Tirano eleito

Esse artigo foi escrito por Bruno Gimenes Di Lascio

hugo chavez

 

 

Quando o sábio primeiro-ministro britânico Winston Churchill disse que a democracia é a pior forma de governo, salvo todas as outras experimentadas, expôs, a um só tempo, a qualidade que o sistema democrático possui ao abarcar as liberdades civis quando comparado aos demais regimes, e o seu defeito mais fatal: a capacidade autodestrutiva inerente a esse mesmo sistema, seja ele tenro ou solidamente consolidado.

 

Hugo Chávez Frias, o ex-presidente moribundo e agora falecido de uma Venezuela mais enferma ainda é o representante máximo do lado falho referido por Churchill. Autoritário desde o início de sua carreira militar, pouco se sabe que o mais famoso caudilho da América Latina é o fruto rebelde do projeto de conquista do continente tramado por lideranças associadas ao chefe máximo do esquema, Fidel Castro. Juntamente com o ditador cubano, representantes dos movimentos comunistas latino-americanos – dos sindicalistas brasileiros aos narcoguerrilheiros colombianos das FARC – planejaram a subida ao poder em seus respectivos países numa plataforma revolucionária distinta da do falido comunismo europeu (greves gerais, guerrilhas, terrorismo), basicamente por meio da corrupção interna das instituições livres que sustentavam precariamente as democracias no Novo Mundo, bem como o aliciamento ideológico dos meios de produção cultural e propaganda – jornais, editoras e universidades.

 

Chávez, distintamente do combinado, tentou o modus operandi clássico do totalitarismo bolchevique, e tentou golpear o poder constituído venezuelano em 1992, sem qualquer sucesso. Preso e liberto, chegou ao poder em 1998 pela via democrática portando ternos alinhados, discurso prudencial e promessa de cumprir os ditames constitucionais da Constituição venezuelana. Bastou a explosão dos preços dos barris de petróleo para o governo federal venezuelano catapultar a imagem de seu líder à esfera de rei do povo, com a máxima conveniência dos oposicionistas que, sem meios institucionais para barrar a centralização do poder nas mãos do coronel golpista, abdicaram de disputar eleições parlamentares, dando chance dourada aos governistas de assumirem o completo controle do parlamento venezuelano. O processo de desfiguração da nação não tardou.

 

Pautado em seu incontestável carisma, assim como todo político populista que assume ares de pregador religioso diante da sôfrega população, Chávez passou a realizar a famigerada “democracia plebiscitária” para aprovar suas investidas mais ditatoriais.

 

Através de plebiscitos pueris, a democracia parlamentar representativa legítima se esvai sutilmente, envenenada em doses homeopáticas até que sua consistência já não seja mais percebida.

 

Com manobras políticas eficientes, discursos longuíssimos e unilaterais dos meios de comunicação e tutela material para as massas famintas do povo, o governo socialista aprovou leis e emendas constitucionais que bastaram para permitir a reeleição infinita de seu presidente, bem como a modificação do coeficiente eleitoral para que a oposição, detentora de mais votos nos pleitos legislativos, obtivesse menos cadeiras nos parlamentos.

 

Concentrado o poder em suas mãos, Hugo Chávez fechou jornais e impediu que outros veículos tivessem suas concessões renovadas; prendeu juízes que despachavam conforme os entendimentos tradicionais do legalismo; reprimiu seus opositores, mantendo encarcerado e desamparado seu maior rival político, Alejandro Peña Esclusa, que à época possuía câncer; roubou propriedades privadas que não produziam aquilo que o governo desejava, mas que atendiam às demandas do mercado; patrocinou a eleição de outros candidatos à tiranetes em países vizinhos, influindo ilicitamente no direito eleitoral estrangeiro; suportou, financiou e incentivou o proliferamento do narcotráfico guerrilheiro das FARC, milícia mais assassina do continente e inimiga principal do povo colombiano; aliou-se a ditadores sanguinários da África e do Oriente Médio, além de diversas outras ilegalidades de ordem internacional que paulatinamente prejudicaram a economia venezuelana.

 

Em contraste com a pujante opinião crítica que ainda possui dentro da imprensa ocidental, o chavismo consegue espantar pela incontinência de seu rebanho ideologizado, numericamente representado por bajuladores insones do socialismo soviético, passando pelos revoltadinhos-moderninhos orgulhosos da revolução bolivariana e aterrissando nas terras férteis da burguesia de Estado, aquela que, concubina das benesses do Poder Público, usufrui deste de forma a jamais ter de revigorar seu status quo atuando como elite econômica verdadeira, isto é, competidora dentro da economia de mercado.

 

Sobre as classes baixas, o ditador comunista frequentemente assistencializou as famílias venezuelanas com o capital advindo dos petrodólares a ponto de a mídia cobaia sulamericana chamar esse vil suborno de “justiça social”, malgrado a esmola estatal cesse e todos os progressos adquiridos por essas mesmas pessoas terminem concomitantemente. A administração da pobreza com gorjetas políticas é prática corriqueira no messianismo comunista bolivariano, fórmula deveras eficiente para se manter o poder perpétuo, porém absolutamente indesejável quando se nota que a superação da pobreza se dá precisamente através do pleno emprego e do desvinculamento do indivíduo do governo.

 

Chávez afirmava que o chavismo transcendia seu corpo em direção às ruas e ao espírito do povo. O culto à personalidade sempre foi o refúgio do autoritarismo. Pode uma sociedade votar em um candidato conhecidamente inimigo das liberdades civis, em especial o sufrágio universal, e, ainda assim, traduzir todo o processo de escolha do mandatário em “ato democrático”? Pode a democracia alçar ao poder justamente aqueles que desejam ardilmente corrompê-la e eliminá-la? Sir Winston Churchill, combatente voraz do nazismo e do comunismo, diria que sim. O chavismo e seu filhote cancerígena, o bolivarianismo, são as provas de que o vetusto literato nobelado ainda tem muita razão.

 

Por Bruno Gimenes Di Lascio

 

Exproprie, que nada restará

por Carlos Alberto Montaner. Publicado originalmente no Infolatam. Para ler o artigo original, clique aqui.


As expropriações estão na moda novamente na América Latina. O presidente Chávez chegou a convertê-las em um frequente espetáculo televisivo. “Exproprie”, dizia diante de qualquer companhia que parecia conveniente passar para o setor público, apontando como se fosse um Harry Potter socialista com uma varinha mágica, enquanto seus secretários aplaudiam com entusiasmo.

Há poucos dias a fúria expropriadora chegou à presidente Cristina Fernández. A vítima foi a multinacional espanhola Repsol. Depois de um simples trâmite perdeu sua filial YPF e agora discutem a quantia da indenização. Provavelmente será muito baixa. Nessas transações, especialmente após certo tempo, a quantia que se paga costuma ser um terço do que originalmente se solicita.

Aos governos que se apoderam do que não lhes pertence, resulta muito fácil fazer as contas do Grande Capitão, entre outras razões, porque nos países neopopulistas qualquer relação entre a lei e a justiça é pura coincidência, e o Código Civil algo parecido com as as histórias em quadrinhos de humor aos domingos. Nesses ambientes, apelar para os tribunais costuma ser uma maneira heroica de praticar a coprofagia.

O último governante a cometer esse disparate foi Evo Morales. No dia 01 de maio fez o favor de presentear os operários da Bolívia com uma empresa, também espanhola, que distribui energia elétrica. Desconheço por que não presenteou os filhos dos operários com alguns McDonalds ou uma cadeia de pizzarias.

Os rapazes se encantam com a comida rápida e Evo, antes, tivesse podido acompanhar os pratos com infusões dessa coca maravilhosamente nutritiva que serve para não ficar careca ou para manter vigoroso e “brigão” o extremo da uretra, duas das preocupações recorrentes do pitoresco personagem.

Expropriar, além de resultar popular, é um caminho geralmente curto para o desastre econômico. O capital se esconde, foge ou é inibido de chegar aos lugares onde corre perigo. Por outro lado, a empresa expropriada não demora em se converter em um saco sem fundo, ineficiente e tecnologicamente atrasado, permanentemente necessitado de injeções de capital para que não se afunde sob o peso da corrupção e o clientelismo.

Por que o Estado é um empresário tão mau? Simples: porque o Estado é dirigido pelos políticos. Os objetivos que estes perseguem são diferentes e opostos aos dos proprietários dos negócios quando operam em um mercado regido pela concorrência.

Aos políticos, salvo os mais responsáveis e melhor instruídos, não interessa a competitividade empresarial, a rentabilidade do investimento e obter benefícios para investir e continuar crescendo, mas sim controlar os orçamentos para se beneficiar e beneficiar seus partidários.

Também não convém a eles opor-se aos sindicatos, peçam o que pedirem ou trabalhem o que trabalharem. É melhor ser complacente. Resultado: o dinheiro com o qual se remunera os  empregados públicos não provém do bolso próprio, mas sim do nebuloso produto dos impostos. É o que os espanhóis chamam “disparar com a pólvora do rei”. Custa para o outro.

O negócio dos políticos é ganhar as eleições. É uma espécie voraz que se alimenta de votos, de aplausos e, quando são desonestos (algo que, felizmente, não acontece sempre), do dinheiro alheio. Por isso é um erro colocar um governo para operar uma fábrica de pão. Ao longo de um tempo, o pão não renderá, resultará caríssimo e, ainda por cima, sairá duro como uma pedra.

Onde as sociedades são sensatas e o povo quer progredir e prosperar, em lugar de expropriar negócios e constituir ruinosos Estados-empresários, o que fazem os políticos mais sagazes, impulsionados por seus eleitores, é propiciar a incessante criação de um denso tecido empresarial privado que paga impostos para o bem de todos.

Nessas nações desenvolvidas do Primeiro Mundo, as pessoas entendem que é bem mais inteligente e rentável se tornarem sócios passivos de milhares de empresas que entregam uma parte substancial de seus lucros sem propiciar a corrupção, sem fomentar o clientelismo e sem que o conjunto da sociedade corra riscos. As falhas são pagas pelos capitalistas. Os benefícios são recebidos por todos.

Isso sim:  nessas sociedades os políticos têm muito menos poder relativo que no sempre crispado mundinho neopopulista. Por isso elas vão muito melhor.

A era pós-Chávez já começou

Por Alvaro Vargas Llosa. Publicado originalmente em El Independiente em 11 de janeiro de 2013. Traduzido e adaptado para o português do Brasil por Renan Felipe dos SantosPara ler o artigo original, em espanhol, clique aqui.

O grave estado de saúde do presidente venezuelano Hugo Chávez e seu prolongado confinamento em um hospital cubano gerou uma crise constitucional e uma luta por poder entre os subordinados.

A natureza do regime “bolivariano”— um clássico Estado populista latinoamericano conduzido por um caudillo—explica o caos na Venezuela. Ninguém sabe o que fazer.

Diferente de uma ditadura de partido único institucionalizada, como o antigo sistema do México sob o Partido Revolucionario Institucional, a autoridade na Venezuela não pode migrar facilmente de um líder a outro devido a que as estruturas de poder não são mais poderosas que a pessoa que as encarna. Os presidentes mexicanos eram todo-poderosos mas só durante seu mandato de seis anos, depois do qual eram vilipendiados por seu sucessor de maneira tal que as estruturas de poder pudessem permanecer sob uma aparência de renovação.

Na Venezuela, não existe tal arranjo, razão pela qual há um mês, pouco depois de sua reeleição para um quarto mandato, Chávez revelou que seu câncer havia reaparecido e pediu aos venezuelanos que elegessem Nicolás Maduro, a quem designou a toda pressa seu vice-presidente, em caso de não poder continuar.

De acordo com a constituição, se o presidente eleito não pode prestar juramento por causa de uma ausência “absoluta”, deve-se substitui-lo pelo presidente da Assembléia Nacional e celebrar-se novas eleições. Se a ausência “absoluta” tem lugar depois de fazer o juramento para o cargo, o vice-presidente substitui o presidente e convoca novos comícios. Com o argumento de que Chávez se encontra ausente só “temporariamente”, seus funcionários estão manobrando freneticamente para mantê-lo como presidente. Esta semana, decidiram “adiar” a cerimônia de juramento que deveria ter ocorrido 10 de janeiro (o tribunal superior da Venezuela ratificou o atraso quarta-feira) o que parece uma aberta violação da constituiçã, dado que a ausência do Sr. Chávez parece uma condição permanente.

Por trás dos bastidores, Maduro e Diosdado Cabello, um ex-tenente do exército que preside a Assembléia Nacional, estão lutando pela sucessão.

Maduro conta com o apoio de três fontes de poder vinculadas a Chávez: a filha mais velha do presidente, Rosa Virginia, e seu marido o ministro de Ciência e Tecnologia Jorge Arreaza, que assumiram uma grande influência durante o drama do câncer do líder; Cuba, um aliado próximo da Venezuela considera que Maduro é o herdeiro mais confiável; e Rafael Ramírez, presidente de Petróleos Venezuela SA, o gigante petroleiro. Ao custo de reduzir sua produtividade em 20 porcento, Ramírez segue ordenhando a vaca PDVSA que é a alma do regime. O ano passado, de um total de 125 bilhões de dólares em vendas, 24 bilhões se canalizaram para o governo como impostos e regalias e 30 bilhões diretamente ao fundo discricionário de Chávez.

Cabello, por sua parte, tem ascendência sobre os militares — participou da tentativa de golpe de Estado encabeçada por Chávez contra um governo legítimo em 1992, e envolveu o exército nos programas sociais. Tem certa legitimidade porque ajudou a reverter uma deposição de Chávez dem 2002 e é próximo da oligarquia “bolivariana”. Mas terá dificuldades indo contra Maduro — o que significaria desobedecer os planos do caudillo e obrigar os militares a usar a força massiva contra uma predizível reação das bases populares.

Um oficial aposentado, Cabello não tem mando direto de tropas. Chávez recentemente promoveu o general Carlos Alcalá como comandante do exército e Wilmer Barrientos como chefe do Comando Estratégico Operacional com o fim de diluir o poder de outros oficiais com cargos prolongados. Também assegurou que 11 dos 24 governadores dos estados recentemente eleitos fossem ex-membros das forças armadas — uma forma de dispersar o poder militar assim como de fortalecer a entente cívico-militar.

Significa isto que Maduro prevalecerá? Só no curto prazo. Além disso, o regime está condenado ao fracasso. Ninguém detém o controle e a popularidade que desfrutava Chávez. A economia é lúgubre: A inflação é de 25 por cento e uma iminente desvalorização seguirá sendo alimentada. Não houve crescimento econômico em 2011 e no ano passado foi gerado artificialmente graças a um colossal déficit fiscal (que chega a mais de 16% do PIB). A dívida pública é 10 vezes maior que quando Chávez chegou ao poder. O especismo populista que tornou possível que os venezuelanos encham seus tanques de gasolina por menos de 1 dólar e importem quantidades cada vez maiores de bens e serviços enquanto produzem pouco, terminará mais cedo do que se espera.

As condições sociais, incluída a quarta taxa de homicídios mais alta do mundo, necessitam que a maquinaria populista marche sem problemas. Se não o fizer, com o carisma de Chávez de lado, sobrará pouco amor para os subalternos.

Se a oposição terá uma oportunidade justa no curto prazo é outra coisa. Maduro e Cabello poderiam permanecer juntos por um tempo. Temerosos de um acerto de contas, os militares poderiam disparar contra a população de as ruas se enchessem de manifestantes anti-governamentais. E não se pode descartar que um dos líderes que competem pelo controle faça propostas à oposição para negociar uma transição.

Em qualquer caso, a desordenada era pós-Chávez começou enquanto o caudilho se aproxima do dia do juízo em Havana.

Dilma e o Libertarianismo Pra Gringo Ver

POR RODRIGO VIANA

Vagando por esse caótico universo ordenado espontaneamente chamado internet, eis que me deparo com um discurso um tanto inusitado feito por nossa presidente. No dia 10 de Abril desse ano, a presidente Dilma fez um discurso na Universidade de Harvard, Estados Unidos. Exaltando a parceria entre os dois países em questões educacionais, Dilma tenta antes mostrar aos americanos alguns pontos do nosso país e seu crescimento relevante junto aos BRICs. Inflamando um texto onde vai do proselitismo de seu partido, verborragias esquerdistas e chavões costumeiros, o discurso governamental segue de modo típico: esperançoso e insosso por si só.

Assistencialismo, estado forte e muito, muito intervencionismo. O texto é carregado de tudo o que é mais insustentável para uma verdadeira prosperidade social. De verdade, as palavras ditas te levam aos longínquos anos de Vargas e seu governo de aspirações fascistas. A qualquer momento você pensa que a nossa presidente irá soltar a máxima tudo para o estado, nada contra o estado, nada fora do estado”. Para percorrer o discurso todo, é preciso ter um saco de vômito ao lado em caso de urgência. Tudo recheado de dirigismo econômico e social, exaltações à empresas e agências governamentais, e fomentação estatal.

Mas há momentos engraçados (tragicômicos?) como quando ela tenta se esquivar de perguntas sobre a relação com Hugo Chávez ou quando diz que “nós não somos um país protecionista, nós não consideramos correto o protecionismo, nem achamos que ele rende em matéria de crescimento da competitividade do país”. Poxa, tocante isso presidente. Só que não.

Além disso, ela tenta criar uma familiaridade histórica sobre o legado africano no país, passando pela inexistência da democracia na ditadura (sem mencionar que ela e seus companheiros fomentaram tais governos ditatoriais, claro) e nos focos de lutas a favor da liberdade na época colonial. Foco este relatado como Inconfidência Mineira, movimento libertário de inspiração na Revolução Americana.

Sobre esta questão, ela diz: “(…)Eu nasci num estado onde houve os primeiros movimentos de emancipação do jugo colonial, que chamou Inconfidência Mineira, e que foi derrotada, mas foi um marco na luta pela liberdade. Quem inspirou as lideranças da Inconfidência Mineira, com as ideias do Iluminismo e os princípios de liberdade, foi a Revolução Americana. Eu acredito que esses princípios libertários, que remontam a séculos atrás, possam também nortear nossos povos para sedimentar nossa cooperação econômica e política, e aproximar, cada vez mais, nossas culturas.

Para alguém que durante a juventude levantou a bandeira da servidão e hoje elogia ideias libertárias, mesmo com sua política totalmente às avessas, faz-nos pensar em que distopia estamos vivendo. Em suma, um verdadeiro freak-show do duplipensar tupiniquim em terras estrangeiras.

Sim presidente, eu também espero que os princípios libertários que nortearam a nossa Inconfidência seja relembrada novamente. Que os ideais americanos da Revolução Americana, dos Founding Fathers[1] e do episódio conhecido como Festa do Chá[2], por exemplo, venham a ser o nosso caminho a seguir.  Que o peso do estado nas nossas costas seja diminuído a cada dia e que assim, a liberdade esteja cada vez mais presente. De verdade presidente, isso é o que qualquer defensor da liberdade almeja. Mas sem discursos vagos, certo?

Para ler o discurso completo, clique aqui. É por sua conta e risco.

Veja também:

Em homenagem a Tiradentes – IMB

Notas:

[1] Pais Fundadores dos EUA – Wikipedia
[2] A Festa do Chá de Boston – Brasil Escola

Sete Lições do Sete de Outubro

No último dia 7, as eleições da Venezuela opuseram Capriles e Chávez. Capriles é da oposição e concorria pelo partido Primero Justicia. Chávez, no poder há 13 anos, concorria pelo Partido Socialista Unido de Venezuela e dispensa maiores apresentações. O resultado das eleições foram decepcionantes, mas não surpreendentes: Chávez venceu e anuncia que continuará com a implantação do socialismo no país. Logo após o resultado, Alberto Mansueti publicou este artigo em seu Facebook, o qual compartilho agora traduzido para o português.


por Alberto Mansueti, advogado e politólogo. Tradução e adaptação para o português por Renan Felipe dos Santos. Publicado originalmente no seu blog homônimo. Para ler o artigo original, em espanhol, clique aqui


A derrota do 7 de outubro passado na Venezuela tem um grande responsável: a oposição, tanto a dirigência como as bases, que seguem tão cegamente a seus caudilhos como os chavistas ao seu.

São seis fatores: socialismo, unitarismo, bipolarismo, majoritarismo, triunfalismo e estupidismo. Há seis lições chave para aprender. Também há um último fator adicional, o mais importante; e uma última lição, mais instrutiva.

1. Socialismo. Entre 2005 e 2008, nós do “Rumbo Propio” planteamos uma saída liberal para Venezuela, começando pela autonomia das regiões, como na Espanha mas sem socialismo regional; mais ao estilo da China: “um país, dois sistemas”. Fomos selvagemente esmagados pela “oposição” de Rosales, sua máfia, os bons moços do Primero Justicia, o canal Globovisión e o coro de imprensa antichavista. Vimos o que aconteceu com Rosales em 2006; no entanto, depois desta data prosseguiram com o cerco contra nós. “Nada de liberalismo”, diziam. E depois disseram o mesmo contra a ODLV e o MDL. Lição 1: A oposição não aprende.

2. Unitarismo. “Primeiro há de sair o Chávez”, diziam. “Para isto se requer a unidade”, diziam. Negavam-se a ver algo muito simples: o comunismo é um socialismo “duro”, e se combate ele com capitalismo, não com socialismo “brando” ou “terceiras vias mistas”. Se deixa-se a gente empobrecida achar que o socialismo não é o mal, então ela o quer todo, inteiro e agora mesmo, de modo radical; e se damos a entender que o capitalismo é o mal, então não quer nada, nem um pouquinho dele. Posta a escolher entre o socialismo duro e o socialismo brando, vota pelo mais radical que encontre. Neste sentido o povo é consistente. Por este caminho Chávez jamais sairá do poder enquanto viva. E quando morrer, os chavistas aprendidos herdarão “o sistema”, e o manipularão a seu bel prazer. Lição 2: A oposição não raciocina.

3. Bipolarismo. Queixavam-se de que Chávez “dividiu o país em duas metades”. Não, não é assim; em primeiro lugar não somos duas metades senão três terços: o chavista, o antichavista, e o que não vota ou nem sequer se candidata. E em segundo lugar, se alguém fez uma divisão em duas metades foi a oposição socialista, com seu cego, insistente e reiterativo “unitarismo”, e seu conseguinte empenho em aniquilar uma oposição liberal na Venezuela, para dar a impressão de que são “eles ou Chávez”. Várias e várias vezes. É repetitivo. Já foram quatro vezes: primeiro Salas Rohmer (1998), depois o Cte. Arias Cárdenas (2000), depois Rosales (2006), e agora Capriles (2012). ¿Who’s next? (2019, 2025… e contando.) Lição 3: É verdade, “Hay un camino”, o deles, “somos o mal menor”; e conduz a derrota. Mas também há outro caminho: o do capitalismo.

4. Majoritarismo. “Somos maioria”, diziam. “Se perdemos é por fraude”, diziam. Vejamos. Em primeiro lugar, Chávez não ganha pela fraude mas pela abusiva vantagem de todos os seus programas sociais (“Misiones”): suas esmolas efetivas para alguns, e suas promessas de esmolas no futuro para o resto. Se prometes “não acabar com as Misiones” então não esperes que milhões de venezuelanos agarrados a suas migalhas votem por ti, porque mais vale o certo do que provável. E também mais vale o original que a cópia. Em segundo lugar: uma dose de trapaça há em toda eleição, até mesmo nos EUA; a questão é quanta, de que magnitude. E há de ser consistente: se você crê que a trapaça é demais, então peça a abstenção; só se você crer que a fraude seja tolerável, então chame as pessoas a votar, mas depois não se queixe. Lição 4: A oposição é incoerente e contraditória.

5. Triunfalismo. “Vamos ganhar”, diziam. “Chávez já saiu”, diziam. E com estas palavras os socialistas “brandos” calam toda manifestação de dissidência, se fecham a qualquer questionamento, e se negam redondamente a revisar suas políticas e suas propostas, seus clichês, suas estratégias e suas mensagens. Deste modo nos impõem uma segunda tirania, tão férrea ou mais que a de Chávez. Lição 5: A oposição é feroz com seus dissidentes.

6. Estupidismo. Burrice, pura e simples estupidez. Como fazem todo um “issue” por causa de um boné? Ou de uma suposta ou real relação de parentesco de Capriles com Bolívar? Até quando “Simón Bolívar”? Tem que ter o cérebro fundido. Ou subscrever o mito de Bolívar, que a oposição compartilha, como todos os outros mitos socialistas que acabaram com a Venezuela. Sobretudo o mito da abundância de Petróleo. Chávez não “reparte a riqueza petrolífera”, porque não há tal riqueza fabulosa que chegue para todos, até para “dar aos estrangeiros”, como diz em coro a oposição. Chega para os novos ricos bolivarianos, e nada mais. De resto, a abundância que há é de casas de lata, madeira e papelão. Mitologia é o que reparte Chávez, puros sonhos e promessas baseadas nestas lendas mitológicas. E também a oposição, com o mesmo estilo sentimentalóide e emotivo. Lição 6: A oposição forma parte da mesma Matrix.

Não obstante, o fator de maior peso na derrota de 7 de outubro é este: todo o anterior não são só erros ou crenças equivocadas. Há algo mais: na realidade a oposição não quer ganhar. Por que não saberia o que fazer no governo e com o chavismo na oposição, que voltaria ao poder em poucos anos, como os sandinistas na Nicarágua, só que mais rápido. Por isto a oposição atual só quer conservar “seus espaços” no sistema: seus governos e prefeituras, seus assentos na Assembléia, seu lugarzinho, seus contratos e subcontratos. Mais nada. O resto não lhes interessa.

E a lição mais dura é a que sempre repito; Lição 7: Sem outra oposição, não haverá outro governo.