Trabalhadores e consumidores

Na política ouvimos muito o discurso da defesa dos trabalhadores. É muito raro, porém, um partido que prometa defender os consumidores. Isto se dá por um problema já bem antigo.

A divisão do trabalho e o comércio colocam o homem nesta condição: ele não produz mais para suprir suas próprias necessidades imediatas, mas para trocar o produto do seu trabalho pelo produto do trabalho de outros. Por isto o homem raciocina, politicamente, não como consumidor, mas como produtor. O homem comum acaba preferindo um aumento nominal no seu salário do que um aumento real do seu poder de compra, proporcionado pelo aumento de produtividade.[1]

Por isto, analisaremos o que é mais benéfico para a população em geral: se pensar a política em termos “trabalhistas” ou em termos “consumistas”.

1. Quem são e quantos são os trabalhadores?
“Classe trabalhadora” é um termo sócio-econômico usado para descrever pessoas em uma classe social marcada por empregos de baixa renda, que demandam pouca formação e trabalho braçal. Pessoas desempregadas sustentadas por programas governamentais são frequentemente incluídas neste grupo.[2]

Segundo dados do IBGE, o número de pessoas ocupadas no Brasil – ou seja, trabalhadores ativos – é de 80 milhões de pessoas[3], o que corresponde a 41,95% dos 190,7 milhões de habitantes do país [4]. Destes, 39,1 milhões tem carteira assinada[3].

2. O que querem os trabalhadores?
O homem enquanto trabalhador é um produtor. Ele tem interesse em vender o seu produto, a sua força de trabalho, pelo preço mais elevado possível[1]. A conclusão lógica disso é que uma das demandas básicas do trabalhador é o aumento de salário ou a redução de carga horária.

Segundo a lei de oferta e demanda, é possível aumentar artificialmente o preço de um bem restringindo a sua oferta. Ou seja, tornando-o escasso. Se pensarmos nele como produtor é de seu interesse que o mercado para seu produto seja grande e que a concorrência seja zero: assim ele pode vender o seu produto a um preço alto. É de seu interesse que haja grande demanda pela sua mão-de-obra e concorrência mínima.

Como trabalhadores restringem a concorrência? Ou, como tornam a oferta de trabalho mais escassa? Pressionam o governo por leis trabalhistas. Criam reservas de mercado dificultando o exercício da profissão, impondo restrições a novos concorrentes.

3. Quem são e quantos são os consumidores?
O consumidor é quem compra produtos ou serviços para uso pessoal, não para a manufatura ou revenda. Um consumidor também pode ser definido como quem faz a decisão de comprar ou não um produto em uma loja, e alguém que pode ser influenciado pelo marketing e pela publicidade. Sempre que alguém vai a uma loja e compra comida, roupa, bebida ou qualquer outra coisa, está fazendo esta decisão como consumidor.[5]

Em termos econômicos, só é definido consumidor quem efetiva a compra dos bens. Assim, a criança que ainda não tem seu próprio dinheiro para comprar, não é considerada uma consumidora, embora seus pais sejam. O aposentado, que já não faz parte da população economicamente ativa, também é um consumidor. Todo trabalhador é consumidor, mas nem todo consumidor é trabalhador.

Podemos generalizar e dizer que todo brasileiro com mais de 15 anos é um consumidor. Isso significa aproximadamente 167,24 milhões de pessoas ou 87,7% da população[6].

4. O que querem os consumidores?
O homem enquanto consumidor tem interesse em comprar o produto do trabalho dos outros pelo preço mais baixo possível. A conclusão lógica disso é que o desejo básico do consumidor é a redução dos preços, tarifas e impostos.[1]

É possível reduzir o preço de bens aumentando a sua oferta no mercado. Ou seja, tornando-os mais abundantes. É do interesse do consumidor que a produção do bem que ele procura seja abundante: assim ele pode comprar o produto a um preço baixo. É de seu interesse que haja grande oferta da mão-de-obra dos outros produtores: do padeiro, do jornaleiro, do açougueiro, etc.

Como consumidores devem proceder, na política, para aumentar a concorrência, ou seja, tornar a oferta de produtos mais abundante? Exigindo leis que beneficiem a produtividade, a livre empresa, a concorrência e o livre comércio.[1] É importante notar que, diferente de restringir o acesso a um produto, democratizar o acesso a ele requer um aumento verdadeiro de sua produção e comercialização, e não apenas um aparato legal e policial impedindo a sua entrada no mercado. Isto só é possível removendo as barreiras que impedem os homens de produzir.

Estas medidas implicam na redução do custo e da dificuldade do exercício de qualquer atividade produtiva. Conseqüências disso são o aumento do emprego, a migração do trabalho informal para o formal, a redução da ilegalidade e a atração de investimentos estrangeiros, enriquecendo a sociedade com novos produtos e serviços, maior abundância e maior qualidade, mais desenvolvimento tecnológico e mais empregos.[7]

5. Produzir ou consumir?
Se pudéssemos seguir consumindo sem jamais produzir (e trabalhar), com certeza faríamos isso. A resposta para a pergunta “você prefere trabalhar mais ou consumir mais?”, deve ser óbvia.

O homem aprimorou o trabalho até o ponto em que ele só precisa produzir o que não supriria nem a mais básica de suas necessidades em estado natural. Um homem depende do trabalho dos outros para consumir o necessário para viver, e se vale da produtividade da indústria alheia para manter o seu padrão de vida. Se pudéssemos aumentar a produtividade infinitamente, teríamos tal abundância de bens de consumo que o trabalho seria praticamente eliminado e ainda assim viveríamos muito bem. O fato é que o trabalho é apenas um mal necessário, um meio para atingir um fim. O fim da economia é o consumo.

6. Conflito de interesses: porque o consumidor deve ser priorizado
Na maioria dos casos, os interesses dos produtores (trabalhadores) e dos consumidores são antagônicos.[1] O homem que trabalha como cobrador de ônibus adoraria comprar roupas mais baratas, mas não gostaria de ser substituído por um “caixa eletrônico” que trabalha de graça. Ao mesmo tempo, o funcionário da indústria de roupas adoraria um transporte coletivo mais barato, mas não gostaria de ser substituído por uma máquina que produz bem mais do que ele.

Se levássemos em conta só os interesses deles como consumidores, o que teríamos? Teríamos transporte coletivo mais barato e roupas mais baratas para todos os que usufruem destes bens. Inegavelmente o número de pessoas que se beneficiariam destas mudanças seria muito maior do que aquelas que foram prejudicadas. A eliminação de uma centena de empregos, sem perda na produtividade, implica reduzir o custo de vida e aumentar o poder de compra de milhares ou até milhões de pessoas.

Não há dúvidas de que a sociedade como um todo se beneficia mais deste aumento de produtividade do que sacrificando-o para sustentar o padrão de vida de um grupo minoritário como os cobradores de ônibus, os operários das fábricas de tecido, os agricultores, etc. Mas seria justo beneficiar a maior parte da população, causando prejuízo a uma outra parte, ainda que seja pequena?

7. Rotatividade no mercado de trabalho
O brasileiro permanece em média 5,1 anos em cada emprego.[8] Isto significa que dos 20 aos 65 anos ele terá passado, em média, por nove empregos. A ideia de um emprego fixo e vitalício já não é parte das sociedades modernas há um bom tempo.

Mesmo assim, as pessoas ainda se espantam com a “eliminação de empregos” que a concorrência externa e a tecnologia gera. O que é eliminado é um emprego, não o empregado. A função, não o funcionário. Uma função obsoleta é extinta para dar lugar a outras mais úteis, que agregam mais valor à sociedade. A extinção de funções obsoletas em uma sociedade não torna a força de trabalho inerte, mas a libera para outras tarefas – mais úteis – que antes não podiam ser realizadas porque esta força de trabalho estava ocupada em outro lugar.[9]

O processo de realocação da força de trabalho, o período em que o trabalhador busca por outro emprego, tem sido bastante reduzido: o tempo médio para encontrar um emprego é de um mês [10]. Em muitos casos, a prática do outplacement tem simplesmente eliminado este processo todo: uma empresa dá assistência para que o funcionário dispensado encontre um novo emprego, tudo pago pelo antigo empregador.[11]

8. Conclusão
Se pensarmos menos como trabalhadores (produtores) e mais como consumidores, estaremos defendendo uma alocação mais inteligente de força de trabalho e uma maior produtividade que gera abundância de bens e serviços a um preço mais acessível, o que aumenta o poder de compra e melhora o padrão de vida das pessoas. É um duplo ganho.


Bibliografia:

[1] Bastiat, Frédéric. Abundância, miséria.
[2] Investopedia – Working-class
[3] Extra – Censo: 63,9% dos trabalhadores têm carteira assinada
[4] IBGE – Censo 2010: população do Brasil é de 190.732.694 pessoas
[5] InvestWords – Consumer
[6] IBGE – Censo 2010: pirâmide etária
[7] Libertarianismo – Liberdade Econômica & Qualidade de Vida
[
8] Folha de S. Paulo – Rotatividade no emprego aumenta no país
[
9] Bastiat, Frédéric. As máquinas.
[10] Exame – Tempo médio para encontrar emprego cai para 1 mês
[
11] Investopedia – Outplacement definition

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A Inutilidade dos Sindicatos

A sindicação, saída da liberdade como o monopólio espontâneo, é igualmente inimiga dela, e sobretudo das vantagens dela; é-o com menos brutalidade e evidência e, por isso mesmo, com mais segurança. Um sindicato ou associação de classe — comercial, industrial, ou de outra qualquer espécie — nasce aparentemente de uma congregação livre dos indivíduos que compõem essa classe; como, porém, quem não entrar para esse sindicato fica sujeito a desvantagens de diversa ordem, a sindicação é realmente obrigatória. Uma vez constituído o sindicato, passam a dominar nele — parte mínima que se substitui ao todo — não os profissionais (comerciantes, industriais, ou o que quer que sejam), mais hábeis e representativos, mas os indivíduos simplesmente mais aptos e competentes para a vida sindical, isto é, para a política eleitoral dessas agremiações. Todo o sindicato é, social e profissionalmente, um mito.

Operários, de Tarsila do Amaral.

Mais incisivamente ainda: nenhuma associação de classe é uma associação de classe. No caso especial da sindicação na indústria e no comércio, o resultado é desaparecerem todas as vantagens da concorrência livre, sem se adquirir qualquer espécie de coordenação útil ou benéfica. O caráter natural do regímen livre atenua-se, porque surge em meio dele este elemento estranho e essencialmente oposto à liberdade. A vantagem pública da não elevação desnecessária de preços desaparece por completo, pois por haver sindicato, é fácil a combinação e a “frente-única” contra o público e, por esse sindicato ser tirânico, é fácil compelir à aceitação de novas tabelas os profissionais pouco dispostos a aceitá-las.
Quanto ao aperfeiçoamento dos serviços comerciais ou industriais, que a concorrência estimula, o sindicato diminui-o na própria proporção em que diminui o espírito de concorrência e, como nunca é dirigido por grandes profissionais, mas por políticos de dentro da profissão, pouco pode animar diretamente a técnica da indústria ou do comércio que representa. Nem resulta da acção do sindicato qualquer coordenação útil que compense estas desvantagens todas. Não tendo uma verdadadeira base de liberdade, o sindicato não coordena a classe como indivíduos; não tendo nunca uma direção profissionalmente superior, o sindicato não coordena a classe como profissionais; não tendo outro fim senão o profissional e o económico, o sindicato não coordena a classe como cidadãos.

Fernando Pessoa, trecho de ‘Régie, Monopólio, Liberdade’, publicado na Revista de Comércio e Contabilidade, nº2 e 3. Lisboa: 25-2-1926 e 25-3-1926.

Seriam mesmo os porcos capitalistas? – Parte 2

Análise do Livro “A revolução dos Bichos”

  • Principais personagens:

– Senhor Jones: proprietário da fazenda. Representa a personificação do regime o qual eles querem combater.

– Major: Um velho porco muito respeitado na fazenda, é ele quem idealiza a tal revolução.

– Sansão e Quitéria: Representam a massa trabalhadora, os personagens são estúpidos (palavras do próprio autor), porém bastante dispostos a trabalhar e o mais importante, eram honestos.

– Benjamin: Era um burro (no sentido literal). Era também o animal mais idoso da fazenda. Pouco falava e das poucas vezes que falava, era emitir algum comentário cínico.

– Mimosa: Era uma égua altamente vaidosa e adorava torrões de açúcar. (Nos dias de hoje, acho que ela tomaria Coca-Cola e sua lanchonete preferida seria o Mc Donald’s.

– O gato: Sempre sumia na hora do trabalho e votava dos dois lados. O típico em cima do muro.

– Moisés: O corvo domesticado. Sempre falava da existência duma espécie de “céu”, pra onde os animais iriam depois de morrer.

– Bola de Neve, Napoleão e Garganta: Porcos que estavam à frente da administração da fazenda, representavam a classe privilegiada.

A história tem início quando Major, antes de morrer, reúne os animais da fazenda pra falar que teve um sonho. Antes de contar o tal sonho, ele enfatiza o quanto suas vidas são miseráveis, o quanto trabalham duro, que eles não sabem o que é felicidade ou lazer e que tampouco sabem o que é liberdade. Em contrapartida, a terra é fértil, o clima é bom e que o culpado por tudo de ruim que acontece com eles são os seres humanos – o que pra eles significava o regime em vigor. Para eles os homens – representados por Senhor Jones – que são a raiz de todo o mal, consomem sem produzir. Ficam com todo o fruto do trabalho dos animais só dando a eles de volta o suficiente para que possam sobreviver (salário) e ficam com o restante (lucro). Isso é o que Böhm-Bawerk, em seu livro “Kapital und Kapitalzins” (Capital e Juros), chama de teoria da exploração do socialismo-comunismo, teoria esta oriunda de pensamentos os quais Marx precisou de quatro livros para defendê-la e Böhm-Bawerk apenas um livro para desmenti-la.

Major insiste que bastaria que se livrassem dos homens para que num passe de mágica todos os seus problemas desaparecessem.  Ele instrui que essa informação fosse passada de geração para geração e ressalta, principalmente, que os doutrinados tampem os ouvidos quando qualquer um venha a dizer algo que seja contrário ao novo  regime, o qual futuramente ganhará o nome de Animalismo. (Será por isso que nossos colegas de outras vertentes políticas parecem ser surdos quando finalmente lhes é apresentada a verdade?). Por fim, ele repassa aos animais uma canção chamada “Bichos da Inglaterra” que nada mais é do que uma espécie de hino do regime futuramente implantado. Essa canção nada mais é do que algo q serve para motivar, inflamar os animais. Do mesmo jeito em que na URSS Lenin falece  e Stalin acaba sendo o chefe de Estado em seu lugar, Major 3 dias depois falece e a revolução fica por conta dos porcos Bola de Neve (O mais carismático, porém com honestidade meio duvidosa) e Napoleão (mais rígido, porém com bastante força de vontade e ao decorrer do livro, mostra sua total falta de caráter) por serem, sem dúvida, os animais mais inteligentes da fazenda. Garganta era o porquinho altamente falante que fazia o papel que hoje em dia podemos chamar de mídia, já que todo regime totalitário é caracterizado por uma forte propaganda estatal. Durante algum tempo os adeptos do Animalismo faziam reuniões secretas. No Brasil podemos citar o PCB (Partido Comunista Brasileiro) que durante vários anos mantiveram-se na clandestinidade, esperando o momento certo pra “dar o bote” e tentar instalar o tal regime no país (graças a Deus esse dia nunca chegou).

Lenin
Stalin

Durante as reuniões secretas, os animais faziam muitas perguntas, uma delas é a pergunta da Mimosa, que questiona se no Animalismo ela poderá comer torrões de açúcar. Logo os líderes do movimento falam que não, pois tudo aquilo que eles consideravam supérfluo, seria banido. Para eles não importava o quão importante para os animais eram alguns hábitos, pra eles o que importava era obter aquilo que era essencial para a sobrevivência. Alguns animais concordavam, apesar de não estarem realmente convencidos de que isso era o melhor para eles.

Os porcos tiveram trabalho com Moisés, o corvo, pois este espalhava que existia uma espécie de “Montanha de Açúcar” (o que pra nossa linguagem podemos chamar de céu) e era pra este lugar que todos os animais iriam após a morte. Como nos regimes totalitários, como o comunismo, socialismo e etc. não há liberdade de credo, no Animalismo não era interessante que os seguidores acreditassem nisso. Eles tiveram bastante trabalho para convencer os animais de que isso não passava de devaneios da mente tola do corvo.

Cristã sendo perseguida na Coréia do Norte, país de regime socialista

Nas reuniões, Sansão e Quitéria nunca tiveram capacidade de pensar por si próprio, porém absorviam tudo que lhes era ensinado pelos porcos, tal qual muitos trabalhadores acreditam que seus sindicatos servem somente para lhes ajudar e lutar pelos seus interesses. Sansão é tão alienado que chega a dar dó. O típico “idiota útil”.

A revolução enfim aconteceu quando um dia Senhor Jones, passando por problemas pessoais, esquece de alimentar os bichos e isso faz com que estes se rebelem. Podemos citar isso como um momento de crise do atual regime. Eles usaram de violência e luta e expulsaram a personificação do regime da fazenda. Trataram de se livrar de tudo que lembrava o Senhor Jones e tiveram uma falsa sensação de que tudo aquilo agora pertencia a eles. Sensação que ao longo do livro vai se esvaindo.

No dia seguinte os porcos reúnem a todos para comunicar a mudança do nome da fazenda, revelam que aprenderam a ler e escrever e então resolvem repassar aos seus seguidores as principais regras do Animalismo.

  • OS SETE MANDAMENTOS
  1. Qualquer coisa que ande sobre duas pernas é inimigo;
  2. Qualquer coisa que ande sobre quatro pernas, ou tenha asas, é amigo;
  3. Nenhum animal usará roupas;
  4. Nenhum animal dormirá em camas;
  5. Nenhum animal beberá álcool;
  6. Nenhum animal matará outro animal;
  7. Todos os animais são iguais.

Logo os líderes do movimento conseguem convencer os animais de que eles deveriam trabalhar mais ainda do que na época do Senhor Jones, e a exploração maior da força de trabalho destes começou mais cedo do que se imaginava. Estes, de boa fé, começaram a produzir mais ainda. Logo nesse primeiro dia acontece um fato bastante curioso. Todo o leite produzido some misteriosamente.

Não se pode negar que de início foi bem produtivo, os animais em sua grande parte faziam o serviço pesado do campo, com exceção dos porcos que tinham a justificativa de que supervisionavam o trabalho dos demais. Sansão – pobre coitado – pedia até pro galo acordá-lo mais cedo para que ele pudesse trabalhar mais. Sua frase preferida era “Trabalharei mais ainda.” Alguns animais se “encostavam” no trabalho dos outros, era o caso do gato. Afinal para que se preocupar em  produzir muito se tudo que os outros produzissem seria dividido por igual? Afinal, no Animalismo não existia MERITOCRACIA.

Durante os domingos aconteciam cerimônias como hasteamento da bandeira e reuniões para decidir questões rotineiras. Os porcos estavam sempre à frente, os restantes não emitiam opiniões, pois nem isso sabiam fazer, mas tinham o direito de votar. Nesse momento começa a se notar que Bola de Neve e Napoleão sempre estavam um contra o outro: é o começo do racha dentro do “partido”. Criaram-se vários comitês. Podemos citar entre eles o comitê de reeducação dos animais selvagens, a liga das caudas limpas. Estes não alcançaram os objetivos para os quais foram criados. Qualquer semelhança com o que acontece com os programas assistencialistas brasileiros, é mera coincidência.

Os animais, em sua grande maioria, eram analfabetos e não se incomodavam com essa condição. Como não conseguiam ler, os 7 mandamentos foram resumidos para eles de forma que pudessem memorizar: “Quatro pernas bom, duas pernas ruim”. Ou seja, tudo aquilo que ia de encontro ao regime, era considerado prejudicial. As ovelhas, que representam aqui a massa de manobra dos regimes não democráticos, repetiam isso pra todos os animais a fim de que ficasse no seu subconsciente.

Descobre-se que o leite desaparecido fora consumido totalmente e exclusivamente pelos porcos, e logo depois quando os mesmos tratam de convencer a população de que as frutas deveriam ter esse mesmo destino, fica nítida a formação de uma classe privilegiada. Coisa bastante comum em regimes implantados em Cuba, URSS, entre outros países considerados comunistas/socialistas. Garganta foi o responsável por dar explicações bastante “convincentes” à população.

Todas as vezes que um animal tentava se opor ao que era dito, o governo os convencia de que se não fosse desse modo, Jones voltaria ao poder. Os animais ficavam assustados e logo ficavam quietos.

Durante toda a Inglaterra foi conhecida a história de uma tal granja que era administrada por bichos. Tornou-se um lugar lendário, onde acreditava-se ser o verdadeiro paraíso na Terra.

Havana, Capital de Cuba

Um dia houve uma tentativa frustrada pelo Senhor Jones de retomar a posse de sua fazenda. Todos os animais defenderam-na com unhas e dentes, literalmente falando. Bola de Neve foi o animal que mais se empenhou nessa batalha sangrenta que terminou com mortes. Sansão sente sua consciência doer, ao achar que matou um homem. Sansão até poderia ser ignorante, porém tinha caráter. Depois desse episódio, tomou conta do lugar o nacionalismo exacerbado. Animais que morreram recebem homenagens e os que lutaram bravamente, condecorações militares.

Mimosa um dia foi vista olhando pros muros além da fazenda, toda saudosa. E fora até indagada porque foi vista recebendo carinhos de um humano. Ela negou que isso aconteceu, pois sabia que não era livre pra manifestar seus pensamentos  e desejos. Mimosa escondia entre suas coisas vários pertences proibidos, como torrões de açúcar e laços de fita. Imaginem o que fariam com ela se encontrassem um tênis da Nike. Mimosa desapareceu, conseguiu fugir da granja. Pediu asilo em outra fazenda. Os bichos depois desse episódio nunca mais tocaram em seu nome.

Ficou acertado que os porcos, por serem mais inteligentes, tomariam todas as decisões referentes à política da granja: o voto só aconteceria pra se ratificar essas decisões. O único problema era a disputa política que acontecia entre Napoleão e Bola de Neve. Bola de Neve era popular e a maioria das vezes obtia a maioria dos votos e era ele também que sempre tinha as idéias. Napoleão nunca criava nada e ainda colocava defeitos nas idéias de Bola de Neve. Bola de Neve chegou a arquitetar a construção de um complexo moinho de vento. Napoleão, claro, desde o início declarou-se contra a criação do moinho de vento. A promessa era de que após construído o tal moinho, os bichos poupariam tanta energia que só seriam necessário três dias de trabalho semanais.

Parte 1

Parte 3