MENTIRAM PARA VOCÊ SOBRE A EDUCAÇÃO FÍSICA NO REGIME MILITAR

Por: Alessandro Barreta Garcia; Eduardo Francisco Clementino. Professores de educação física

É patente à maioria da sociedade que há uma doutrinação ideológica na educação brasileira, mas são raras as menções das táticas e estratégias usadas pelos professores de educação física para doutrinarem seus alunos. O presente texto dispõe-se a trazer à tona tais manobras.

É patente à maioria da sociedade que há uma doutrinação ideológica na educação brasileira, mas são raras as menções das táticas e estratégias usadas pelos professores de educação física para doutrinarem seus alunos. Tal doutrinação, de viés esquerdista, ocorre no âmbito da história da educação física e chega às escolas, por exemplo, com o discurso de demonização da técnica e do esporte tradicional.

A partir do fim do regime militar em 1985 (Garcia, 2015), tivemos novas discussões concernentes à forma à qual a educação física dever-se-ia apresentar-se na educação básica. Ondas marxistas e neomarxistas vicejavam a educação brasileira e o resultado foi à entrada incisiva do marxismo cultural no esporte (marxismo cultural é a mudança do marxismo clássico que pegava em armas para um marxismo ideológico que substituiu as armas pela infiltração de intelectuais orgânicos em todas as esferas da sociedade).

A teoria crítica surgiu opondo-se ao que os autores chamam de educação mecânica, vista como uma espécie de ferramenta de controle ideológico, sendo implantada pelos militares no período do regime militar. Na lógica dos autores, como todo bom marxista acredita que toda análise histórica pode ser vista pela ótica econômica, és o que Marx e Engels chamavam de determinismo econômico, ou seja, a interpretação da história da sociedade a partir do aspecto material.

Frequentemente os autores correlacionam a educação técnica com os meios de produção, sendo o tecnicismo um meio para produzir cidadãos passivos e escravos do capitalismo. Quando se fala em didática da educação física, autores como Taborda de Oliveira, entre outros, sempre tendem a atrasar os fatos, quando não, os ignora.

Taborda de Oliveira (2003), afirma que o primeiro texto subsidiando a prática profissional da educação física escolar, surge em 1971, denominado “Programa de Educação por Temporada”; conforme o autor, este texto surge devido à necessidade do banimento da improvisação (aulas não sistematizadas, sem sequenciamento pedagógico).

O programa de Educação Física por Temporada empresta sua denominação das competições esportivas. Refere-se a uma forma de organização do trabalho pedagógico de Educação Física em que cada período de tempo (mês, bimestre, trimestre ou outros) se desenvolve determinada modalidade esportiva. Daí resultou a tradicional forma de organização da Educação Física escolar. (Taborda de Oliveira, 2003, p. 173)

Entretanto, conforme Faria Junior (2014), o programa por temporada surge para o professor de educação física na década de 60, tendo como idealizador Julio Mazzei no qual publica em 1960, o livro “Novas Concepções do Programa por Temporada”, que volta a ser publicado junto a uma coleção em 1967, coleção denominada de “Cultura, Educação, Educação Física, Esportes e Recreação”. Como continuidade do programa por temporada, surge sob o comando do professor Alfredo Gomes de Faria Junior a ideia de programa por unidades didáticas.

No período de 1975 a 1978, foi concebido o documento denominado “Segundo Plano de Educação”, nesse documento se estabeleciam os núcleos comunitários — instituições educacionais regidas por três estruturas integradas de ensino: a unidade de educação, a unidade de saúde e a unidade social (Henklein; Silva, 2012).

Segundo Henklein e Silva (2012), “neste documento pode-se notar uma política educacional mais ampla, que pretendia abarcar também a comunidade”.

Assim como Taborda de Oliveira, Henklein e Silva também atrasam os fatos, campeonatos estudantis já existiam pelo menos desde 1941, se isto não é integrar a comunidade, não sei mais o que é (Campeonato Intercolegial de Educação Física, 1941).

Após a queda de o governo militar fez-se necessário uma “renovação” da educação física escolar; podemos notar o erro inicial da renovação, conforme Henklein e Silva (2012), os profissionais de educação física não foram convocados a participar do novo referencial, mas sim pedagogos que nada entendem de motricidade humana. Para Ulrich Celeste (1977): “A Educação Física encontra-se nos movimentos planejados de um indivíduo; movimentos que são estruturados quanto à forma, sensação e resultado”.

Convocar pedagogos para debater sobre o destino educacional da educação física parece-me que as aulas desta área de conhecimento eram consideradas uma ocasião de juntar certo número de alunos, a qual qualquer adulto pode mantê-los afastados de travessuras. Desconfio que ainda sejam assim consideradas, haja vista que algumas escolas particulares optam por pedagogos ministrarem as aulas de educação física.

Ainda segundo Henklein e Silva (2012), nesse novo documento datado entre os anos de 1975 e 1985, é possível constatar uma “nova” proposta na educação básica o chamado programa de educação física por temporada.

As autoras do artigo aqui exposto enaltecem a superioridade deste novo texto em relação ao anterior salientando que é “uma sofisticação do papel da escola, que não se restringiu somente ao aluno, mas também ao meio em que estava inserido” (Henklein; Silva, 2012).

É possível notar uma grande falácia nesta argumentação, pois o programa por temporada desenvolvido por Julio Mazzei (Faria Junior, 2014) já propunha a partir da divisão do ano letivo em temporadas, ou seja, por esportes. O programa por temporada propiciava a prática dos esportes mais tradicionais do país, assim valorizando a cultura do aluno. Este programa tinha um teor mais esportivo, mas não somente esportivo, nota-se a sua superioridade em relação ao atual programa, pois o mesmo compreendia que o processo de aprendizagem é complexo e lento, “não sendo possível assim, do “nada saber” aos domínios das habilidades desejadas com uma aula, por mais “magistral” que esta tenha sido” (Faria Junior, 1969, p.206).

Em 1975 surge o “Programa de Educação Física e Recreação Orientada”, material que fora reunido por profissionais da educação física, tornou-se uma espécie de tratado da educação física, propondo um plano que abrangia todo o estado de Curitiba. Henklein e Silva (2012), afirmam que este programa teria um viés biológico, incorporado às ideias de meritocracia, da hierarquia, do individualismo, da ordem, que são características típicas do esporte, mas para as autoras isto parece ser algo nocivo no meio escolar.

Outro ponto enaltecido por Henklein e Silva (2012) é a metodologia aplicada no programa, uma formação pautada na pedagogia tecnicista dos profissionais de educação física da época refletia na escolha do melhor método a ser utilizado no processo de ensino-aprendizagem. As autoras mencionam o nome que fora atribuído ao programa “A BÍBLIA”, com certo tom de jocosidade, como se o cristianismo, assim como a pedagogia tecnicista a elas fosse um meio de controle social.

O programa por temporada, proposto por Julio Mazzei, propiciou a difusão do desporto no âmbito escolar. O programa por temporada evoluiu para o trabalho por unidades didáticas mais de acordo com a filosofia do humanismo (Faria Junior, 2014).

Mas, mesmo sendo o idealizador do programa por temporada, o nome de Julio Mazzei não é mencionado uma vez sequer no trabalho de Henklein e Silva; é uma absoluta falta de compromisso com a verdade. Uma tentativa descarada de omitir a verdade.

Segundo Faria Junior (2014), “No Programa por Temporada predominavam os desportos, enquanto que no Trabalho por Unidades Didáticas ao desporto somavam-se outras unidades, como as Danças, à Ginástica Feminina Moderna, o Folclore”.

Desta forma podemos notar que a valorização da cultura do discente, a diversidade de práticas corporais e o respeito às limitações dos alunos já estavam presentes na educação física desde a década de 60, período que antecede o regime militar.

Logo, é uma falácia pregar um evolucionismo da educação física da escola nova da década de 80, Henklein e Silva tentam atribuir qualidades de uma nova abordagem da educação física que na verdade não tem nada de novo.

REFERÊNCIAS

CAMPEONATO INTERCOLEGIAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA. Departamento de Educação: Departamento de Educação Física — Prefeitura Municipal de Santos, 1941.

CARVALHO, O. Do marxismo cultural. O Globo, 8 de junho de 2002. Disponível em:<http://www.olavodecarvalho.org/do-marxismo-cultural/> Acesso em: 10 dez. 2017.

FARIA JUNIOR, A. G. DE. Os currículos de educação física e o ensino por unidades didáticas. Corpus Sci, Rio de Janeiro, v. 10, n.2, p. 16–32, jun/dez. 2014.

GARCIA, A. B. Educação física e regime militar: uma guerra contra o marxismo. Jundiaí: Paco Editorial, 2015.

HENKLEIN, A. P, et al. Do tecnicismo ao discurso crítico: a educação física nos documentos da rede municipal de ensino de Curitiba (1968–1997). Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte, v. 10, n. 2, 2012.

ULRICH, C. O. D. Educação Física: manual de princípios para estudantes de educação física. São Paulo: Universidade de São Paulo, 1977.

FARIA JUNIOR, Alfredo Gomes de. Introdução a Didática de Educação Física. Brasília, DF: MEC, 1969.

A questão da Islamização da Europa

Se há um problema que o ocidente tem enfrentado como sinal de sua decadência é sua islamização, bastante abordada pelos círculos da Direita. Geralmente esse tema é abordado com ares de conspiração, desejos de dominação. Basicamente, se aborda o tema como se os muçulmanos fossem à Europa com o desejo de islamizá-la, e por isso fazem dezenas de filhos. Pretendo apresentar outra visão.

O ocidental de forma geral, mais especificamente o europeu (que a esses males está exposto a mais tempo), perdeu todo e qualquer senso de comunidade e dever. Leva à sério de mais a máxima “ninguém manda em mim” e se entrega aos excessos hedonistas de nosso tempo. É a filosofia de vida do incompreendido “carpe diem”, somente possível nos tempos de abundância e total despreocupação. O ser humano vive, então, apenas para seu próprio prazer.

Há um contraponto, no mundo hodierno, que representa o exato contrário dessa filosofia: a civilização islâmica. Por mais inaceitáveis que possam ser certos comportamentos pela óptica dos direitos humanos, é inegável que é uma civilização que não se deixou seduzir pelo domínio excessivo da técnica. Existe, ainda, nesse grupo, um sentimento de unidade, de pertencimento a um todo por parte do particular, que há muito o ocidente perdeu.

É necessário falar da técnica porque ela é que abriu o caminho para um sistema de produção jamais visto na história em termos de força produtiva. Se o ser humano, até certo tempo atrás, tinha que lutar diariamente contra a natureza pela sobrevivência, conseguiu criar um reino de relativa abundância (que, apesar do período de decadência, ainda tem o que crescer). Essa facilidade, esse luxo, cria de certa maneira o comodismo de uma maioria, que observa os espíritos criativos guiarem o mundo (espíritos esses que, na atualidade, possuem apenas espaço no setor econômico, passando longe do político) e proverem o bem estar geral. A competição estimula, sim, a produção, dentre aqueles que possuem a gana para competir. Fica clara, nesse trecho, a análise conservadora de que não há progresso, mas mudanças que trazem tanto benefícios quanto malefícios.

Se por um lado a técnica nos trouxe abundância, por outro ela criou a dependência. A morosidade natural de certos espíritos cômodos é acentuada por uma avalanche de distrações e divertimentos, que sufocam toda e qualquer tentativa de transcendência e reflexão. O materialismo, na modernidade, sufoca (já em vias de matar) a espiritualidade. A palavra de ordem é aproveitar o agora, viver os excessos, ao invés de buscas a temperança e o equilíbrio. O resultado final é livrar-se de toda forma de responsabilidade, já que essa, no fim, “aprisiona” (e a tendência mundial de casais que trocam filhos por gatos e cães).

Voltamos, então, à Europa, continente mais afetado pelos males que trazem o progresso da técnica (e, importante lembrar, não estou a ignorar os benefícios, mas apenas a lembrar que tudo possui dois lados). A culpa dessa islamização é partilhada: islâmicos não vão com o objetivo de islamizar a Europa, mas de ascender de vida, inclusive em empregos que os europeus não querem ocupar. Se por um lado os muçulmanos vivem dando seguimento ao ciclo reprodutivo, os europeus esqueceram-se dessa faceta da vida, não querem para si a responsabilidade de criar um ou mais filhos. São bons demais para a comunidade e precisam apenas de seus prazeres imediatos. Viveram uma decadência moral até seu quase fim. Alguns dizem que eles estão a acordar e que podem viver um renascimento moral. Eu acredito que já é tarde: o futuro do ocidente não mais esta em mãos europeias, mas em mãos das américas.