? Por qual dos seguintes motivos: por medo do castigo? porque se assim não procedermos, toda a comunidade humana também terá o direito de assim proceder? porque não haverá mais ordem nem paz? porque eu me prejudicarei e então é melhor obedecer…?

Ora, baseado no primeiro motivo, eu poderei desobedecer às escondidas, porque ignorada a desobediência, não haverá castigo. E cessando assim o motivo da minha obediência, desobedecerei sem receio.

A esse homem que fraudou, que desobedeceu, que enganou e que, por via dos acontecimentos, a conseqüência ou as conseqüências de seu mau ato não apareceram, o comunista nada aponta de erro, pois não foi prejudicado o andamento da sociedade para a época da felicidade. O católico porém diria: tu não podes proceder assim pois que não te é lícito; diante de Deus tu és responsável pelo crime que praticaste.

As maneiras de agir são falhas porque prescindem de Deus. De acordo com elas o homem procederá bem quando estiver sob a vigilância policial, não reconhecendo, como no catolicismo, uma autoridade primeira e divina donde procedem as demais autoridades constituídas. Na verdade, se assim não fora, por que obedecer a um meu igual? É a grande incoerência comunista, que obriga à atividade “bastante intensa” da polícia e que fez Churchill exclamar: “O socialismo sem a polícia é impossível”.

Provando essa afirmação, temos patente a existência da GPU e da Gestapo, dos campos de concentração e de redes policiais secretas, que “eliminam” da face terráquea os elementos que atrasaram a marcha do universo para a felicidade.

Esse modo de agir é fatal ao comunismo porque nega o direito de propriedade, negando o direito privado e, como prescinde de Deus e não admite a lei moral por Ele infundida, só pode dispor da força bruta para se implantar.

Capital e trabalho: conceito católico

A propriedade existe por causa da própria natureza das coisas. A propriedade é pois uma instituição desejada por Deus. Fazendo dessa mesma instituição obra humana é que chegam os homens aos abusos que podemos constatar na sociedade. De fato, só pode haver justiça na divisão de bens quando ela se basear no direito da propriedade. Isto posto, notemos que esse direito comporta limitações. Deus infinitamente sábio e bom deu aos homens o direito de constituir propriedade privada. Ora, os bens criados devem ser bastante para todos os homens. Conclusão: jamais a organização deve ser feita de modo a não se chegar a uma divisão perfeita. Entendemos por necessidades humanas a fome, a sede etc., resultando daí que o homem não só tem o direito de comer mas de se alimentar suficientemente; sua roupa não deve ser um abrigo qualquer contra o frio mas uma toillete decente de acordo com a sociedade a que faz parte. Estão contra os princípios católicos os ricos que se não desfazem do supérfluo em favor dos que morrem de frio ou de fome. Sempre oportunas nesse caso são as palavras de Jesus Cristo quando afirma que a tais ricos sem justiça, sem misericórdia, a esses serão fechadas as portas do paraíso. Pio XI insiste em que o operariado deve ter um salário suficiente, justo e familiar. Se assim acontecer, por sua vez não tolera a Igreja que um pobre que recebe justamente sua quota cobice riquezas impossíveis. Aquele que tendo suas necessidades acudidas invejar a riqueza alheia, peca contra o décimo mandamento.

Tudo quanto for igualdade fora das normas acima transcritas são terríveis ilusões. Partidária da suficiência de bens para todos, segundo sua categoria social, se levanta a Igreja contra os aventureiros que abusam da justa indignação dos miseráveis, e procuram fazer deles inimigos de toda a ordem e hierarquia social.

Visto que foi agora algo sobre o direito de propriedade, passemos a encarar um ponto importante que se liga estreitamente com as péssimas conseqüências que trazem em seu bojo as teorias marxistas.

* * *

A Família: já dissemos sobre o direito da família e iremos considerar a questão do divórcio, muito em voga em nossos dias, e que não se confunde com o desquite.

Será preferível a separação quando não houver felicidade? Será sempre vantajoso o amor livre? Para responder a esta interrogação que tão insistentemente nos fazem tantos e tantos interessados partiremos do princípio de São Tomás: todas as coisas são ditas perfeitas quando preenchem inteiramente o fim para o qual foram criadas. Subordinaremos o processo de julgamento do matrimônio a esta afirmação tomista e então o casamento preencherá o fim para o qual foi instituído, se tiver a glória da fecundidade. Há ainda em segundo plano um anseio para uma felicidade que consistirá em se achar um ente que nos compreenda e nos ame: o homem encontrando na mulher o carinho, a delicadeza, a virtude; e a mulher a força, o amparo, o sustento e também a virtude naquele que a conduziu perante o altar do Senhor e lhe jurou fidelidade até à morte. Mentem e pervertem os romances que buscando linguagem atrativa, e que procuram desviar o fim para o qual o casamento foi criado: a fecundidade, estabelecendo a felicidade em outra coisa que não a estabilidade de correspondência das legítimas satisfações de ambas as partes.

E nós nos colocamos agora diante do problema de como conseguir uma união duradoura e feliz. Não se põe dúvida no caso de uma árvore boa dar bons frutos e o mesmo devemos pensar de um casamento que só poderá trazer felicidade se precedido e firmado em sólidos princípios de moral e religião. O enlace que repousa nesta base estará pronto para enfrentar os desgastes do físico com o apontar da idade madura, pois a beleza embora possa aparecer não é a condição para a felicidade. O futuro pai de família atingirá essa formação quando praticar o que exige de sua noiva, ou em termos bem claros no dia em que souber ser puro.

Quando o valor da pureza puder ser admitido por muitas mentalidades que dela escarnecem, e mais ainda, quando for ela posta em exercício, podemos descansar quanto ao perigo do divórcio, porque deixará ele de existir. A sensualidade conduz o homem a ser infiel à sua esposa, prejudicando-se a si, a ela e aos filhos. Se partir de ambas as partes, será criado um ambiente de insegurança, de mentira, de fingimento, e aquele lar jamais será feliz se não houver uma retratação de atitudes de ambas as partes. Sobre ele virá a dissolução, o divórcio, querendo separar o que Deus uniu para sempre; divórcio esse que é a prova eloqüente da fraqueza do homem e não remédio, como sugerem muitos que se têm na conta de vítimas de um casamento fracassado.

É diante desse corrosivo da sociedadefruto fatal do comunismo e diante do próprio comunismo que deve o católico convicto erguer-se com desassombro, pronunciando as palavras que Cristo lhe deixou: Ego sum! Eu sou católico e não quero pactuar com uma seita que vai de encontro com os princípios essenciais da Igreja. Deposito toda minha confiança na Barca de Pedro que jamais desaparecerá, à sombra da Cruz, donde dimanam todos os frutos da Revelação e, nessa hora de dúvida para os destinos de nossa pátria, eu me dirijo a Jesus Cristo, Nosso Rei, rogando por que o Brasil seja sempre a Terra de Santa Cruz!

Versão digital do artigo disponível no site de Plínio Correa de Oliveira.

Sete razões para não temer os muçulmanos

Nota de 27/01/2017: Este artigo foi escrito 4 ou 5 anos ANTES da crise migratória européia (2016-?) e, portanto, não leva em consideração a imigração massiva de países muçulmanos para a Europa. A assimilação pacífica da comunidade muçulmana aos países europeus e americanos só foi possível em séculos anteriores porque esta migração se dava de maneira individual e paulatina, não massiva e repentina como vem ocorrendo nos últimos anos. Sobre o caráter islâmico (ou não) do terrorismo, o autor em breve publicará uma revisão deste artigo.


1 – O terrorismo “islâmico” não existe
Yuri Bezmenov, dissidente do serviço secreto soviético, já explicava isso décadas atrás: “Believe me please, there was no grass, no root, no revolution, and least of all Islam. There is no such thing as an Islamic revolution. Revolution has nothing to do with Islam. There is no such thing as Islamic terrorists. (Em negrito: “Não há revolução islâmica. Revolução não tem nada a ver com Islã. Não existem terroristas islâmicos.”)

Diversos líderes de movimentos africanos, indianos, árabes e sul-americanos de “libertação nacional” foram treinados por oficiais da própria KGB (no caso dos sul-americanos, em Cuba) em seus centros de formação de líderes políticos durante a Guerra Fria. Eestes mesmos líderes levaram adiante guerras civis, golpes e revoluções armadas de todo tipo a seus países de origem para desestabilizar os regimes e, se possível, instalar um governo socialista alinhado com o Kremlin.

Hoje, membros destes mesmos grupos “islâmicos” operam redes internacionais de terrorismo. Portanto, é mais fácil traçar a origem dos terroristas “islâmicos” até a KGB ou a CIA do que ao Corão.

2 – Religião islâmica e lei islâmica não são sinônimos
Dos aproximadamente cinquenta Estados de população majoritariamente islâmica, apenas 6 são Estados islâmicos. E destes seis, dois são aliados dos EUA (Arábia Saudita e Paquistão). Outros doze tem o islamismo como religião oficial. Vinte são Estados seculares.

Dos estados do mundo, cerca de 14 adotam leis religiosas. Dentre estes, os mais conhecidos são o Irã, a Arábia Saudita, o Iêmen e o Vaticano. O mais poderoso destes, em relação ao Oriente Médio e toda a Liga Árabe, é a Arábia Saudita, país que mantém sólidas relações comerciais e diplomáticas com os EUA.

3 – Muçulmanos são tão diversos quanto os cristãos
Assim como entre os cristãos, há diferentes denominações muçulmanas.

A maior delas é o Sunni (sunitas). É considerada a versão “ortodoxa” da religião. Os sunitas acreditam que após a morte de Maomé, o novo líder religioso seria eleito e não um descendente, parente ou indicado do profeta Maomé. Possui quatro escolas de pensamento: Hanafi, Maliki, Shafi’i e Hanbali. Há uma quinta, ultra-ordoxa, a Wahabbi.

Os sunitas acreditam na autoridade religiosa da razão e da legalidade.

Os xiitas são a segunda maior denominação muçulmana. Compoem de 10 a 20% da população muçulmana mundial. Creem na infalibilidade do Imam (seu líder religioso) – descendente de Ali, o sucessor de Maomé na liderança dos muçulmanos.

Os xiitas acreditam na autoridade religiosa hereditária e divina.

Além dos sunitas e xiitas, há os sufis, os ahmadiyya, os ibadi, os coranistas, etc.
Some a isso as culturas locais de povos que vão desde os africanos do Mali até os indonésios passando pelos turcos, persas e uigures.

Diferenças entre culturas: tártaras em trajes típicos, uma albanesa votando e iranianas comprando cosméticos e maquiagens.

4 – Os muçulmanos são bons de negócio

Reformas: Metade das economias no mundo árabe reformaram suas regulamentações em termos de negócio nos anos de 2009 e 2010, mais do que na América Latina e no Caribe.[1]

Liberdade econômica: De acordo com o ranking da Heritage de liberdade econômica, Irã, Turcomenistão, Mauritânia, Iêmen, Indonésia, Marrocos, Jordânia e Catar apresentaram melhorias.

Bahrain e Catar fazem parte dos países majoritariamente livres (score entre 79.9 e 70)

Jordânia, Cazaquistão, Kuwait, Turquia, Marrocos, Quirguistão, Malta, Arábia Saudita e Líbano fazem parte dos países moderadamente livres (grupo que inclui Israel, Coréia do Sul e África do Sul).

Azerbaijão, Egito, Tunísia, Iêmen, Paquistão, Tadjiquistão, Bangladesh, Mauritânia, Indonésia e Mali se encontram no grupo majoritariamente reprimido. Fazem parte deste grupo membros do BRIC (Brasil, Índia, Rússia e China).[2]

Desenvolvimento econômico: A Liga Árabe, composta por países muçulmanos em maioria, é a 6ª organização com maior PIB, estando à frente da Rússia. Em termos de PIB per capita, está à frente da China e da Índia. A mesma mantém relações comerciais com a União Africana, a União Européia, os Estados Unidos, a China e a UNASUL.

Direitos de propriedade: Com relação à defesa dos direitos de propriedade, os países do norte da África e do Oriente Médio (muçulmanos em sua maioria) estão melhores do que a América Latina e Caribe. De acordo com o International Property Rights Index de 2011, a região Norte da Áfica e Oriente Médio tem uma média de 5.7, superando os 5 pontos da América Latina e Caribe.[4]

Comparando-se o PIB per capita, o “mundo islâmico” não se sai tão mal quando comparado com os países do BRIC:

Os países mais próximos do roxo são os com o mair PIB per capita. Em comparação com os BRICS, o mundo islâmico não está muito atrasado, inclusive contando com membros excepcionais que se aproximam mais dos níveis europeus.

Com relação ao IDH, muitos países tipicamente muçulmanos são mais desenvolvidos do que os tais BRICs. A Rússia é o membro do BRIC com o maior IDH (0.755), e está atrás da Líbia (0.760) que é o 6º país muçulmano num ranking de IDH. À frente da Líbia ainda está o Kuwait, a Arábia Saudita, o Bahrain, o Catar e o mais desenvolvido deles, os Emirados Árabes Unidos com invejáveis 0.855. Para se ter uma idéia, o IDH do Brasil (2º entre os BRICs) é de 0.718 e o da Índia (menor entre os BRICs) é de 0.547. [5]

Vale lembrar que um dos maiores parceiros comerciais dos EUA no mercado de Petróleo é a Arábia Saudita. [6]

5 – Judaísmo, cristianismo e islamismo são parentes
Judaísmo, cristianismo e islamismo fazem parte de um mesmo grupo de doutrinas religiosas. São as chamadas religiões abrâmicas (relativo a Abraão). Abraão é o profeta que “faz a liga” entre estas três religiões.

Ainda que elas tenham grandes diferenças entre si, há também pontos em comum. O deus, por exemplo, é o mesmo. O deus dos judeus é o mesmo deus dos cristãos e o mesmo deus dos muçulmanos. A palavra “Allah” vem do árabe e significa simplesmente “deus”.

Abraão. Pintura de József Molnár.

Basicamente, os muçulmanos não afirmam que judaísmo ou cristianismo são religiões falsas. Na concepção muçulmana, estas religiões estão ligadas ao islamismo. Os muçulmanos usam a expressão “adeptos do livro” ou “seguidores do livro” para referir-se a judeus e cristãos. Mas porque não usam a palavra “infiel”? Por que consideram que há três livros sagrados, revelados progressivamente: o primeiro é a Torá, o segundo é a Bíblia (no caso, o Novo Testamento) e o terceiro é o Corão.

Os muçulmanos não aceitam Jesus como filho de Deus, mas o aceitam como profeta e duvidam da sua morte carnal afirmando que ele ascendeu aos céus diretamente para a presença de Allah. Jesus é considerado um profeta do Islã, como é Maomé. O motivo pelo qual os muçulmanos dão tanta atenção a Maomé é porque ele é considerado nesta religião o último profeta a receber revelações diretamente de Allah. A crença é de que Allah tenha ditado o livro sagrado (Corão) para Maomé ao longo de um período de 23 anos nas peregrinações entre duas cidades (Medina e Meca).

O que o Islã condena não é o judaísmo ou o cristianismo, mas o politeísmo e o ateísmo (a palavra “infiel” se refere a quem não é adepto dos livros sagrados).

Outras coisas que podemos constatar: a proibição do consumo da carne de porco e a cultura de cobrir a cabeça das mulheres vem desde o judaísmo. Ainda hoje, judeus e muçulmanos não comem carne de porco – algo comum para cristãos. Judias ortodoxas cobrem a cabeça até hoje. Entre as cristãs, o costume de cobrir a cabeça ficou restrito às freiras, não sendo imposto às cristãs leigas.

As três religiões abrâmicas tinham a cultura do véu. Com o tempo, o costume do uso foi sendo abandonado por correntes do judaísmo, e entre os cristãos o seu uso acabou restrito a freiras e irmãs. Entre a maioria dos muçulmanos esta cultura resiste. Em países como a Albânia e a Turquia, o uso varia conforme as tradições familiares.

Tanto cristianismo quanto o islamismo são religiões expansionistas, o que significa que ambas buscam expandir o número de fiéis através da conversão. Longe de serem ideologias destrutivas ou xenofóbicas, elas buscam a assimilação e são universalistas.

A julgar que, historicamente, entre os cristãos católicos e protestantes já houveram grandes e violentos conflitos que acabaram posteriormente sendo esquecidos para dar lugar à convivência pacífica sob o princípio do ecumenismo, não é difícil conceber que se possam conciliar as três religiões abrâmicas como outrora foi feito na Espanha moura, durante o período conhecido como La Convivencia.

6 – O que muçulmanos vestem, comem ou fazem não é da nossa conta

É tão simples quanto poderia ser: cada cultura tem seus códigos de etiqueta, sua culinária, sua música e claro, seu código alimentar e de vestuário. O fato de nós ocidentais termos mais liberdade em vestir o que nos convém não indica que há algo no hijab, niqab ou na burqa que os torne intrinsecamente ruins e opressores.

Escoceses usam kilt, árabes usam dishdasha. Problem?

Devemos entender que para a maioria das mulheres muçulmanas, vestir-se do modo como se vestem é normal, digno e belo. Dentro da cultura ocidental, com o regimento das leis, estas mulheres tem o direito de recusar o uso dos mesmos, mas obrigá-las a tirar (como foi feito na França) é uma tirania. Se somos pela liberdade, não podemos jamais admitir que o governo dite o que um cidadão deve ou não deve vestir.


O mesmo vale para a alimentação. Muçulmanos, assim como os judeus, não comem carne de porco porque ela vai contra um código alimentar instituído pela religião e pela tradição. No caso dos judeus, é o kashrut e no caso dos muçulmanos, é o halal. Para os muçulmanos, a carne precisa ser preparada de um modo especial para que possa ser consumida (halal = permitido), do contrário ela não pode ser consumida por um muçulmano (haram = proibido). Isto significa que para atender a um consumidor muçulmano ou judeu, certas regras e padrões culturais devem ser atendidos no preparo das refeições. É um direito do consumidor escolher não consumir os produtos que vão contra a sua crença religiosa, e isso é de fundamental importância.

Por último, mas não menos importante, é a questão da política e da religião. Por mais que as leis dos países islâmicos possam nos ser estranhas (sobretudo naqueles onde a Sharia é a lei), temos que entender que as leis serão estranhas para nós em qualquer sistema político diferente daquele que estamos acostumados.

Nós ocidentais temos padrões ocidentais e leis que seguem escolas de pensamento ocidentais. Os muçulmanos, que são africanos, orientais e asiáticos em sua maioria, não seguem os mesmos padrões que nós. Os sistemas políticos que se desenvolveram nestas culturas está adaptado a elas e foi desenvolvido e mantido por elas. Cabe a elas decidir quando, como e o que mudar.

Amamos a democracia e a liberdade de expressão e culto, e devemos assegurá-la sobretudo aqui nas Américas ou na Europa, mas não temos nem o dever e nem o direito de querer impor nossos sistemas na “casa” dos outros. Contanto que a democracia, o rigor da lei, a liberdade e a propriedade estejam asseguradas no Ocidente – para os muçulmanos que aqui vivem, inclusive – estaremos com nosso dever cumprido. Antes de nos preocuparmos com o que se passa lá, temos que dar especial atenção aos valores que cultivamos aqui: liberdade de culto, liberdade de expressão, liberdade de escolha.

7 – Eles estão entre nós
Na Europa: Dentro da Europa, as tradições islâmicas são encontradas sobretudo em territórios que já estiveram sob administração do Império Otomano, como os balcãs, e no tartaristão (Federação Russa). A península ibérica também já foi islâmica, tendo sido reintegrada à Cristandade durante a Reconquista.

Na Albânia, o congresso muçulmano sediado na capital (Tirana) rompeu com o Califado em 1923, estabelecendo uma nova forma de culto, banindo a poligamia e instituindo o uso do véu para as mulheres em público.

Na Polônia, as tradições sunitas tártaras foram preservadas. Isto levou à formação de uma distinta cultura muçulmana na Europa Central, na qual elementos da ortodoxia muçulmana misturaram-se à tolerância religiosa de uma sociedade relativamente liberal. Os tártaros polacos são considerados um exemplo de sucesso na integração sócio-cultural com a sociedade cristã.

1 – uma pequena mesquita na Polônia. 2 – a grande mesquita Qolşärif em Kazan, capital do Tataristão. 3 – Um casamento tártaro. Os tártaros são um povo majoritariamente muçulmano que vive na Rússia, na Ucrânia e na Polônia.

Entre os europeus, acredita-se que esteja emergindo uma nova ramificação do islã que combina os princípios e deveres desta religião com valores da Europa pós-iluminista como direitos humanos, o estado de direito, a democracia e a igualdade entre homens e mulheres.

Acredita-se que a população muçulmana na Europa hoje seja superior a 53 milhões, mais de 7% da população. Em alguns países europeus esta proporção é ainda maior: Bulgária, Montenegro e Rússia tem entre 10% e 20% de população muçulmana. O Chipre, entre 20% e 30%. Macedônia, entre 30% e 40%, Bósnia e Herzegóvina entre 40% e 50%, na Albânia são entre 80% e 90%, e em Kosovo chega a 95%.

Nos Estados Unidos: Entre os anos de 1880 e 1914, milhares de muçulmanos migraram do Império Otomano para os Estados Unidos, assimilando-se à sociedade. Graças à imigração, a conversão e altas taxas de natalidade, os Estados Unidos viram a sua população muçulmana crescer muito nos séculos XX e XXI. Só em 2005, o número de novos residentes muçulmanos legais nos estados unidos foi de aproximadamente 96.000: mais do que em qualquer ano das duas décadas anteriores.

O seriado “All-American Muslim” foca no dia-a-dia de americanos muçulmanos.

A mais duradoura comunidade muçulmana incorporada à sociedade norte-americana é a dos bósnios, que em 1906 criaram a Džemijetul Hajrije (Jamaat al-Khayriyya), uma organização de serviços sociais para muçulmanos bósnios. Os muçulmanos bósnios também abriram a primeira escola dominical muçulmana com currículos e literatura muçulmana. A primeira organização muçulmana em Nova Iorque, a Sociedade Maometana Americana, foi fundada em 1907 por tártaros Lipka da região de Podlasie (Polônia). Em 1915 foi fundada aquela que provavelmente é a primeira mesquita americana, por muçulmanos albaneses em Biddeford, Maine. Um cemitério muçulmano ainda existe lá. E esta história se arrasta pelo século seguinte.

O número estimado de muçulmanos vivendo nos EUA hoje é de 2,6 milhões – menos de 1% da população.

Centro Islâmico da América em Dearborn, Michigan

No Brasil: A imigração árabe no Brasil tem início com a chegada de imigrantes árabes que começaram a desembarcar no País em fins do século XIX. No início do século XX, esse fluxo imigratório cresceu e passou a se tornar importante. Um fator predominante foi a Primeira Guerra Mundial, que acelerou a imigração de pessoas que viviam no Império Otomano. Outros conflitos que causaram aumento na imigração de muçulmanos foram as guerras no Oriente Médio (Guerra do Líbano, conflitos entre árabes e israelenses, conflitos no Iraque).

Porém, a imigração de muçulmanos para o Brasil é muito anterior. Muitos dos negros escravizados na África e trazidos para o Brasil já eram muçulmanos. A chamada Revolta dos Malês de 24 a 25 de janeiro de 1835, ocorrida na cidade de Salvador, foi uma sublevação de escravos africanos de religião islâmica. “Malê” era o termo que se utilizava para referir-se aos escravos muçulmanos.

Atualmente, 15 milhões de brasileiros possuem ascendência árabe. A maioria é de origem libanesa, enquanto o restante é, predominantemente, de origem síria. O Islã no Brasil conta com 27.239 seguidores, segundo dados do censo demográfico de 2000 do IBGE. Porém, algumas instituições islâmicas brasileiras consideram que o número de seguidores é muito superior a isso. A Federação Islâmica Brasileira defende que há cerca de 1,5 milhão de fiéis do Islã no país.

Mesquita Omar Ibn Al-Khattab, em Foz do Iguaçu, Paraná. A cidade abriga a maior comunidade muçulmana do Brasil.

Na cidade de São Paulo existem cerca de dez mesquitas, dentre as quais a Mesquita Brasil, na Avenida do Estado (centro da cidade) – cujas obras de construção começaram em 1929 e que foi a primeira mesquita edificada na América Latina.

No mundo: Somos praticamente 7 bilhões. Cristãos são entre 1,9 e 2,1 bilhões – ou seja, de 29% a 32% da população do mundo. Os muçulmanos são cerca de 1,57 bilhões – de 20 a 25%. Com toda essa gente, é melhor arranjar uma maneira de conviver. Para isto, existe o que chamamos de diálogo inter-religioso. Com relação à Igreja Católica, já existe uma iniciativa de diálogo entre católicos e muçulmanos: em 2008 reuniram-se no Vaticano autoridades religiosas católicas e islâmicas para um diálogo inter-religioso, e há uma iniciativa para que esta cúpula seja permanente. A primeira cúpula produziu um documento que afirma um compromisso mútuo de incentivo à tolerância. O mesmo pode ser lido em inglês aqui.

Não fuja do conflito: Talvez você tenha vizinhos muçulmanos, ou já os tenha visto caminhando nas ruas da sua cidade. É possível que você passe pela frente de centros muçulmanos sem nem perceber. Para vencer as barreiras impostas pela caricaturização típica da propaganda de guerra com que somos bombardeados diariamente, é necessário conhecer “o inimigo”. Ouse ler o Corão, permita-se conversar com muçulmanos, visite um centro islâmico. Você verá que mais do que diferenças, há muitas semelhanças entre você e eles: a valorização da família, um senso de responsabilidade, um desejo forte de ascender na vida honestamente, a dedicação aos estudos, etc. Encerro este artigo com uma citação de Chesterton:

A Bíblia nos manda amar nosso próximo, e também nossos inimigos; provavelmente porque eles são, geralmente, a mesma pessoa.

– G. K. Chesterton