O Comunismo, por Plínio Correa de Oliveira

Presentinho para os católicos e católicas que leem o blog. Este artigo foi escrito por Plínio Correia de Oliveira há mais de 60 anos – continua atual! – e trata de três aspectos (o crime, a propriedade e a família) sob duas óticas (a cristã e a comunista). Plínio faz uma crítica contundente das falhas do comunismo, explicando porque o mesmo necessita da violência como instrumento político, ao mesmo tempo que contrapõe com a alternativa da doutrina católica. Boa leitura!

por Plínio Correa de Oliveira. Legionário, N.º 688, 14 de outubro de 1945

Como vimos atrás, o comunista se sacrifica pela aceleração de uma felicidade futura que a humanidade alcançará pelo desenvolvimento indefinido do progresso, e que trará consigo a isenção de qualquer sofrimento, de todos os defeitos e quiçá da própria morte. Só será ela retardada pelo mal, não pelo mal moral que o comunismo nega, mas pelo único mal que reconhece: o erro técnico.

Para o comunismo a noção de crime perde sua razão de ser se esse crime não teve conseqüência perturbadora do progresso da evolução da humanidade para a felicidade. Assim considerados, muitos atos de culposa criminalidade deixam de o ser, porque as conseqüências práticas não apareceram em sociedade prejudicando-a. Somente a utilidade das coisas para o progresso humano é que as torna boas ou más.

Daí o dispor o Estado dos particulares, de suas aptidões e capacidades, com um despotismo tirânico. Senão, vejamos. Um casal comunista é enviado pelo Estado a uma região do país onde há grande atraso cultural, com o encargo de lá fazer chegar a instrução, a arte, em suma, a cultura suficiente para um povo civilizado. Aquela peça da engrenagem universal obedece o mandato imperioso do Estado, embora que com sacrifício. O esmorecimento porém não se faz esperar porque o homem se pergunta, no íntimo, da causa de se esforçar, uma vez que irá participar de qualquer maneira da felicidade futura. E mais dia menos dia nada significam para quem vai gozar para sempre, prescindiu da lei moral, prevalecendo-se de motivos humanos.

Comparemos agora alguns dos diversos motivos que levam o homem a obedecer e analisemos os processos de julgamento comunista e católico. Suponhamos que um ébrio nos injurie e nos ameace e nós dele nos livramos, seja de qualquer maneira. Amanhã o mesmo homem se nos apresenta dentro da farda de guarda-civil. Respeita-lo-emos. Por que? Por qual dos seguintes motivos: por medo do castigo? porque se assim não procedermos, toda a comunidade humana também terá o direito de assim proceder? porque não haverá mais ordem nem paz? porque eu me prejudicarei e então é melhor obedecer…?

Ora, baseado no primeiro motivo, eu poderei desobedecer às escondidas, porque ignorada a desobediência, não haverá castigo. E cessando assim o motivo da minha obediência, desobedecerei sem receio.

A esse homem que fraudou, que desobedeceu, que enganou e que, por via dos acontecimentos, a conseqüência ou as conseqüências de seu mau ato não apareceram, o comunista nada aponta de erro, pois não foi prejudicado o andamento da sociedade para a época da felicidade. O católico porém diria: tu não podes proceder assim pois que não te é lícito; diante de Deus tu és responsável pelo crime que praticaste.

As maneiras de agir são falhas porque prescindem de Deus. De acordo com elas o homem procederá bem quando estiver sob a vigilância policial, não reconhecendo, como no catolicismo, uma autoridade primeira e divina donde procedem as demais autoridades constituídas. Na verdade, se assim não fora, por que obedecer a um meu igual? É a grande incoerência comunista, que obriga à atividade “bastante intensa” da polícia e que fez Churchill exclamar: “O socialismo sem a polícia é impossível”.

Provando essa afirmação, temos patente a existência da GPU e da Gestapo, dos campos de concentração e de redes policiais secretas, que “eliminam” da face terráquea os elementos que atrasaram a marcha do universo para a felicidade.

Esse modo de agir é fatal ao comunismo porque nega o direito de propriedade, negando o direito privado e, como prescinde de Deus e não admite a lei moral por Ele infundida, só pode dispor da força bruta para se implantar.

Capital e trabalho: conceito católico

A propriedade existe por causa da própria natureza das coisas. A propriedade é pois uma instituição desejada por Deus. Fazendo dessa mesma instituição obra humana é que chegam os homens aos abusos que podemos constatar na sociedade. De fato, só pode haver justiça na divisão de bens quando ela se basear no direito da propriedade. Isto posto, notemos que esse direito comporta limitações. Deus infinitamente sábio e bom deu aos homens o direito de constituir propriedade privada. Ora, os bens criados devem ser bastante para todos os homens. Conclusão: jamais a organização deve ser feita de modo a não se chegar a uma divisão perfeita. Entendemos por necessidades humanas a fome, a sede etc., resultando daí que o homem não só tem o direito de comer mas de se alimentar suficientemente; sua roupa não deve ser um abrigo qualquer contra o frio mas uma toillete decente de acordo com a sociedade a que faz parte. Estão contra os princípios católicos os ricos que se não desfazem do supérfluo em favor dos que morrem de frio ou de fome. Sempre oportunas nesse caso são as palavras de Jesus Cristo quando afirma que a tais ricos sem justiça, sem misericórdia, a esses serão fechadas as portas do paraíso. Pio XI insiste em que o operariado deve ter um salário suficiente, justo e familiar. Se assim acontecer, por sua vez não tolera a Igreja que um pobre que recebe justamente sua quota cobice riquezas impossíveis. Aquele que tendo suas necessidades acudidas invejar a riqueza alheia, peca contra o décimo mandamento.

Tudo quanto for igualdade fora das normas acima transcritas são terríveis ilusões. Partidária da suficiência de bens para todos, segundo sua categoria social, se levanta a Igreja contra os aventureiros que abusam da justa indignação dos miseráveis, e procuram fazer deles inimigos de toda a ordem e hierarquia social.

Visto que foi agora algo sobre o direito de propriedade, passemos a encarar um ponto importante que se liga estreitamente com as péssimas conseqüências que trazem em seu bojo as teorias marxistas.

* * *

A Família: já dissemos sobre o direito da família e iremos considerar a questão do divórcio, muito em voga em nossos dias, e que não se confunde com o desquite.

Será preferível a separação quando não houver felicidade? Será sempre vantajoso o amor livre? Para responder a esta interrogação que tão insistentemente nos fazem tantos e tantos interessados partiremos do princípio de São Tomás: todas as coisas são ditas perfeitas quando preenchem inteiramente o fim para o qual foram criadas. Subordinaremos o processo de julgamento do matrimônio a esta afirmação tomista e então o casamento preencherá o fim para o qual foi instituído, se tiver a glória da fecundidade. Há ainda em segundo plano um anseio para uma felicidade que consistirá em se achar um ente que nos compreenda e nos ame: o homem encontrando na mulher o carinho, a delicadeza, a virtude; e a mulher a força, o amparo, o sustento e também a virtude naquele que a conduziu perante o altar do Senhor e lhe jurou fidelidade até à morte. Mentem e pervertem os romances que buscando linguagem atrativa, e que procuram desviar o fim para o qual o casamento foi criado: a fecundidade, estabelecendo a felicidade em outra coisa que não a estabilidade de correspondência das legítimas satisfações de ambas as partes.

E nós nos colocamos agora diante do problema de como conseguir uma união duradoura e feliz. Não se põe dúvida no caso de uma árvore boa dar bons frutos e o mesmo devemos pensar de um casamento que só poderá trazer felicidade se precedido e firmado em sólidos princípios de moral e religião. O enlace que repousa nesta base estará pronto para enfrentar os desgastes do físico com o apontar da idade madura, pois a beleza embora possa aparecer não é a condição para a felicidade. O futuro pai de família atingirá essa formação quando praticar o que exige de sua noiva, ou em termos bem claros no dia em que souber ser puro.

Quando o valor da pureza puder ser admitido por muitas mentalidades que dela escarnecem, e mais ainda, quando for ela posta em exercício, podemos descansar quanto ao perigo do divórcio, porque deixará ele de existir. A sensualidade conduz o homem a ser infiel à sua esposa, prejudicando-se a si, a ela e aos filhos. Se partir de ambas as partes, será criado um ambiente de insegurança, de mentira, de fingimento, e aquele lar jamais será feliz se não houver uma retratação de atitudes de ambas as partes. Sobre ele virá a dissolução, o divórcio, querendo separar o que Deus uniu para sempre; divórcio esse que é a prova eloqüente da fraqueza do homem e não remédio, como sugerem muitos que se têm na conta de vítimas de um casamento fracassado.

É diante desse corrosivo da sociedadefruto fatal do comunismo e diante do próprio comunismo que deve o católico convicto erguer-se com desassombro, pronunciando as palavras que Cristo lhe deixou: Ego sum! Eu sou católico e não quero pactuar com uma seita que vai de encontro com os princípios essenciais da Igreja. Deposito toda minha confiança na Barca de Pedro que jamais desaparecerá, à sombra da Cruz, donde dimanam todos os frutos da Revelação e, nessa hora de dúvida para os destinos de nossa pátria, eu me dirijo a Jesus Cristo, Nosso Rei, rogando por que o Brasil seja sempre a Terra de Santa Cruz!

Versão digital do artigo disponível no site de Plínio Correa de Oliveira.

O sucesso de Uganda contra a AIDS, explicado por uma doutora africana

Traduzido e adaptado para o português do Brasil por Renan Felipe dos Santos. Confira o original em espanhol aqui.

Por volta de 1990 em Uganda, a prevalência estimada da AIDS alcançou um máximo de 20% da população. Agora está entre 6% e 7%, e Uganda se converteu em um modelo de prevenção da AIDS para os demais países africanos.

Angelina Kakooza-Mwesige

Angelina Kakooza-Mwesige, pediatra do hospital Mulago, o maior do país, conta em uma entrevista (“MercatorNet”, 18-04-2006) o que houve em Uganda. Sua experiência diz que a solução não é mais preservativos, mas mudanças na conduta sexual, a luta contra a pobreza e a melhora do status social das mulheres.

— Uganda tem um êxito notável na luta contra a AIDS. Quais foram os principais fatores de sucesso?

— Em primeiro lugar, temos contado com a coragem e o empenho do presidente, Yoweri Museveni, cuja franqueza no debate sobre a AIDS e os comportamentos sexuais contribuiu para que a população entendesse a magnitude do problema. O resultado é que se optou por conseguir que a população mudasse seu comportamento para evitar o risco, e não só reduzí-lo, como fazem os programas de prevenção centrados na difusão de preservativos.

Em vez de confiar somente na camisinha, os ugandeses investiram na educação sexual para hábitos mais seguros.

A mensagem sobre a mudança de comportamento foi muito clara e prática: A (abstinence – abstinência), B (be faithful – seja fiel) e, se não se vive o anterior, C (condom – camisinha). Para a Igreja católica, o C indica Caráter, formação do caráter. O resultado foi que a campanha ABC produziu uma mudança de conduta: pessoas sexualmente ativas decidiram ser fiéis a um só parceiro e outras resolveram postergar o começo das relações sexuais. Segundo o relatório “Uganda’s Demographic and Health Survey 2000-2004”, 93% dos ugandeses mudou seu comportamento sexual para evitar a AIDS.

Na contramão do que ditam certos “intelectuais” na Europa e nos EUA, os ugandeses propagaram a castidade como um valor para combater a disseminação da DST. O cartaz diz: “diga NÃO ao sexo precoce, por um futuro mais brilhante”.

Há outros aspectos importantes da campanha: começou-se a incluir educação preventiva contra AIDS nas escolas primárias, antes que as crianças iniciassem a atividade sexual; os líderes religiosos colocaram a disposição suas associações para difundir a campanha; as pessoas infectadas participaram em atividades de prevenção, etc.

Informação, educação, formação. Preparando a população para aceitar comportamentos sexuais mais seguros, os ugandeses conseguiram combater a AIDS e reduzir a prevalência da doença de 20% para 7%.

O objetivo básico era difundir medo da doença, que é realmente terrível, para que as pessoas refletissem sobre o risco de ter certos comportamentos e se motivassem a mudar.

Ao mesmo tempo, começamos a lutar contra a estigmatização das pessoas infectadas porque isso lhes privava das possibilidades de tratamentos e cuidados, e contribuía a que disseminassem a doença. Temos trabalhado muito para sustituir a negação pela compreensão.

Mais do que mensagens vazias sobre farra carnavalesca responsável, os ugandeses combateram a AIDS de maneira corajosa: defenderam com todas as letras a fidelidade entre casais.

Também tem sido muito importante o avanço social das mulheres e, claro, a melhora no acesso aos antirretrovirais.

— Os experts ocidentais não tem muita fé na capacidade dos jovens para ser castos e fiéis. Foi muito difícil para que os jovens ugandeses levassem esta mensagem a sério?

— Sempre é difícil de início difundir este discurso entre os jovens. Muitos pensam que é impossível. De qualquer forma, uma vez que comprovam a verdade da menssagem e suas vantagens, se converten em seus firmes defensores e a apoian entre seus colegas. Existem vários grupos de jovens, como o Youth Alive e o Ma-Play, que estão convencidos da mensagem, a difundem entre seus companheiros e tratam de ajudá-los a levá-la a cabo.

— Há dificuldades provocadas pelo status da mulher no país? A poligamia em especial, é um problema?

— Sim, existem muitos problemas nesse âmbito. Ainda há uma desigualdade de gênero que subordina os direitos da mulher aos dos homens nas relações sexuais. Muitas mulheres são dependentes social e economicamente dos homens, e algumas não tem a capacidade de dizer “não” a um marido infiel. A poligamia é um problema real. Cerca de 32% das ugandesas vivem em uniões polígamas.

— A pobreza é um grande obstáculo para mudar o comportamento sexual das pessoas?

— Fundamental. Algumas adolescentes podem começar a ter relações sexuais para comprar certas coisas ou para sentirem-se aceitas em atividades que lhes permitam fazer parte do grupo de amigos. Alguns pais dão suas filhas em matrimônio para conseguir um dote que lhes permita fazer frente às necessidades da família. Algumas mulheres que não estão casadas são viúvas e perdem o emprego, podem se ver na necessidade de trocar sexo por dinheiro, para comprar roupas e alimentos ou pagar o colégio para os filhos.