O que é a Direita?

Muito tempo se gasta atacando a esquerda, especulando rumos políticos, e em atividades afins. Pouco tempo se gasta tentando entender o que somos. A direita, após duas décadas de democracia representativa, encontra-se praticamente morta no Brasil, dando pequenos sinais de existência apenas quando se manifesta contrariamente à esquerda. Mas não faz sentido tal existência, não há porque ser a parte fraca da dicotomia – a mera negação – quando a direita era, em seu princípio, a parte formada por conteúdo, enquanto a esquerda era a negação. Darei então minha humilde opinião acerca do que é a Direita Política.

Primeiramente, ser de Direita é ser pela continuidade. Se entre a ruptura e a mera estática existir outro caminho – o que comumente há -, esse é o caminho a ser seguido. A revolução é o caminho da injustiça, o mais autoritário dos meios de se fazer uma mudança. O caminho que substitui um sistema que já passou por diversas correções por uma ideia, mas que nascerá dotada de grandes imperfeições (algumas já corrigidas pelo sistema anterior) e que necessitarão também da ação do tempo para que sofram as devidas correções. A revolução é, em suma, o caminho do imediatismo, da impaciência, ao menos como entendido em sua concepção comum (há outra concepção, que talvez seja abordada em outro texto). A atitude reformista, por outro lado, é uma atitude que procura as soluções dentro do próprio sistema, garantindo a todos a segurança e ordem necessários ao exercício da liberdade, ao mesmo tempo que lida com os problemas. É uma atitude que reconhece a imperfeição do ser humano, a impossibilidade de criar um paraíso terrestre, e que toda mudança e todo suposto progresso trazem consigo duas facetas: a mudança é como um cobertor curto. Além disso, é reconhecer que a estrutura do poder independe de seu conteúdo, e que a revolução nunca, historicamente, alterou a substância do poder, mas apenas sua forma. A atitude reformista, em suma, é o exercício da paciência, da prudência, da temperança, da visão de longo prazo, sempre em respeito às atitudes dos antepassados.

Em seguida, deve-se abordar o materialismo. Talvez esse seja o aspecto mais importante da Direita Política, a rejeição a doutrinas meramente economicistas ou materialistas. Ser de Direita é reconhecer que há valores além da economia, que estão, quando não no mesmo patamar, em patamares acima. Diferente do que se prega, inclusive por alguns supostos direitistas, estar nesse lado do espectro político não é realizar um culto ao dinheiro. E, também diferentemente daqueles que glorificam o capitalismo simplesmente por o fazer, o direitista não exalta o ser humano como mera máquina de consumo. Para a direita, o ser humano é um ser dotado de alma, e sustenta essa visão não apenas sobre uma base cristã, mas também sobre bases clássicas constantes em Platão e Aristóteles. Como direitistas, reconhecemos que valores como a caridade, a honra, a coragem, o heroísmo, a bondade, a beleza e a tradição são mais importantes que a mera economia. Além disso tudo, crê em um código moral duradouro que mantém a sociedade.

Por fim, algo que deve estar presente em toda e qualquer corrente de direita é o respeito pela tradição. Não a glorificação irrestrita, impensada, mas o respeito. Entender sua função na sociedade é essencial. É importante à Direita entender que a mera quebra da tradição, por si só, não é motivo para uma mudança, como advogam os progressistas e liberais mais radicais, para os quais a tradição aprisiona. A tradição, na verdade, possui um importante papel unificador, reforça o sentimento de pertencimento de uma pessoa a um povo. Torna a todos, ao menos como seres que partilham dos mesmos costumes, iguais, apesar de todas as diferenças do mundo material, o que deixa as pessoas mais propensas à caridade. A tradição traz às relações a pessoalidade, valor perdido a tempos pelo mundo ocidental.

Como em outros textos do gênero, é óbvio que não pretendo esgotar o assunto, mas apenas dar uma pincelada acerca do que acredito que deve fazer parte de qualquer corrente que pretenda colocar a si mesma na Direita. Esses três aspectos, a meu ver, são essenciais. Por isso, deixo minha contribuição, com as portas abertas a críticas e visões diferentes. Lembrem-se que podem também enviar seus textos para serem publicados.

Edmund Burke

Para que o mal triunfe, basta que os bons fiquem de braços cruzados.

Nascido em Dublin, 12 de janeiro de 1729, Edmund Burke foi uma figura de pensamento complexo. Nascido em família próspera, começou o estudo de direito em Middle Temple como queria seu pai, mas tão logo começou, largou o estudo da lei para se dedicar à escrita e viagens pela Europa continental.

Burke
Edmund Burke - De retórica impecável, era conhecido como o Homem que quando falava, as bocas de toda a Europa se fechavam. Ou também, o mais retórico e racional homem louco que já existiu.

Seus escritos começaram longe de suas ideias políticas pelas quais ficou conhecido. Sua primeira obra foi “A Vindication of Natural Society”, em que demonstrou o absurdo da lógica ateísta de seu tempo, mostrando que os argumentos dessa lógica podiam ser aplicados a qualquer instituição política existente. Então, partindo para um lado mais filosófico, escreveu “A Philosophical enquiry into the origin of our ideas of the Sublime and Beautiful”, em que tratou de nossas percepções sobre o belo e o sublime, sendo o belo aquilo que esteticamente nos agrada, e o sublime aquilo que nos leva a destruir-nos. Nossa preferência pelo sublime, de acordo com Burke, marcou a transição entre o período Neo-Clássico e o Romântico.

Apenas após esses escritos, Burke entrou para a política, quando em 1765 passou a compor a Câmara dos Comuns pelo Whig Party, partido que agrupava as tendências liberais em oposição aos tories. Encabeçou a discussão sobre os limites do poder do monarca, tomando posição fortemente contra o aumento do poder dos reis e defendendo o papel dos partidos políticos no sentido de fazer oposição ao poder e evitar abusos. Escreveu, então “Thoughts on the Cause of the Present Discontents”, em que atribuiu o descontentamento da população a um grupo de neo-tories que eram conhecidos como “Os Amigos do Rei”, dizendo que o Reino Unido necessitava de um partido comprometido com seus ideais, alheio a interesses momentâneos.

Foi uma figura controversa, Edmund Burke. Era conhecido como o homem que, quando falava, calava todos os outros homens. Disso, teceu a maior crítica à Revolução Francesa que já se viu, em “Reflexões sobre a Revolução em França”. Apesar de um ferrenho defensor das reivindicações das colônias americanas e entusiasta da Revolução Gloriosa, condenou os excessos da revolta francesa. Considerava a França como uma referência na Europa, e essa revolução o preocupava por alterar todas as bases da sociedade. Acabou, em seu livro, por prever um dos maiores males que criava bases: o socialismo.

Enfim, Edmund Burke teve uma das teorias mais complexas de sua época. Ao condenar o simplismo dos iluministas, acabou por ser um símbolo tanto dos conservadores como dos liberais. Condenou o que chamava de “neo-whigs” que apoiavam a revolução de França e pretendiam fazer algo parecido na Inglaterra, mas também condenava os excessos da monarquia. Virou um símbolo da moderação, e descreveu os ingleses com uma frase que considero um exemplo para todas as nações que desejam fugir ao caos:

O povo da Inglaterra recusou, em séculos passados, mudar sua lei para adaptá-la à infalibilidade dos Papas; ele não a transformará agora em favor de uma fé cega nos dogmas dos filósofos – resistiu aos primeiros ainda que eles estivessem armados do anátema e da cruzada, resistirá aos últimos mesmo que eles ajam com a ajuda de libelos e da guilhotina