Enfim, o que é a Esquerda?

Texto escrito pelo blogueiro Luciano Ayan, em 2010. Para ler o texto original clique aqui. Para ler as postagens atuais do seu blog, clique aqui.

Várias vezes neo ateus se opõem ao que escrevo de forma indignada, dizendo algo como “O Luciano quer dizer que nós somos de esquerda, mas eu não sou marxista”.

Por isso, já passou do tempo de esclarecer bem a questão da esquerda, e EXATAMENTE o que trato quando cito a esquerda.

Uma forma melhor de tratar a esquerda, como um todo, seria como sistema humanista de governo.

O humanismo, naturalmente, não nos diz como gerir economicamente um país, mas dá uma base para todas as ideologias da esquerda.

O humanismo é a crença na idéia de que o homem, por sua ação, poderá criar um mundo perfeito, isento “de males”.

Daí, os sistemas de governo da esquerda traziam a idéia: “Então vamos inchar o estado para fingir que lutamos por esse mundo”. Simples assim.

Muitos religiosos duvidam do paradigma humanista, pois simplesmente acreditam que o ser humano é falível. Digamos que para o religioso o ser humano é um pecador em potencial.

Para chegar à essa constatação, não precisamos nem da religião, pois até alguns filósofos ateus concordam exatamente com a mesma proposição. Como exemplo, John Gray e Arthur Schopenhauer.

Para John Gray, a idéia de que o homem poderá criar um paraíso em Terra através “da ciência” não passa de uma ilusão, um ranço que vem dos tempos do positivismo. E John Gray usa em sua teoria apenas a teoria da evolução. (Por isso, nem todo ateu é humanista, mas quase todo humanista é um esquerdista, e o neo ateu é um humanista radical)

Qualquer conservador, em essência, duvida de qualquer sistema de governo humanista. Portanto, por tabela duvida de qualquer sistema da esquerda.

Marxismo, liberalismo social e social democracia são as três principais alternativas para um sistema de governo de esquerda. E todos são derivados logicamente do humanismo.

O marxismo promete o mundo sem divisões sociais através da luta armada. Já a social democracia promete o mesmo mundo, mas obtido a partir de uma luta democrática. O liberalismo social é o mais facilmente vendável, e hoje atinge o PSDB no Brasil e o governo Obama nos Estados Unidos (lá eles atendem pelo nome de “Democratas” ou “Liberais”), e foca na luta por um mundo sem fronteiras, com “justiça social” e o blábláblá de sempre.

O neo ateísmo é uma vertente liberal de anti-religiosidade, surgida com o fim de aumentar o poder político dos “seculares”, uma “tropa de elite” de humanistas seculares mais agressivos, sempre com o viés globalista, mania de todo liberal. (Não vamos confundir com liberalismo social, dos “liberais” da esquerda, com o liberalismo econômico, dos conservadores)

Em um post que que fiz em 15 de setembro, Brasil: Game Over OU O Começo da Ditadura Formal, Licorne Negro fez algumas perguntas extremamente relevantes:

Gostaria de saber qual a origem desse delírio esquerdista de achar que todo partido que está na situação é de direita, não importa que seja de esquerda e aja com uma agenda de esquerda, adaptando apenas pontos mínimos (geralmente na economia) devido à necessidade de agir de forma minimamente realista. Isso viria da época de Dom Pedro, em que se dizia que não há nada mais conservador que um liberal no poder? Ou isso faz parte da estratégia gramsciana? Também gostaria de saber porque no Brasil tratamos o PSDB como direita? E porque muita gente diz que nos Estados Unidos só há partidos de direita, mesmo que os Democratas tenham se mostrado esquerdistas em todo seu modo de agir?

Excelente questão, diga-se.

Os fatos são os seguintes.

O PSDB é de esquerda (da linha do liberalismo social) e o PT também (da linha marxista).

É importante notar que o fato do PT ser de linha marxista não implica em que eles tenham que usar a política soviética exatamente como foi feita por lá.

Pelo contrário. De acordo com a estratégia gramsciana, eles podem até utilizar preceitos liberais, uma política de mercado para alguns setores e até aliança com mega-empresários (Eike Batista, Abílio Diniz, Silvio Santos), tudo em nome da obtenção do poder.

Já o PSDB que aparenta ser de “direita” (somente no discurso dos marxistas puristas), no final das contas defende a mesma coisa, só que fez algumas privatizações.

Mas todas as privatizações feitas pelo PSDB foram insuficientes diante do inchadíssimo estado brasileiro.

É aí que temos o cerne da esquerda, da qual ambos fazem parte. Toda a esquerda tem como pilar o estado inchado.

Pois o estado inchado será o “meio” através do qual esses auto-declarados “iluminados” fariam a “justiça social”.

Mas toda essa idéia de que PSDB é de “direita” é derrubada com uma análise de debates recentes dos dois candidatos à presidência.

Dilma Rouseff ataca José Serra dizendo que ele é um “privatizador, que vai privatizar a Petrobrás”. Serra responde que não vai “privatizar a Petrobrás e nem o Banco do Brasil de jeito nenhum”.

Isso é sinal de que temos dois esquerdistas debatendo.

Alguém de direita já diria algo do tipo: “Sim, eu sou a favor de privatizar a Petrobrás, e também o Banco do Brasil, para que o estado receba impostos de ambos, agora como empresas privadas, empresas estas que não poderão mais serem usadas como cabide de emprego para partidos políticos. Em resumo, em um governo meu, as oportunidades de aparelhamento de estado cairiam ao mínimo, pois nas empresas privadas vocês não podem fazer a mesma bandalheira que fazem em empresas estatais”.

Qualquer resposta com um tom menor que este não é de direita.

Quem é de direita simplesmente NÃO CONFIA nas propostas humanistas, que geraram as ideologias da esquerda.

Quem é de direita NÃO CONFIA na Petrobrás nas mãos do estado, pois sabemos que eles utilizarão a empresa como máquina de cargos distribuídos para militantes.

Para alguém de esquerda, é normal a noção de que uma empresa desse porte fique nas mãos do estado. Pois o militante esquerdista tem a CRENÇA de que alguns homens (seriam os “anjos” em Terra, como diria Friedman) estão na missão de levar a “justiça social” através de sua ação, usando para isso “o Estado”.

Assim, não há como confundir esquerda ou direita.

E quando um petralha diz que “PSDB é de direita”, ele está simplesmente executando a Estratégia das Tesouras, de Stalin.

Olavo de Carvalho nos dá mais detalhes, conforme visto em seu texto “A Mão de Stálin está sobre nós”:

A articulação dos dois socialismos era chamada por Stalin de “estratégia das tesouras”: consiste em fazer com que a ala aparentemente inofensiva do movimento apareça como única alternativa à revolução marxista, ocupando o espaço da direita de modo que esta, picotada entre duas lâminas, acabe por desaparecer. A oposição tradicional de direita e esquerda é então substituída pela divisão interna da esquerda, de modo que a completa homogeneinização socialista da opinião pública é obtida sem nenhuma ruptura aparente da normalidade. A discussão da esquerda com a própria esquerda, sendo a única que resta, torna-se um simulacro verossímil da competição democrática e é exibida como prova de que tudo está na mais perfeita ordem.

Resumindo: quando tratamos o PSDB como “de direita”, já caímos na fase em que a estratégia das tesouras está bem desenvolvida em nosso país.

Aqui, no máximo o DEM poderia ser quase um partido de direita.

Mas as declarações de Índio da Costa no mês de agosto, dizendo que “é de esquerda”, causam algum desânimo. E o partido quase inexiste politicamente.

Quer dizer, direita não existe. Temos uma QUASE direita com o minúsculo DEM.

E a partir dali, é tudo esquerda, e isso inclui PSDB, PMDB, PV, PT, PCdoB, PSOL e todo tipo de porcaria.

A pergunta que resta é: como pudemos chegar à esse estágio de dominação esquerdista?

Simples: estratégia gramsciana.

Em raros países a estratégia gramsciana foi executada de forma tão coordenada, utilizando-se inclusive de unidades especializadas de doutrinação em grandes universidades, como a USP.

O senso comum da população brasileira, mesmo que seja um povo inerentemente conservador, está “formatado” para ir pensando de acordo com as ideologias da esquerda.

Tanto que nesse novo universo mental, até mesmo diante de diferentes sistemas de esquerda se convencionou chamar um deles de “direita” e outra de “esquerda”.

Por isso, chegamos à esse estágio de declínio cultural em que grande parte da população sequer consegue saber o que “direita” significa.

Ser de direita significa ser conservador, um adepto do livre mercado, do estado enxuto, da meritocracia, de uma moral objetiva (e não uma “moral fluida” ou “moral discutida”), etc.

Tanto PSDB como PT não tem absolutamente nada do que se esperaria em um partido de direita.

Nos Estados Unidos, os Democratas são um partido de esquerda, e os Republicanos são um partido de direita.

Vemos isso claramente na obsessão pelo estado inchado dos Democratas, como com o “Obama Healthcare”. E a rejeição ao estado inchado é base das manifestações republicanas.

Enfim, a diferença entre direita e esquerda nos Estados Unidos é claríssima.

Quando um petralha diz que “nos Estados Unidos só há partidos de direita”, ele mente no mínimo duas vezes.

Primeiro, por que na verdade, nos Estados Unidos há direita e esquerda, e isso é visto na diferença radical entre as duas propostas.

Segundo, por que no Brasil, o máximo de “direita” que temos são partidos iguais aos Democratas norte-americanos, portanto não faz sentido chamar qualquer grande partido nacional de “esquerda”.

Enfim, aqui vão duas regras básicas para facilitar a classificação:

  • Se alguém defende o estado inchado, inclusive com manutenção de estatais como Banco do Brasil e Petrobrás na alçada do governo, é de esquerda; se defender a manutenção apenas do básico absoluto com o Estado (como a segurança pública), é de direita;
  • Se vier com conversinhas como “nós lutamos pela justiça social”, é de esquerda, pois qualquer esquerdista tenta “se vender” fingindo que luta por todos, quando na verdade é só busca de autoridade; quem é de direita geralmente diz que “quem trabalha mais, merece mais”, o que pode parecer menos demagógico,  mas é mais realista.

Aplicando essas duas regras, que podem ser sustentadas por qualquer investigação na literatura dos autores de esquerda, vemos que nem PSDB e nem PT são de direita.

Aliás, no Brasil, não há direita.

E precisamos de uma direita ativa para fazer a oposição à esquerda.

Até por que os ideólogos da esquerda estão na espiral da bobagem, até por que é difícil encontrar bobagem maior do que dizer que o PSDB é de “direita”.

Se daqui uns 15 ou 20 anos, tivermos uma elite conservadora para fazer contraposição aos ideólogos da esquerda, talvez deixem de falar tanta bobagem.

Os políticos não aguentam mais tanta Democracia

As redes sociais andam incomodando, e muito, nossos políticos. Medidas autoritárias e antidemocráticas já não são mais aceitas como antigamente: as pessoas agora tem acesso a informação muito mais rapidamente do que décadas atrás, e portanto já conseguem se manifestar contra o autoritarismo em tempo real. E haja autoritarismo para derrubar: só nesta semana já fiquei sabendo do apartheid maranhense e de um deputado que quer impor o vegetarianismo até nas escolas públicas. Tão logo a reclamação surge, os mais esquentadinhos já vão tratando de silenciar o cidadão que é para a página ficar bem decorada só com os elogios daqueles que concordam com as medidas.

Talvez ainda não tenham lembrado os políticos – pessoas públicas – de que o cidadão offline também é cidadão online, e portanto goza do direito à liberdade de expressão – o que inclui não ser censurado. Uma pessoa pública que monta uma página ou perfil no Facebook deve estar preparada para ouvir críticas PÚBLICAS, afinal política trata das coisas PÚBLICAS. É, meu amigo, internet is serious business.

Dia 9 de outubro entrei em contato com o Senador Cristovam Buarque (PDT) pelo Facebook. Para quem não sabe, ele é o autor do projeto de lei que pretende acabar com o direito do cidadão brasileiro de possuir armas – PL 176/2011. Enviei-lhe a seguinte mensagem:

Olá, senhor senador Cristovam Buarque. Gostaria de fazer um pedido em nome de todas as pessoas que já votaram, pelo votenaweb.com.br, contra a tramitação da PL 176/2011.

Peço que retire urgentemente esta tramitação pelos seguintes motivos:

1 – Viola o direito humano à defesa.
2 – Não reduz a criminalidade, como já foi comprovado em diversos casos ao redor do mundo e aqui mesmo com as armas de uso restrito.
3 – É um desrespeito explícito à decisão do povo brasileiro no Referendo de 2005, quando 60 milhões de pessoas votaram pelo seu direito de defesa.

Agradeço a sua atenção

Não basta que o projeto viole o direito humano de defender a própria vida, não basta que seja uma medida completamente ineficiente na redução do número de crimes (e o uso de armas já proibidas como as de uso restrito das FAs é prova disso), não basta passar por cima da decisão de dezenas de milhões de cidadãos no Referendo das armas que demonstrou, claramente, que o povo é CONTRA o desarmamento. Agora ele deu para ficar bloqueando seus desafetos no Facebook, para não ter de ler aqueles que discordam de suas ideiazinhas totalitárias. Sabe como é, político só aguenta ouvir o povo (“de onde emana o poder”) até a página dois. Quando o povo demonstra que é contra seus devaneios, ele tapa os ouvidos e toca o projeto. Comportamento semelhante se observa em crianças quando elas colocam as mãos no ouvido e repetem incessantemente: “lalalalalala não tô te ouvindo lalalalalala”.

Para um projeto de emenda constitucional bom do referido senador, o que permite o lançamento de candidaturas independentes de partido, há dezenas de propostas péssimas, para não dizer tragicômicas. Uma de suas PECs viola o direito de auto-afirmação dos povos: veda o reconhecimento de qualquer novo país latino-americano criado a partir de secessão. Outra quer estatizar a Felicidade. Mas nenhuma se compara à sua cruzada contra a democracia e contra o direito humano à defesa.

Se você leitor quer continuar lutando pelo seu direito de defender sua vida e a de sua família, já sabe em quem NÃO VOTAR: Cristovam Buarque.

Mas, se você quer ver seu direito de defesa garantido, apoie a PL 3722/2012 do deputado Rogério Peninha Mendonça (PMDB) e os movimentos envolvidos com a garantia do direito de aquisição, porte e posse de armas.


Defenda os seus direitos:

Não vamos nos esquecer da Cidinha Campos

Escrevo esse breve artigo sob o risco de receber em casa um atentado com direito a alguns tiros na cabeça. Mas não importa. Se acontecer, que pelo menos a deputada lembre meu nome no plenário. O que Cidinha falou no espaço que lhe é concedido é um absurdo, mas serve para nos iluminar a respeito do caminho que trilha o governo atual: a construção de uma ditadura.

Quando os próprios políticos vêm a dizer que uma pessoa devia ter aprendido com o atentado que sofreu para parar de falar, sabemos o que realmente pensam sobre a liberdade de expressão. E esse tipo de atitude em uma época em que o PT tenta empurrar goela abaixo sua ideia de “marco regulatório” da mídia. “Marco regulatório”… como já dito aqui e em várias outras fontes, apenas um nome elegante para censura e controle da mídia. Uma paixão antiga do PT.

As pessoas acham que uma ditadura não é mais possível. Elas tendem a achar que já aprendemos com o passado, então deixar o PT no poder rumo aos 20 anos não tem perigo nenhum. A má notícia é que nunca aprendemos. Os erros se repetem ao longo da história. E no Brasil parecem se repetir um pouco mais rápido que nos demais países. A memória curta do brasileiro frente a um ato escancarado de apologia à censura violenta do discurso apenas ilustra o que digo aqui. Olhos abertos, Brasil. Olhos abertos…

Brasil cai 41 posições no ranking de liberdade de imprensa

De acordo com o Press Freedom Index de 2012, índice publicado pela Reporters Without Borders (Reporters sans Frontieres), o Brasil caiu 41 posições no ranking de liberdade de imprensa, o que deixa o país na 99ª posição. Estamos atrás de países como Guatemala, Congo, Zâmbia e Quênia  e a anos-luz dos primeiros colocados Finlândia, Noruega, Estônia, Holanda e Áustria.

Segundo o artigo do site, “Uma das maiores quedas na América Latina foi o Brasil, que despencou 41 posições até o 99º lugar por causa da alta incidência de violência que resultou nas mortes de três jornalistas e blogueiros.”

Repressão à liberdade de expressão caminha a passos largos no Brasil

A tendência é que a censura, a repressão e a violência no país aumentem ainda mais se não detivermos projetos de lei como o do senador Roberto Requião (PMDB) que torna obrigatória a publicação de respostas nos meios de comunicação. Políticos desaforados como a deputada Cidinha Campos (PDT-RJ) já tem demonstrado o total desrespeito que tem pela livre imprensa, não exitando atacar pessoalmente qualquer um que os exponha com verdades inconvenientes.

Mas ainda pior é o Marco Regulatório das Comunicações (PT) que tem o descarado objetivo de calar a mídia independente bancando com verba pública quem quer se dedique a bajular o governo e defender a agenda do Partido. A desculpa oficial deste último é “garantir pluralidade e diversidade na mídia atual, que esvazia a dimensão pública dos meios de comunicação e exige medidas afirmativas para ser contraposta”. É a pluralidade compulsória, que beleza.

Estupradores da liberdade: eles querem acabar com seu direito de discordar.

Segundo o desaforado texto “Impera, portanto, um cenário de ausência de regulação, o que só dificulta o exercício de liberdade de expressão do conjunto da população”. Afinal todos sabemos que só é livre para ir e vir aquele cidadão que tem a sua rota regulada, não é mesmo? Assim como só tem liberdade de expressão garantida aqueles que o governo pode determinar o que falam. Da última vez que estudei História, todas as ditaduras foram impostas com promessas de liberdade.

O objetivo é explícito: “A ausência deste marco legal beneficia as poucas empresas que hoje se favorecem da grave concentração no setor.” Ou seja, a situação atual beneficia quem tem poder de ameaçar os governantes. O que interessa ao governo é uma mídia dócil, diminuta e dividida.

“Socialismo do Século XXI”
A julgar pelas repressões similares que vem ocorrendo já há anos na Venezuela de Hugo Chávez e mais recentemente na Argentina de Cristina Kirchner, podemos afirmar sem dúvida que o projeto das esquerdas latinas é o controle da imprensa a todo custo. Democracia boa para a esquerda é aquela que não tem oposição, como Cuba e Coréia do Norte.

Deixo apenas uma reflexão de um dos homens mais sábios que já pisou em terras brasileiras:

Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados.

– Millôr Fernandes

Deputada Cidinha Campos divulga dados da mãe de desafeto no Twitter

por Flavio Morgenstern, postado originalmente no Implicante. Para ler o artigo original, clique aqui.

A deputada Cidinha Campos (PDT-RJ) é famosa por seus discursos inflamados, que costumeiramente vão parar no Youtube. A brizolista aguerrida costumava ser uma das incontáveis vozes a criticar o governador do Rio, Sério Cabral. Ganhou enorme repercussão com sua facúndia disparada na Alerj contra o deputado estadual José Nader (PTB-RJ), que se auto-indicou para uma vaga no Tribunal de Contas do Rio de Janeiro.

Sendo uma voz bastante popular e populista, a ex-companheira de Hebe Camargo ganhou muitos fãs com sua verve retórica – muito mais do que com o seu trabalho. Sendo reeleita em 2010, voltou à TV na Bandeirantes, com seu programa Cidinha Livre. Um dos fãs que ganhou na época foi o blogueiro Ricardo Gama, que ajudou na divulgação de alguns vídeos da deputada.

Mas o caldo entornou quando Cidinha recebeu em seu programa o governador Sérgio Cabral. Antes uma oradora que nenhum político gostaria de ter contra si, Cidinha passou a tratar o governador mansamente. Cidinha chegou a ser tachada de “pelega do Cabral”. O blogueiro criticou a atitude da deputada. Cidinha, que o tinha como uma excelente forma de divulgação de seu poder de fogo, não gostou, e usou a TV Alerj para revidar. Ricardo Gama havia acabado de sofrer um atentado no Rio em que tomou 3 tiros na cabeça (mas, felizmente, sobreviveu). Cidinha fez um discurso inflamado criticando Gama, que, sem medo, publicou ele próprio o discurso na íntegra, sem edição alguma:

Como se vê, Cidinha se orgulha de “dar o nome” a um deputado: segundo ela, no próprio plenário da Assembléia Legislativa, o “nome” do deputado José Nader é “canalha, vagabundo”. De acordo com Cidinha, seus colegas deputados “fazem uma espécie de complô”, sendo que eles ” têm acesso a esses meios de comunicação e dizem qualquer coisa. E você, que não concorda com eles, não tem espaço nenhum.” (anotem bem estas palavras)

A deputada até conta causos pra ilustrar sua tese: “Quando parte da sociedade tá pra entrar em greve inflama, desinvade, depreda, quebra, bate no deputado, puxa o seu cabelo… isso não é política, sr. presidente. Isso não é política: é covardia.” E lembra que foi “vítima desse meio. Da campanha desses partidos que acham que você tem de ser como eles são.” (as palavras a se lembrar se repetem)

De repente, Cidinha mostra a que veio e pra que pediu voz na Alerj:

“E esse rapaz que gritou aqui agora – tomou 5 tiros – é o Ricardo Gama, ele usa muito bem esse instrumento da internet pra denegrir a vida dos outros. Mas quem é que sabe da vida dele? (…) Esse Ricardo Gama pratica extorsão.Ele falava melhor porque não tinha tomado os 5 tiros ainda.

Ele agora fez uma cena (…) porque o deputado André Lazaroni tá processando ele [sic]. O Ministério Público Federal tá atrás dele. Agora o que vai sair no jornal amanhã? “O”BALEADO’ quis bater no deputado mais alto da Assembléia Legislativa e o deputado fugiu”.

A deputada Cidinha, do plenário da Alerj, não tem escrúpulo algum em ironizar alguém que acabou de sofrer um atentado (quase com toda a certeza devido a seu blog político). O tom do seu discurso põe uma tônica abusiva na palavra “baleado”, como se fosse motivo para vergonha da vítima, e não do deputado que cuida do estado do Rio de Janeiro (condição da qual Cidinha faz parte). Também tenta ironizar a voz de Rodrigo Gama, que na verdade não foi afetada pelo atentado. Isso fora as acusações genéricas, que qualquer hermeneuta pouco gabaritado pode perceber que, apesar da falta de indigitação e nomeação formal (a despeito do começo do discurso de Cidinha, em que afirma não ter medo de chamar ninguém de vagabundo na cara), claramente refere-se a Ricardo Gama.

Ricardo Gama, desavisado, retribuiu os elogios feitos na TV Alerj na mesma moeda. Cidinha o chamava de vagabundo, canalha, bandido, pessoa sórdida. Uma semana depois, Cidinha voltou à TV para fazer afirmações que ultrapassam todas as raias da convivência em sociedade: para criticar seu desafeto, tascou que “esse blogueiro é um facínora cibernético que toma três tiros na cabeça e não toma vergonha na cara“.

Lembremos agora das palavras da própria deputada Cidinha, sobre o “acesso a esses meios”, em que, se você “não concorda com eles, não tem espaço nenhum”, Cidinha resolveu processar Ricardo Gama por injúria (mesmo após atacar sua honra pela TV, enquanto o blogueiro só tem, enfim, um blog). Nota: apesar de Ricardo Gama ter um inquérito mofando na 12.ª Delegacia de Polícia do Rio pelo atentado em que tomou 6 tiros, empacado na tartaruguenta Justiça brasileira, os processos de Cidinha e do deputado André Lazaroni (PMDB-RJ) são céleres como um raio.

Quem notou o desnível foi Dâniel Frâga, que já está ficando conhecido por seus vídeos. Disse ele em um vídeo recente:

“O que eu quero questionar aqui é a desproporção de direitos entre o cidadão e um deputado. Cidinha Campos tem imunidade parlamentar, ela pode sim gritar no plenário, chamar as pessoas de vagabundos, criticar e xingar o blogueiro Ricardo Gama. Quando ele resolve fazer o mesmo através de um vídeo na internet, recebe um processo.

Por que você [Cidinha] não está preocupada com o autor da tentativa de homicídio contra Ricardo Gama? Ou seja, o sujeito recebe 6 tiros, forma mais clara da omissão estatal, a falácia da segurança pública do seu querido governador Sérgio Cabral (que não adianta nada) e do seu querido Estado – afinal você é apenas mais uma parte do Estado e reforça e legitima esse poder estatal – e pra isso você não move um dedo. Ou seja: a polícia do RJ está onde? Na hora que é um atentado contra um operador do Direito, uma juiza por exemplo, é rapidinho, o Estado resolve. Agora contra o cidadão não.”

Dâniel usou palavras fortes para se referir à deputada. Mas, na verdade, apenas asmesmíssimas palavras que a deputada usou para se referir ao blogueiro Ricardo Gama. Por que ela pode chamar alguém de vagabundo sem tomar um processo pra isso (e em rede nacional) e um blogueiro que teve a honra ofendida pela deputada não pode?

Cidinha resolveu ir ainda mais além dessa feita. Numa atitude que não parece sugerir muito boa-fé, publicou CPF e o endereço da mãe de Dâniel Fraga no seu Twitter pessoal.

Há alguma razão jurídica para tal? Sobretudo: como uma deputada pôde ter acesso a tais informações em tão pouco tempo? Não enseja uma investigação mais perfunctória dos métodos da nobre deputada?

É claro que o caso aqui é a mesma regra da “violência mínima”, como o professor de Filosofia João Virgílio explicou sobre os baderneiros da USP. É um cálculo arriscado para agredir, prejudicar, ferir e atrapalhar a vida do seu desafeto o máximo possível – mas exatamente um passinho antes de descambar para a ilegalidade. Por sinal, Cidinha teve ajuda de uns seus esbirros – um robôzinho que apareceu apenas para divulgar dados de Dâniel e depois se auto-destruiu.

É curioso ver tantos perfis que surgem só para facilitar que políticos policiem a internet. Um mundo bastante Big Brother. Dâniel Fraga, por simal, criticava justamente os “crimes contra a honra” como injúria, que nem deveriam mais serem tipificados. Vide o que um Bill Maher pode falar sobre o próprio presidente dos EUA, o homem mais poderoso do mundo: se alguém usasse 10% da força vernácula sobre uma deputada estadual como Cidinha Campos, quantos processos a mesma lançaria contra seus desafetos?

É claro que tudo pode ter sido um baita tiro no pé. Cidinha, de paladina da ética (mais ou menos como um PT ’89, em versão brizolista do séc. XXI), pode nunca mais conseguir ser eleita se essa história for bem divulgada. Por sinal, até um hashtag sobre Cidinha e sua palavra preferida foi criada, entre uma enchente de críticas que inundou o Twitter. A deputada irá processar metade da internet?

Não custa lembrar de mais algumas palavras do vídeo de Dâniel Fraga que causou a ira da deputada:

“Cidinha Campos ganha muito bem pra isso através do dinheiro público. (…) Você vota em alguém pra pessoa não fazer nada, pra pessoa ficar puxando o saco do governador, pra tapar os olhos pra violência do estado – as pessoas tomam tiros e a pessoa vai lá pro plenário fazer piada?! (…) Cidinha Campos causa mais prejuízo a todos: aos cofres públicos, porque tá movendo um processo absolutamente inútil e ridículo.”

Aparentemente, o salário de deputada e sua imunidade parlamentar estão sendo usados de maneira um tanto heterodoxa. Ao invés de a violência diminuir, o salário paga advogados que perseguem quem sofre atentados misteriosos enquanto critica o governo, e também para achar dados de cidadãos, torná-los públicos (expondo tais cidadãos tão somente ao risco de violência, e inclusive seus familiares), e ainda processá-los por responderem uma deputada com as mesmíssimas palavras que ela usa em cadeia nacional. Pública.