Conservadorismo verdadeiro vs. Neoconservadorismo*

Artigo original por Nelson Hutberg. Tradução de Rodrigo Viana.

Introdução do tradutor
Embora este artigo trate do cenário político americano, ele serve muito bem como uma lição para nós brasileiros. Esclarece posições políticas que para muitos soa duvidosa e opositora (o que na prática pode não soar assim) como também mostra quem são os reais opositores. Indo direto ao ponto, é necessário saber que o conservadorismo anglo-saxão não é o mesmo que o conservadorismo continental europeu. Do mesmo modo que no anglo-saxão, o conservadorismo americano não é exatamente o mesmo que o britânico. E entender tudo isso é de suma importância. Porém este artigo não fala sobre isso. Deixo tais questões para uma outra oportunidade. Enfim, com a ascensão do movimento denominado pela mídia de “Nova Direita”, grupos de diferentes tendências começam a emergir e fazer barulho no cenário político nacional. Como toda ideia feita por humanos, naturalmente aparece divergências de todo o tipo. Tentando mostrar uma luz a ser
norteada, este artigo visa querer “separar o joio do trigo” desse movimento a fim de que ele cresça de modo saudável. É preciso entender quem são realmente aliados e opositores. Mesmo num movimento que está sendo germinado, se faz mais do que necessário conhecer cada pensamento e sua história. Por isso, espero que este artigo sirva como uma admoestação para que pensamentos torpes importados ditos por certos grupos ou mentores não sejam realmente postos em nossa sociedade. De ideias bizarras já estamos saturados. E bem saturados.

Conservadorismo verdadeiro vs. Neoconservadorismo

O falecido William Simon[1], ex-secretário do tesouro no governo Ford[2], não era seu funcionário do governo como de costume. Como evidenciam suas memórias de 1978 intitulada A Time for Truth, tornou-se um dos livros mais influenciáveis nos últimos 50 anos para esclarecer em prosa vigorosa o governamentalismo que aflige os EUA. O governo federal tem estado, por muitas décadas até agora, corrompendo nosso país como uma gangrena devastando uma perna ferida, e Simon capturou magistralmente o ideológico do por que e do como desta doença.

Simon adorava o “sistema da liberdade natural” de Adam Smith[3] que construiu a cultura da liberdade que nós conhecemos como uma nação antes de 1913[4]. Tão eloquente quanto o tomo de seu livro foi, contudo, continha um erro profundo. Foi um erro o grave desencaminhar no governo Reagan[5], o Partido Republicano[6], e o renascimento capitalista lançado por intelectuais libertários pós-guerra.

William Simon abraçou a noção de que o crescente movimento neoconservador, encabeçado por Irving Kristol[7] no final da década de 70, poderia tornar um aliado valoroso para restaurar a liberdade e um governo constitucional para os EUA. Simon foi brilhante, mas nesta questão falhou em ver “lobos vestidos de ovelhas”, pessoal de Kristol e sua turma coletivista de estudiosos que o havia reunido em torno dele – Patrick Moynihan[8], Norman Podhoretz[9], Daniel Bell[10], Nathan Glazer[11], e Sidney Hook[12] (com o apreço Richard Perle[13], Paul Wolfowitz[14], Bill Kristol[15], William Bennett[16], e George Will[17] tão logo a seguir).

Como Simon colocou, estes distintos intelectuais “ainda são intervencionistas em um grau que eu mesmo não aprovo, mas eles compreenderam a importância do capitalismo[18] estão batalhando alguns aspectos despóticos do igualitarismo e podem ser contados como aliados em certas frentes cruciais da luta pela liberdade individual” [A Time For Truth, 1978, p. 227.]

Em todos estes três pontos, Simon não poderia ter estado mais errado. Neoconservadores nunca compreenderam a importância do capitalismo. Se tivessem, eles entenderiam que programas intervencionistas arrogantes que se apegam nos dias iniciais do New Deal[19] são anátemas ao capitalismo. Ademais, eles e seus acólitos não estão batalhando os aspectos despóticos do igualitarismo sem qualquer coisa substantiva, somente com um falso apoio. Irving Kristol tem sido veemente apoiador de ações afirmativas e cotas sexuais e raciais durante anos, enquanto guiando seus seguidores sempre em direção a uma atenciosa obediência para a agenda das “liberdades civis” da esquerda.

E o mais errôneo de tudo era a pretensão de Simon de que neoconservadores “pode se contar como aliados” na “luta pela liberdade individual”. Do contrário, eles provaram nas duas últimas décadas ser precisamente o oposto entusiasticamente defendendo a expansão indiscriminada do estado assistencialista/ belicista a cada vez e oportunidade.

Raízes ideológicas dos neocons

Mas o que mais devemos esperar. Kristol e a turma original de intelectuais neocon foram seguidores do comunista Leon Trotsky[20] em suas juventudes durante as décadas de 30 e 40. Suas raízes ideológicas eram socialistas por completo. Eles absorveram a Revolução Bolchevique de 1917[21] de Lenin[22] e viram o socialismo como um ideal que precisava ser espalhado ao Ocidente. Enquanto neoconservadores modificaram as raízes leninistas de sua ideologia em favor da metodologia gradualista dos socialistas fabianos ingleses[23], eles ainda são defensores inflexíveis do coletivismo para os EUA. Eles são completamente socialistas? Não, mas suas propostas políticas são sempre em favor de uma rígida expansão governamental, domesticamente e internacionalmente.

O paradigma que deram suas vidas baseia-se sobre um mega-estado centralizado, administrando de Washington a sociedade americana. No ponto de vista de Kristol, a visão de livre mercado dos Pais Fundadores[24] era uma “fantasia doutrinária”. Aderir a isso hoje é uma tolice anacrônica, deve ser eliminada de nossa consciência coletiva. Todos os neoconservadores pensam que os princípios morais que fundamentam a visão política dos Pais Fundadores são um impedimento para uma sociedade estável. Portanto a adesão por tais princípios morais deve ser descartado em favor do pragmatismo amoral.

Em suas visões, os princípios dos direitos individuais e governo limitado são inexequíveis. Maquiavel[25] e Platão[26] tiveram a melhor ideia. Pessoas precisam ser manipuladamente lideradas por elites estatistas – via diálogo aberto e democracia se possível, mas por engano, coerção e conveniência quando necessário. Por exemplo, Kristol fala de modo muito favorável sobre a era da Lei Seca[27] da década de 20, e entusiasticamente aprova censuras. “Se você se preocupa pela qualidade de vida e nossa democracia americana, então deve ser a favor da censura” ele afirma. [Citado por Daniel Shapiro, “The Neoconservatives”, Libertarian Review, January-February, 1978, p. 30.]

Enquanto neoconservadores sempre estavam na esquerda política e fortemente alinhados com o estatismo durante as décadas de 40 e 50, eles ficaram horrorizados com a rebelião da Nova Esquerda[28] da década de 60 e suas intimidações ralés do grupo. Consequentemente com a nomeação de George McGovern[29] do Partido Democrata[30] em 1972, neoconservadores começaram a migrar para o Partido Republicano em busca de sanidade. Sendo bons leninistas de coração, eles souberam como disfarçar a si mesmos com prestidigitação verbal. Adotaram o nome de neo-conservador para se distanciarem do que perceberam como falha do esquerdismo, mas também orientar claramente do conservadorismo libertário que inspirou a direita política. Eles se apresentaram como o que eles esperaram que se tornaria um novo conservador de meio termo cujo o mega-estado de Franklin Roosevelt[31] e Lyndon Johnson[32] seria aceito como progressista e adequado.

Conservadores verdadeiros, corrida ao poder

Infelizmente a intelligentsia do conservadorismo estabelecido absorveu o disfarce leninista dos neocons e seu pseudo apoio do capitalismo. Fechando seus próprios olhos para as perigosas raízes ideológicas dos neocons e suas adoções abertas ao mega estatismo, conservadores já consagrados viram somente o que eles queriam ver em tal fusão – uma chance no poder político de Washington. Visto que os grandes princípios do movimento conservador tiveram que ser descartados para acomodar estes altos proeminentes ex-esquerdistas, esta ausência teve de ser suprimida em suas mentes. Mas que assim seja, para a obtenção de poder real que estava acenando. Conservadores tinham estado num deserto por muito tempo e ansiavam por um governo em Washington.

Gregos sinistros estavam, deste modo, tentando obter uma entrada em Troia e o livro de William Simon os ajudou muito. Quando ele convidou todos os defensores da liberdade na direita para acolher estes “ilustres intelectuais” em seus campos, o prestígio de sua carreira e a eloquência de sua mensagem acalmou o movimento conservador em uma decisão malfadada. Depois que Reagan foi eleito em 1980, seus conselheiros abriram as portas e trouxeram dezenas de maquiavélicos de Kristol nos círculos de poder de Washington para administrar o país nos próximos oito anos. Bush “pai”[33] seguiu o exemplo em 1989 e o plano foi colocado para o golpe final, que era pra realizar com o Bush “filho”[34], que forçou os EUA no desejo de buscar a hegemonia mundial. Até o ano de 2000, os neocons tinham vermifugado seus caminhos até os lugares mais altos. Tornaram influentes no Wall Street Journal, The Washington Times, The Weekly Standart, Fox News, no American Enterprise Institute, Project for the New America Century e uma enorme quantidade de outros think tanks e instituições de mídia. Washington tinha deixado de ser uma cidade predominantemente esquerdista, foi agora governada igualmente por neocons. Mesmo que o bastião do esquerdismo, Washington Post, cordialmente aprovou especialistas neoconservadores tal como Charles Krauthammer[35] e seu cunho ultranacionalista nestas questões.

O movimento conservador original estava muito longe do neoconservadorismo. Ele surgiu de seus defensores da Republica em oposição ao New Deal na década de 30, apoiando a livre iniciativa no país e o não-intervencionismo no exterior. Mas na metade da década de 60 tinha sido adulterado de maneira ruim pela política externa belicista do National Review[36] e a falta exasperada de suporte principal face ao estatismo interno. Como resultado, a infiltração de neocons nos anos 70 foi capaz de efetuar um grande dano na transformação política que forçou o verdadeiro conservadorismo ao exílio. O movimento conservador foi sequestrado pelos próprios inimigos que foi formado pra lutar – socialistas fabianos, apoiadores do New Deal, assistencialistas, progressistas, globalistas, intervencionistas, militaristas, tecnocratas e todo o resto da laia coletivista que foi assiduamente trabalhando para destruir a Republica de Estados dos Pais Fundadores.

Muitos conservadores verdadeiros falharam em compreender que uma vez que a adesão ao princípio correto foi abandonada em busca do poder, seria quase impossível recuperar a grandiosidade da verdade e justiça para o qual já tinham aderidos. O poder era um narcótico terrível e viciante. Invariavelmente corrompe o senso moral e dissolve-se um desejo para a retidão.

A República pode ser restaurada?

A premente questão agora é: o que deve ser feito em face a esta tragédia? Pode o original, o movimento conservador verdadeiro ser reacendido – o movimento para restaurar a república que iniciou nas décadas de 40 e 50 por conservadores constitucionais e libertários como Richard Weaver[37], Clyde Wilson[38], Ludwig von Mises[39], Friedrich Hayek[40] e Milton Friedman[41]?

Sim, certamente pode ser reacendido. Neoconservadores não são os líderes de nossa causa jeffersoniana[42]. As causas deles são de uma filosofia estrangeira de autoritarismo importado em nossas bordas por coletivistas europeus como Leo Strauss[43] e ex-marxistas como James Burnham[44]. O verdadeiro movimento conservador foi, desde o início, um misto de libertarianismo político, conservadorismo cultural, não-intervencionismo externo que nos foi legado pelos Pais Fundadores. Sem dúvida alguma não era um misto socialista/ fascista de maquiavelismo, que os neoconservadores estão empurrando goela abaixo dos americanos hoje em dia.

Nosso primeiro passo em direção a restauração deve ser revisitar o que é o verdadeiro conservadorismo. Richard Weaver falou dele deste modo:

“É de minha opinião que um conservador é realista, que acredita que há uma estrutura de realidade independente da sua própria vontade e desejo. Ele acredita que há uma criação do qual estava aqui antes dele, pelo qual existe agora não apenas por seu consentimento tácito, e do qual estará aqui depois que ele se for.

Esta estrutura consiste não meramente do grande mundo físico mas também de muitas leis, princípio e regulamentos que controla o comportamento humano. Embora esta realidade seja independente do indivíduo, não é hostil a ele. É na verdade submissa a ele em vários modos, mas não pode ser mudado radicalmente e arbitrariamente. Esse é o ponto básico. O conservador afirma que o homem neste mundo não pode fazer de sua vontade a sua lei sem respeito algum aos limites e à natureza fixa das coisas.” [“Conservatism and Libertarianism: The Common Ground,” Life Without Prejudice, 1965, pp. 158-159.]

Como Weaver enxergaria os neoconservadores de hoje? Ele sem dúvida os enxergaria com o mesmo desprezo mantido pelos esquerdistas radicais de sua época que estavam tentando fazer de suas vontade suas leis:

“Há uma diferença entre tentar reformar seus semelhantes pelos processos normais de demonstração lógica, recurso e persuasão moral – há uma diferença entre isto e passando por cima para usar força ou coação. O primeiro é algo que envolve todos nós em todos os dias. O último é o que faz o radical moderno perigoso e, talvez, em um sentido demente.” [Ibid, p. 161.]

Weaver era o arquétipo do conservador libertário e entendeu muito bem o terreno comum filosófico entre ambos os movimentos. Ele era um extremo constitucionalista porque uma constituição previa um “código estabelecido de liberdade para o indivíduo”. [Ibid, p. 163.]

Retorno à razão e a Lei Natural

Acadêmicos e especialistas estatistas de hoje, claro, zombam a um retorno ao governo constitucional estrito e um “código estabelecido de liberdade para o indivíduo”. Eles consideram uma saudosa nostalgia embrulhado numa irrelevância ingênua de seres humanos que resistem ao progresso. Mas eles não poderiam ir mais longe da verdade. A adoção de um pregador religioso pela Regra de Ouro[45] é um anacronismo tolo? A Lei Física da Gravidade significava apenas para aqueles anteriores ao século 20? Dificilmente não! E o grande documento político do homem não é pra ser tratado como um modismo cultural. Nossa constituição é baseada sob leis morais fundamentais tão imutáveis como a Regra de Ouro e a Lei da Gravidade. Sua restauração para a vida americana é vitalmente tão importante quanto o retorno da razão foi para a metafísica na Europa medieval. Nossa constituição é a personificação da lei racional transcendente. Somente por vir a agarrar a sua natureza transcende e racionalidade, os EUA podem endireitar a si mesmo e reconstruir as bases de uma sociedade livre. Isso, os neoconservadores são incapazes de fazerem, por eles estarem presos no autoritarismo socialista falido de suas juventudes e irão se agarrar com seus paradigmas irracionais para seus leitos de morte.

Isto significa que todos aqueles que no movimento conservador que sinceramente desejam liberdade para nossa nação devem fazer um ruptura inequívoca do neo-conservadorismo e retornar ao verdadeiro conservadorismo – o conservadorismo libertário dos Pais Fundadores. Eles devem começar a estabelecer eles próprios como uma força de oposição genuína ao estatismo, ao invés de imitar filosofias maquiavélicas e tirânicas em busca de poderes momentâneos.

Verdadeiros conservadores devem estar veementemente em oposição a coletivização dos EUA que está sendo promovido pelos gostos de Bill Kristol, William Bennett, George Will, e Bill Buckley[46]. Conservadores verdadeiros devem, mais uma vez, tomar suas posições sobre os grandes conceitos de “governo limitado” e “lei objetiva”. Isto significa uma vontade para defender a liberdade em todo o mercado. E mais importante, significa uma vontade em denunciar privilégios cedidos pelo governo a grupos de interesse especiais em ambos os lados, da direita ou esquerda. Significa um apoio em completa escala de um governo constitucional estritamente limitado que ceda favor a ninguém, rico ou pobre, negro ou branco, jovem ou idoso. Isto significa uma eliminação progressiva do estado de bem-estar social e ao federalismo estrito e soberania dos estados. Isto não significa uma eliminação imediata, mas certamente significa um fim.

Ao menos que os conservadores tenham a coragem de travar a batalha desta maneira, com o compromisso para o estabelecimento definitivo de um ideal de vida capitalista (onde a inviolabilidade da propriedade privada é restaurada e o governo federal é limitado a uma interpretação literal de seus mandados constitucionais) há pouca esperança para mais nada do que o crescimento explosivo do Leviatã. Certamente não há esperança para uma reversão do processo de coletivização que dominou o século 20. Essa é a grande lição esclarecedora que os últimos 50 anos ensinaram – pelo menos para os americanos que ainda possuem um senso de história.

Por ideologicamente apoiar o establishment estatista e seu paradigma assistencialista, conservadores, claro, obtém uma medida de popularidade e aprovação social mas eles não fizeram nada para deter a maré da crescente destruição moral e econômica tão exponencialmente em nosso meio. Ele ganham uma celebridade momentânea mas abandonam a verdade imutável.

Tornando-se um “comentarista” celebrado e sendo amplamente aceito pela mídia, as bases de prestígios, e as elites políticas, tudo é muito gratificante para o ego mas o preço final pago é fatal.

Isto porque, afim de ganhar status estimado na sociedade de hoje, deve aceitar e promover a a validade do pesado estatismo arbitrário. Isto significa que deve abandonar os princípios filosóficos de “governo limitado” e “igualdade de direitos” e conceder aos esquerdistas suas premissas morais básicas – que o estado tem o direito de redistribuir riqueza individual e arbitrariamente reorganizar seres humanos.

Uma vez que essa premissa moral é concedida (e é concedida por todos aqueles que aceitam a validade do estado assistencialista), então não há jeito para lutar efetivamente pela liberdade. Então ele é reduzido a lutar apenas por um burocratismo mais eficiente, por uma tirania mais benevolente. A batalha, em seguida, se torna somente a marca do estatismo insuportável que devemos nos resignar, em vez de como vencer dramaticamente o futuro pela liberdade e justiça.

Desafiando a premissa moral

Reflita sobre isso: porque neoconservadores como Bill Kristol, William Bennett, George Will, e Bill Buckley são aceitáveis tão graciosamente pelo establishment  esquerdista predominante? Porque eles não contestam a premissa moral do estatismo. Eles aceitam o uso do estatismo de lei arbitrária, sua violação de direitos individuais e sua transmissão de privilégios especiais. Sendo assim, eles não representam ameaça moral ao esquerdismo e não são temidos por aqueles que estão tiranizando nossas vidas com um governo onipresente.

Neoconservadores como Kristol, Bennett, Will, e Buckley optaram por uma inclusão no establishment predominante em vez de demarcar uma posição heróica pela verdadeira liberdade e governo constitucional. Eles optaram pela popularidade acima do princípio. Por toda história, isso tem sido a natureza daqueles que almejam os confortos da aprovação desses grupos.

Tais grupos são invariavelmente conglomerados brandos de conformistas e bajuladores, loquazes em vez de sábios, irrelevantes de longa data porque não estão interessados com a grande figura da história – sendo relutantes ou incapazes de compreendê-la. O que move a mente da história desses grupos é o obsessivo cultivo de seus status pessoais e a adoção de qualquer ideologia (ou anti-ideologia) que passa a ser moda no momento. Pela razão dos neoconservadores apoiarem o estatismo modista dos modernos esquerdistas, eles são inimigos dos EUA.

Tais mentalidades de curto alcance escolheram venerar o altar de burocratas mafiosos de uma democracia sem limites junto com seus camaradas esquerdistas. Ao fazê-lo, eles ajudam a conduzir a civilização ocidental ao pântano do burocratismo oportuno e da decadência sócio-econômica que agora amarguramos. Sua forma de regra, se for diferente em grau de despotismo, não é diferente, em princípio, do que leviatãs monstruosos como a Suécia. A democracia absoluta que necons e esquerdistas veneram é apenas uma maior e mais pesada, mas não menos execrável, forma de oligarquia.

Não é de se esperar que tais mentes maquiavélicas e cegamente pragmáticas serão capazes de enfrentar suas irracionalidades presunçosas, pois é da natureza dos homens míopes no poder a retirar o entolho em torno da pouca visão que possuem de modo a evitar enfrentar a decadente turbulência provocada a partir de sua ignorância.

O que é de se esperar, contudo, é que o forte intelecto e mente aberta dos EUA, que não deseja fazer parte da coletivização de sua alma, estará disposto a enfrentar os requisitos de uma sociedade verdadeiramente livre baseada em leis objetivas.

Liberdade não é para o covarde buscando a institucionalização da dependência e do privilégio. Nem para os bajuladores da vida tão obcecados por popularidade. É para os robustos dotados de corações heróicos e almas impetuosas – os filhos espirituais daqueles que caminharam na história duzentos anos atrás pra registrar em pergaminho sua primeira grande idealização conhecida pelo homem.

Se conservadores desejam somente governar em vez de reformar, eles não são apenas o Partido Estúpido, são covardes. Seu legado histórico será a abdicação pusilânime, e o futuro dos EUA como um brilhante ideal para todo o mundo estará morto.

Ser meramente governantes e exercer o poder é um objetivo intelectual insignificante. Certamente não foi para isso que os Pais Fundadores lutaram a revolução. Eles lutaram bravamente para estabelecer a “verdade” e um “ideal” de liberdade político-econômica. Neoconservadores de hoje e suas multidões da corrente principal do Partido Republicano tinham que reavaliar melhor o significado dos EUA. Não é sobre manter uma Grande Sociedade Planejada a partir de Washington. É sobre proteger a rede da liberdade sem remendo para que os indivíduos possam construir suas vidas pessoais e comunidades locais por conta própria até o nível mais alto de suas capacidades.

Se abandonarmos o legado dos Pais Fundadores, em princípio, então nós teremos destruído isso na verdade. Nossos esforços hoje são bem limitados, em princípio, e muito preocupados com o poder. É essa declaração que desejamos inscrever nas páginas da história como contribuição da nossa vida para o grande drama da existência – que nós apenas corremos e brigamos em busca de poder? Um EUA livre não pode ser salvo com tal abordagem egoísta e qual objetivo há de mais valoroso do que a salvação de um EUA livre?


Nelson Hultberg é um escritor freelancer, graduado na Beloit College e diretor executivo do site Americans for a Free Republic. Já publicou artigos no The Dallas Morning News, The San Antonio Express-News, The American Conservative, Insight, The Freeman, Liberty, The Social Critic e em sites como Free Market News, Financial Sense e Safe Haven.

É autor dos livros The Conservative Revolution: Why We Must Form a Third Political Party to Win It e The Golden Mean: The Case for Libertarian Politics and Conservative Values. Durante a década de 90 trabalhou em projetos para reformas tributárias promovendo a abolição do imposto de renda. Foi apresentado pela revista Texas Business, em conjunto com alguns políticos americanos, como um dos líderes reformadores fiscais do Texas.

Leituras recomendadas:

The voice of neoconservatism, por Ronald Bailey – Reason.com: http://reason.com/archives/2001/10/17/the-voice-of-neoconservatism

A Tragedy of Errors, por Michael Lind – The Nation: http://www.thenation.com/article/tragedy-errors

Context of ‘Late 1930s – 1950s: Neoconservative Philosophy Grows from Communist Intellectuals’ Disenchantment with Soviet Ideology’, History Commons: http://www.historycommons.org/context.jsp?item=a30s50sneoconideology

A ignorância de Naomi Klein, por Diogo Costa – Ordem Livre: http://www.ordemlivre.org/2008/07/a-ignorancia-de-naomi-klein/

How neoconservatives conquered Washington — and launched a war, por Michael Lind – Salon: http://www.salon.com/2003/04/09/neocons_4/

Idol With Clay Feet, por Samuel Francis – The American Conservative: http://www.theamericanconservative.com/articles/idol-with-clay-feet/

Leituras complementares:

Russell kirk e a filosofia conservadora da cultura: conversa com Alex Catharino, Diálogos Exemplares: http://dialogosexemplares.wordpress.com/2011/11/29/entrevista-com-alex-catharino/

Os liberais e o desentendimento disfarçado de debate, por Bruno Garschagen – Ordem Livre: http://www.ordemlivre.org/2011/08/os-liberais-e-o-desentendimento-disfarcado-de-debate/

What conservatism means, por Owen Harries – The American Conservative: http://www.unz.org/Pub/AmConservative-2003nov17-00013

Notas do tradutor:

* Dentro do espectro político conservador americano há alas de diferentes tendências. O que é dito como “conservadorismo verdadeiro” é conhecido atualmente como paleoconservadorismo (daí a distinção entre o neoconservadorismo). Este movimento político (não é necessariamente um pensamento) remete às ideias originárias dos Pais Fundadores americanos: federalismo radical, estado limitado, liberdade individual, não-intervencionismo externo, economia de livre mercado e valores tradicionais. Em suma, é o libertarianismo político-econômico junto com o tradicionalismo cultural. São herdeiros diretos de intelectuais liberais clássico como Edmund Burke, John Locke e Adam Smith. Pode-se dizer também que descendem da chamada “Antiga Direita” americana (Old Right no original),  grupo de políticos que foi contrário às políticas progressistas do New Deal. Os paleocons tem como representante histórico Barry Goldwater e atualmente Pat Buchanan. Vale dizer que Ron Paul é um de seus representantes, embora suas posições tendem a se fundir com o paleolibertarianismo.

[1] William Simon foi empresário, filantropo e secretário do tesouro americano durante três anos no governo Nixon e mais tarde no governo Ford. Foi um defensor nato do livre mercado em sua vida.

[2] Gerald Ford foi presidente dos EUA eleito pelo Partido Republicano. Tendo seu mandato entre os anos de 1974 à 1977.

[3] Adam Smith, conhecido como o pai da economia moderna, foi um dos fundadores da economia de livre mercado (laissez-faire). Um dos pilares da escola clássica de economia.

[4]Provável alusão a criação do Fed, o banco central americano. Instituição que eliminou pouco a pouco o sistema de livre mercado que vigorava razoavelmente no país.

[5] Ronald Reagan foi presidente dos EUA eleito pelo Partido Republicano com dois mandatos, entre os anos de 1981 à 1989. Seus governos foram marcados pela pressão externa contra o socialismo soviético, desregulamentação econômica e diminuição dos impostos.

[6] Partido político americano de tendência liberal-conservadora.

[7] Irving Kristol foi jornalista, cronista e escritor. Tendo colaborado em diversas revistas, influenciou sobremaneira a cultura política e intelectual de seu país principalmente na última metade do século 20. O mais representativo intelectual do movimento neoconservador, é conhecido como o “padrinho do neoconservadorismo”. Seu livro, The Neoconservatives: The Men Who Are Changing America’s Politics, foi um divisor de águas no cenário político. Em suas próprias palavras, neoconservador é dito como “um esquerdista que foi assaltado pela realidade”.

[8] Patrick Moynihan foi sociólogo e político pelo Partido Democrata. Foi também embaixador na ONU e na Índia.

[9] Norman Podhoretz foi escritor e comentarista político. Vindo de uma tradicional família esquerdista, chegou a participar de um movimento socialista em sua juventude.

[10] Daniel Bell foi professor, sociólogo, escritor e editor. Foi um crítico do capitalismo e chegou a descrever-se como um “socialista em economia, progressista em política e conservador na cultura”.

[11] Nathan Glazer foi professor, sociólogo e co-editor da revista neoconservadora The Public Interest. Sempre esteve ligado intelectualmente ao Partido Democrata.

[12] Sidney Hook foi filósofo da Escola Pragmática. Defensor do comunismo em sua juventude, tornou-se mais tarde um crítico de políticas totalitárias, tanto fascista como marxista-leninista. Tendo apoiado posteriormente o pensamento social-democrata.

[13] Richard Perle. Cientista político neoconservador. Chegou a trabalhar nos governos de Reagan e Bush na área de política externa.

[14] Paul Wolfowitz. Político que já atuou em assuntos nas áreas de defesa, embaixada e outros. Conhecido como um dos grandes líderes neocon e arquiteto da política externa na era Bush.

[15] Bill Kristol é professor, editor e comentarista político neocon. É ligado a vários think tanks e atualmente comenta no Fox News Channel. É filho de Irving Kristol.

[16] William Bennett. Comentarista e teórico político. No passado foi filiado ao Partido Democrata e já recebeu apoio político de neoconservadores liderados por Irving Kristol.

[17] George Will é cronista, colunista e escritor. Foi um entusiasta da invasão americana no Iraque em 2003.

[18] Em todo o texto o termo capitalismo é descrito em seu sentido original e verdadeiro, de livre mercado. Deve ser entendido como um mecanismo de trocas pacíficas e voluntárias entre indivíduos e não tem relação com o atual arranjo intervencionista. Para uma melhor compreensão leia o artigo “O que é livre mercado?”, http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=52

[19] Foi um pacote com uma série de implementações do governo Roosevelt para estimular a economia e estimular economia entre 1933 à 1936. Tais estímulos consistiam em investimentos em obras públicas, controle de preços e produções, salário-mínimo, seguro-desemprego, reforma monetária e uma série de outros programas. Já é sabido que sua nem todo o campo intelectual compartilha de sua suposta eficácia, reprovando-o totalmente.

[20] Leon Trotsky foi revolucionário e teórico marxista, político soviético e fundador do Exército Vermelho soviético. Foi um dos grandes líderes do comunismo soviético.

[21] Revolução que desencadeou no processo de socialização todo o estado russo.

[22] Vladimir Lenin foi revolucionário e político marxista, líder do Partido Comunista e um dos responsáveis pela Revolução Russa.

[23] Sociedade Fabiana é uma organização britânica que promove o pensamento socialista por vias reformista e gradualista, opondo-se a meio revolucionários. Possui forte impacto no Partido Trabalhista britânico. Influenciou grupos e pessoas em diversos países como o ex-presidente brasileiro Fernando Henrique Cardoso e seu partido, o PSDB.

[24] Do inglês Founding Fathers, foram líderes políticos e estadistas que participaram da Revolução Americana, assinando a Declaração da Independência e mais tarde a Constiruição Americana. Os principais nomes desse grupo de muitas pessoas são: John Adams, Benjamin Franklin, Alexander Hamilton, John Jay, Thomas Jefferson, James Madison, e George Washington.

[25] Nicolau Maquiavel foi historiador, diplomata, humanista, escritor e filósofo italiano da época da Renascença. Fundador da moderna Ciência Política e ator do célebre livro O Príncipe.

[26] Platão foi um filósofo grego clássico, matemático e fundador da primeira Academia em Atenas. Seus escritos são um dos pilares do pensamento ocidental.

[27] Foi uma proibição de caráter nacional nos EUA ratificada pela por uma emenda constitucional na confecção de venda, produção e transportação de bebidas alcoólicas a partir de 1920. Foi revogada em 1933.

[28] Movimento político criado por educadores, agitadores e ativistas de visões progressistas, anarquista socialistas e marxistas ligados primeiramente a instituições de ensino superior nos EUA. Suas reivindicações eram por democracia, direitos civis, reformas e protestos contra a Guerra do Vietnã. Tal movimento é bastante ligado ao movimento Hippie. Seu nome de “novo” vem do fato de se diferenciarem da “Antiga Esquerda”, focada em questões sobre trabalho e medidas revolucionárias.

[29] George McGovern foi político, historiador e escritor.

[30] Partido politico americano de tendência social-democrata

[31] FDR ou Franklin Roosevelt foi presidente americano pelo Partido Democrata, tendo seus mandatos entre 1933 à 1945. Sua administração cobre eventos como a Grande Depressão e a Segunda Guerra Mundial.

[32] Lyndon Johnson foi presidente americano pelo Partido Democrata, tendo seus mandatos entre 1963 à 1969. Sua administração se dá por iniciar após o assassinato do então presidente J. Kennedy e os eventos da Guerra no Vietnã.

[33] Relativo ao presidente George H. W. Bush do Partido Republicano, que governou o país entre 1989 à 1993. Tendo em seu mandato o cenário bélico da Guerra do Golfo.

[34] Relativo ao presidente George W. Bush do Partido Republicano, que governou o país entre 2001 à 2009. Tendo em seu mandato os ataques terroristas de 11 de Setembro e o cenário bélico da Guerra ao Terror no Iraque e Afeganistão.

[35] Charles Krauthammer  é médico, cronista, jornalista e comentador político. Já foi um ganhador de um Pulitzer.

[36] Revista americana que teve bastante impacto no cenário político conservador americano. Mais tarde mudou sua visão para a defesa de certas políticas neoconservadoras.

[37] Richard Weaver foi um intelectual americano conservador e considerado como um dos nomes mais importantes do grupo intelectual chamado “New Conservatives”, intelectuais que repudiavam políticas progressistas como o New Deal, o complexo industrial militar e a cidadania consumista e comercializada. De uma breve passagens por ideias socialistas na juventude, tornou-se um grande defensor das tradições americanas posteriormente. Seu mais livro notável, Ideas Have Consequences, é um tratado sobre o nominalismo na Civilização Ocidental.

[38] Clyde Wilson é professor de história, comentarista político e contribuidor para as revistas Chronicles: A magazine of American Culture, Southerns Patisan e National Review e membro adjunto do Ludwig von Mises Institute.

[39] Ludwig Von Mises foi filósofo e economista. É, talvez, o nome mais importante da Escola Austríaca de economia. Fundou a ciência que estuda a ação humana, chamada de Praxeologia.

[40] Friedrich Hayek foi filósofo e economista. Ganhador do Nobel em economia, teve trabalhos marcantes sobre teoria monetária e ciclos econômicos. Um dos nomes mais importantes da Escola Austríaca de economia.

[41] Milton Friedman foi professor, economista e estatístico. Ganhador do Nobel em economia, é um dos nomes mais importantes do monetarismo da Escola de Chicago de economia.

[42] Relativo a Thomas Jefferson.

[43] Leo Strauss foi um filósofo, professor e classicista teuto-americano. Estudioso de filosofia política clássica, foi duramente criticado por suas influências políticas neocons.

[44] James Burnham foi um filósofo e teórico político. De um líder marxista nos anos 30, mudou sua posição política com o tempo. Colaborador da revista National Review, foi considerado como sendo “o primeiro neoconservador” por sua visão de política externa.

[45] Também conhecida como “ética da reciprocidade”, a Regra de Ouro é um código ético que consistem em tratar os outros do modo que quer ser tratado. Apresentado em várias religiões mundo afora, na tradição judaica-cristã é apresentada nas passagens: “Amarás o Senhor teu Deus com todo seu coração e com toda a tua alma e com toda sua força e com todo o teu entendimento, e ao teu próximo como a ti mesmo” (Lucas 10:27) e “O que é odioso para ti, não o faças ao próximo. Esta é toda lei, o resto é comentário” Talmude – Shabbat 31a.

[46] William Frank Buckley, Jr. foi escritor e comentarista político de visão neoconservadora. Foi o fundador da revista National Review.