Prezado leitor(a), bom dia!
Concluímos a primeira semana útil após a eleição do candidato Jair Messias Bolsonaro (PSL) ao cargo de Presidente da República Federativa do Brasil. Após um longo período de acalorados debates sob vários pontos de vista a maioria do povo brasileiro optou pela candidatura de Bolsonaro para liderar o país nos próximos quatro anos.
Além disso, principalmente no Sudeste no segundo turno, candidaturas vencedoras como as de João Dória (PSDB-SP), Wilson Witzel (PSC-RJ) e Romeu Zema (NOVO-MG) estão alinhadas com o projeto de país que Bolsonaro vislumbra como ideal para os próximos quatro anos. E como complemento, candidaturas alinhadas com esses projetos mostraram força no primeiro turno no âmbito do Legislativo.
Mas, afinal, qual o impacto disso nas estruturas do setor público e no que isso implica ao mundo corporativo dentro do ambiente econômico?
Mudanças na estrutura do setor público
As eleições de 2018 foram diferentes das eleições anteriores por terem uma dicotomia real entre o conceito clássico de esquerda e direita, e não apenas as mesmas cartas do baralho corporativista com apenas pequenas nuances entre si.
As candidaturas de esquerda se prenderam às esferas de proteção social e de direitos, preservando o Estado enquanto agente de transformação econômica e as presentes estruturas de governo. As candidaturas de direita, por sua vez, na reformulação do Estado brasileiro, na organização das contas públicas e na reestruturação da economia brasileira por meio de maior participação do setor privado.
Ambos os cenários foram fiel e abertamente defendidos por seus proponentes, diferentemente daquilo que era apresentado pelos candidatos “mais à direita” por parte do PSDB nas últimas eleições. Inclusive João Dória foi um dos que mais abertamente defendeu o projeto de futuro de abraçar o mercado enquanto agente de transformação socioeconômica, algo que denota uma futura mudança de diretriz dentro do PSDB pela influência política que Dória tem conseguido nos últimos anos em seu partido.
Com as eleições findadas e o projeto de reestruturação do Estado ganhado força graças à eleição de Bolsonaro à presidência e dos representantes desse projeto principalmente advindos do Sudeste podemos aguardar por reformas que otimizem o setor público e consequentemente o reduzam, o que se traduz em menores gastos. Menores gastos possibilitam menores impostos, e somando essas reformas à maior atratividade que o país terá na geopolítica global podemos esperar bons anos para o futuro.
Mas no que isso me impacta?
Análise ou futurologia: a diferença entre método e “achismo”
Utilizemos um caminho teórico que possa nos iluminar enquanto trabalhamos os fatos.
Em Economia há um conceito simples e que os estudantes aprendem tão logo adentram os curso chamado ceteris paribus, expressão em latim que significa, em tradução livre, tudo o mais constante. Ou seja, ao analisar um determinado fato, inalteradas e isoladas as demais variáveis, uma/algumas determinada(s) causa(s) resulta(m) em um determinado efeito.
Isso é método.
Porém, note que estamos falando de compilar o que o passado nos ensinou, o que os fatos concretamente nos apresentam e, a partir disso, verificar possíveis cenários para o futuro.
Isso é diferente de puramente tentar “adivinhar” o futuro, dizer que o dólar estará exatamente em X,XX em 2020 e que a inflação de 2019 será de X,XX porque “eu acho” que será isso. Também não é a intenção do presente artigo te dizer se você deve, por exemplo, aplicar em Tesouro prefixado pois a inflação cairia e você aumentaria seu retorno real tendo uma taxa fixa de retorno. Para isso, seria necessária uma compilação de como se comportaram as variáveis monetárias de nosso país e cruzar com o plano de governo de Bolsonaro, algo que não é o escopo do artigo.
O objetivo aqui é, a partir dos fatos apresentados, entender o contexto do país e estabelecer uma mentalidade, um insight para método de ação, mais do que tentar adivinhar o futuro como se uma loteria fosse.
O novo contexto e suas consequências
Cada dia que passa o mundo corporativo se torna mais ágil e dinâmico. Empresas que outrora eram dominantes sucumbiram, e novos empreendimentos disruptaram mercados e se consolidaram como referências em seus segmentos. Na visão do grande público, produtos que antes eram o carro-chefe de grandes companhias se tornaram ultrapassados da noite para o dia e a última novidade do momento é o novo alicerce para como a sociedade irá se comportar nos próximos tempos.
Evidente que apenas na visão do grande público, já que não existem lampejos mágicos que mudam o mundo da noite para o dia. Internamente existem empresas que trabalham diariamente dentro de uma mentalidade livre, inovadora e desprendida que permite que a disrupção surja como uma consequência natural e existem os players letárgicos, que se prendem a práticas, processos e sucessos do passado que funcionavam apenas no passado e que condenarão esses mesmos players a, no melhor dos cenários, um lugar secundário no pódio.
O Brasil tende a entrar ainda mais nesse mundo competitivo, disruptivo e dinâmico já que nossos eleitos defendem esse cenário. Podemos testemunhar uma maior seleção natural darwiniana no ambiente corporativo brasileiro, no qual a mudança se fará ainda mais necessária e que qualidade e agilidade deixarão de ser um trade-off, e sim competências que deverão existir mutuamente. Cada vez mais competiremos/ofertaremos globalmente e menos localmente.
Conclusão
Podemos concluir, então, que o Brasil tende a melhorar sob uma percepção darwiniana, ou seja, aqueles que “sobreviverem” a esse processo de seleção natural no mercado galgarão lugares mais altos no pódio e, por serem melhores, otimizarão os resultados das empresas brasileiras na média.
Tendo em vista todas essas informações particularmente recomendo, sim, se prender à sua metodologia. Todavia, não se torne escravo dela: reavalie-a sob a lógica do ceteris paribus, e desconfie sempre daqueles que dizem que ter a “grande solução do futuro”. Num cenário caótico como o atual capitalismo globalizado, mesmo se a solução for efetiva terá um prazo de validade, o qual já pode até ter vencido ou pelo menos estar em vias de vencer.
A evolução se tornará algo cada vez mais veloz. As quedas, mais comuns. As oportunidades, mais frequentes.