Magatte Wade, uma voz africana pelo livre-mercado

Magatte Wade nasceu no Senegal, estudou na Alemanha e na França, e começou sua carreria empresarial em São Francisco, Estados Unidos, onde fundou a Adina World Beverages depois de trabalhar com start-ups no Vale do Silício. Esta criando a sua segunda empresa, a Tiossano, uma marca de produtos cosméticos que integra as três culturas que a formara, Dakar, Paris e São Francisco. Ela é fluente e conduz negócios em wolof – a língua indígena predominante em Senegal -, francês e inglês.

Traduzindo uma entrevista de Magatte Wade concedida ao site Libre Mercado (www.libremercado.com):

Magatte Wade, empresária senegalesa de grande sucesso. Considerada uma das 20 mulheres mais influentes da África pela Forbes.

I. Magatte, como uma pessoa que nasceu, cresceu e segue muito vinculada a Senegal, qual é sua impressão sobre o porquê da África ser tão pobre?

Tentar fazer negócios em Senegal, assim como em grande parte da África, é uma odisséia. É excepcionalmente difícil conseguir fazer qualquer coisa. Por exemplo, pode custar meses conseguir ter eletricidade em funcionamento, a não ser que dê “presentes” às pessoas certas.

Outro exemplo disto é o fato de que a polícia rodoviária pára constantemente os carros de forma aleatória. Se não tiver os papéis do seu carro em perfeição, tem que pagar à polícia uma quantia em dinheiro para continuar o trajeto. Dado que manter estes papéis via de regra requer muitos dias de longas esperas em filas, a maioria das pessoas simplemente prefere pagar à polícia um dólar a cada vez que lhes param, para poder continuar.

Multiplique esses problemas por mil e você pode ter uma idéia do que é fazer negócios na África. Tenha em mente que cada fabricante e prestador de serviços precisa pular obstáculos semelhantes. Então você percebe por que temos tão pouca atividade industrial ou de serviços profissionais.

Por causa desta burocracia sem sentido e regulamentação excessiva, a grande maioria dos africanos trabalha na economia informal. Então eles não podem obter empréstimos bancários, de seguros ou proteção legal para qualquer de suas atividades. A economia informal funciona, à sua maneira, mas impede que o africano médio crie empresas que possam ter sucesso e crescer para aproveitar as economias de escala e obter ganhos em eficiência.

Nos Estados Unidos, assim como na África, quase todo mundo é um empresário na família. A diferença crucial é que as empresas americanas podem obter empréstimos, sua propriedade é protegida por lei e pode ser segurada, e se a sua empresa cresce pode acessar os mercados de capitais desenvolvidos. Nada disso está disponível para os africanos.

II. Agora você é uma empresária com um forte compromisso com seus concidadãos senegaleses. Que projetos empresariais você criou ou tem em marcha e qual tem sido o seu impacto sobre Senegal?

Com minha primeira empresa, Adina World Beverages, reativei a indústria do hibisco (um gênero de plantas que cresce no Senegal). Em uma viajem a meu país natal descobri que o bissap, a tradicional bebida senegalesa feita de hibisco, estava sendo substituída pela Coca-Cola e a Fanta. Fiquei furiosa, e então me dei conta de que só quando as tradicões de Senegal fossem respeitadas no Ocidente, os senegaleses voltariam a respeitar sua própia cultura.

Por isto criei a Adina, para comercializar nos Estados Unidos bebidas de hibisco procedentes do meu país. Quando comecei, este tipo de bebida estava quase morto, mas depois de trabalhar com sócios em Senegal e da Universidade de Rutgers conseguimos fazer ressurgir uma indústria de hibisco orgânico em Senegal que agora emprega mais de 4.000 mulheres.

Atualmente, estou trabalhando em minha segunda empresa, Tiossano, que está comercializando no mercado estadunidense produtos para o cuidado da pele baseados em receitas tradicionais de Senegal. Meu objetivo é criar uma cadeia de fornecimento completa localizada em Senegal e, em última instância, criar milhares de empregos.

Para a fase de prova do conceito estamos fabricando nos EUA, mas logo que possam me permitir criar a infraestrutura para fazê-lo no Senegal levaremos a produção para lá. Também estou dedicando 50% dos benefícios da Tiossano para contribuir para impulsionar uma educação inovadora em Senegal, baseada no trabalho de meu marido, Michael Strong.

III. O que podem fazer os países desenvolvidos para ajudar aos mais pobres? O que recomendaria aos indivíduos que querem o bem para a África?

O mais importante que se pode fazer é que os indivíduos comprem produtos de qualidade feitos na África e que invistam em empresários e companhias africanas. O capitalismo é o único caminho para criar prosperidade, e a África necessita urgentemente de mais capitalismo. As pessoas também podem apoiar o movimento das Cidades Livres como estratégia para criar lugares com sistemas legais de alta qualidade.

Ao contrário, não deveriam apoiar a ajuda externa de governo a governo, dado que a maior parte dela vai manter o mesmo velho sistema corrupto. Respeito as ONGs, mas enquanto sinto grande respeito com relação às que se dedicam a ajuda humanitária urgente, não me convence o desempenho da maioria das ONGs na África.

Com frequência, estas pagam a jovens incompetentes, mas idealistas, de países desenvolvidos para dizer a nossa gente o que há de ser feito. Consiste mais em fazer que os doadores e jovens idealistas se sintam bem consigo mesmo que em beneficiar nossos países e a nossa população. Salvo que as ONGs sejam ou estritamente humanitárias ou verdadeiramente efetivas, na hora de ajudar-nos a construir negócios reais preferiria que ficassem de fora.

Em dado momento calculei que havia cerca de 500.000 cooperadores na África. Se tivéssemos 500.000 empresários, cada um com os 100.000 dólares de capital que, provavelmente, absorvem anualmente cada um de seus cooperadores, estaríamos muito melhor.

IV. Nos seus textos, você enfatiza a importância dos empresários. Por que são tão importantes para sair da pobreza e desenvolver-se?

Todo o progresso tem lugar através da destruição criativa. Se as novas empresas não tirassem do mercado as velhas, estaríamos com as mesmas coisas que tínhamos a cem ou duzentos anos atrás.

Michael e eu visitamos Ruanda, um dos países mais pobres da terra, faz alguns anos. Sabe, ainda se dedicam à agricultura de subsistência por todo o país, fazendo quase o mesmo que faziam a dois mil anos atrás exceto pelo fato de agora terem enxadas de ferro e alguns tem bicicletas para levar os bens ao mercado.

Do que necessitam en Ruanda? Empresários que criem empregos industriais de forma que possam abandonar a vida agrícola para melhorar sua condição. No lugar de cultivar batatas e milho para comer só o suficiente para sobreviver, necessitam cultivar café, chá, e óleos essenciais para a exportação, além de fazer o máximo possível do processamento destes bens no país para beneficiar-se dos preços mais altos que obteriam por agregar valor a estas commodities. Esta é a única forma para converterem-se num povo orgulhoso e próspero neste mundo moderno.

V. E o que os políticos deveriam fazer?

Os tomadores de decisões políticas têm que facilitar aos empresários as coisas para que façam seu trabalho. Direitos de propriedade seguros, estado de direito e liberdade econômica é tudo o que se necessita para gerar prosperidade através do trabalho dos empresários.

Parece muito simples, mas muitos governos de todo o mundo não parecem entender e pioram as coisas. Hong Kong e Cingapura eram quase tão pobres como muitos dos países africanos em 1960, e agora são dois dos lugares mais ricos da terra, assim como dois dos países mais livres econômicamente.

Leia na íntegra aqui.

3 comentários em “Magatte Wade, uma voz africana pelo livre-mercado”

  1. Coloque um botão de Curtir do Facebook… acho que ajudaria ainda mais na divulgação. Tem gente que prefere curtir do q compartilhar é bem mais prático. Só uma dica… Muito bom traduzir essa entrevista, parabéns!!!

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