A Argentina, tentando diminuir importações e aumentar exportações, adotou algumas medidas protecionistas recentemente. Porém, incrivelmente para a surpresa de alguns, isso não funcionou muito bem e o déficit do primeiro trimestre deste ano de 2012 aumentou em relação ao último de 2011, mesmo após medidas contra importações.
Uma parte significativa desse déficit existe por causa da importação de recursos naturais como petróleo. E como o pensamento econômico do governo argentino é nacional-fascista, as medidas encontradas para solucionar os problemas são mais intervenções e protecionismos.
O setor petrolífero é, geralmente, extremamente regulamentado e burocratizado em diversos países. O resultado disso tende a ser, evidentemente, monopólios ou oligopólios que, com o aval do governo, irão trabalhar com lucros fáceis e sem concorrência. Com o inevitável atraso que isso irá trazer, governos não satisfeitos cobram por mais investimentos, por mais incoerente que isso possa ser, já que primeiro é permitido vida fácil para depois vir a cobrança pela vida fácil.
Sempre é importante salientar a diferença entre capitalismo de livre mercado e capitalismo de estado. Privatizar (e apenas privatizar) é fazer o serviço pela metade. Uma das grandes virtudes que um mercado capitalista de verdade tem é a livre concorrência. Com a livre concorrência, qualquer um que tenha capital suficiente para tal pode abrir um negócio para tentar ganhar um mercado, e isso será ainda mais importante quando o(s) atual(is) líder(es) do mercado não estiver(em) fornecendo um bem ou um serviço de forma satisfatória. Quando algum governo decide proteger determinadas empresas (algo que ocorre constantemente no setor petrolífero mundo a fora) essa virtude é eliminada. Não é (ou pelo menos não deveria ser) difícil prever que após essa eliminação o desenvolvimento será atravancado.
Então, o governo argentino decidiu seguir ainda mais na linha intervencionista nacionalizando uma empresa do setor petrolífero, alegando baixos investimentos. Alguns analistas e representantes da Repsol argumentaram dizendo que o governo argentino atravancava mais investimentos com intervenções e controle de preços, o que é de fato verdadeiro.
Para piorar, depois de tudo isso, Silvia Merega, a diretora de Assuntos Ambientais da Chancelaria, disse na Rio+20 que a Argentina irá se opor ainda mais aos investimentos externos no setor petrolífero. Invocou a divergência argentina em relação às Ilhas Malvinas, alegando que elas fazem parte da soberania nacional do país e, se baseando em um princípio da Eco-92 (em que cada país tem soberania sobre seus recursos), disse que quem tem que ter soberania sobre os recursos é a Argentina e isso torna legítimas as nacionalizações.
Em suas palavras, ela disse que “é também com esta ideia que rejeitamos as atividades unilaterais britânicas nas ilhas Malvinas, que incluem a exploração de recursos renováveis e não renováveis”. Oras, se não querem que britânicos contribuam com exploração de recursos, como vão aumentar os necessários investimentos? Querem delegar o petróleo nacional a uma empresa estatal, se tornando refém do monopólio? A argumentação primária utilizada para a nacionalização era a falta de investimentos causada graças à monopolização, oras o próprio governo está monopolizando novamente o setor, a diferença é que agora a questão será monopólio estatal e não privado.
O Japão, país cerca de sete vezes menor que a Argentina, tem três empresas privadas trabalhando no setor petrolífero. A JAPEX, empresa que foi privatizada em 1970 (ainda existem 34% sob o governo), explora petróleo mundo a fora, incluindo operações no Canadá e em diversos outros lugares do mundo, com escritórios em Pequim, Londres, Jacarta, Houston e Dubai. Os Estados Unidos têm diversas empresas privadas no setor petrolífero, e mesmo assim a JAPEX está envolvida em projetos lá. O Canadá tem na cidade de Calgary a sede de diversas empresas de petróleo, e mesmo assim a JAPEX tem diversos trabalhos no Canadá. Qual o problema nisso? Será que os canadenses se sentem mal com uma empresa japonesa (além das diversas nacionais) explorando petróleo? E os americanos, querem expurgar empresas estrangeiras que competem em território nacional?
Algo que poderia até ser utilizado para argumentar é que empresas como a JAPEX mandam alguns lucros para o exterior. Isso acontece e é uma maravilha, diga-se de passagem. Se a empresa, mesmo em um ambiente concorrencial, concorrendo com diversas outras, consegue lucrar, quer dizer que está desempenhando bem seu serviço. E qual seria o provável cenário inverso? Seria um empresa estatal em um ambiente controlado pelo estado, ou talvez uma privada, o que daria quase que na mesma dada a situação. O Brasil tem uma gigante no petróleo, ótimo. Os EUA têm não só uma gigante privada, mas sim diversas grandes empresas privadas. Por exemplo, a Petrobrás tinha cerca de 80 mil funcionários em 2010, enquanto a ExxonMobil tinha cerca de 83 mil no mesmo ano. Só que os EUA não têm só a ExxonMobil, existe também a Chevron, que também em 2010 empregava cerca de 60 mil funcionários, fora as outras dezenas de empresas, que empregam outros milhares de funcionários.
Quanto ao protecionismo argentino em relação às importações de bens que não estão diretamente ligados ao setor energético, existe uma probabilidade gigantesca de que o custo de vida aumente, já que a produção nacional está se mostrando improdutiva se comparada ao mundo e o cidadão não poderá recorrer de forma satisfatória aos importados, que seriam uma opção caso não fossem vistos como inimigos pelo governo. Todos saem perdendo (principalmente os consumidores), menos os burocratas do estado e aqueles que têm ligações com o mesmo.