TOTALITARISMO SOCIAL EM SÃO PAULO – O CASO DAS CICLOFAIXAS

O caso das ciclofaixas em São Paulo parece provocar as mais diversas opiniões (contrárias e a favor). É claro que as ciclofaixas se tornam importante, assim como andar de bicicleta é importante. Seja por lazer, ou seja por locomoção, as ciclovias são necessárias, o problema é, o quanto elas são necessárias? E como elas dever ser introduzidas na sociedade? Entretanto, este fato não é tão simples quanto parece.

Vamos aos fatos que antecedem, ou deveriam anteceder as discussões:

Algumas qualidades são esperadas, tanto na organização da cidade, como para o cidadão que vive nela. É importante lembrar que a cidade é uma junção de pequenas famílias, que formam um povoado e a junção de vários povoados formam, finalmente, a cidade. Esse é o início do sistema educacional de Aristóteles. Uma dessas qualidades da cidade, sem dúvida, é a autossuficiência. Sendo para Aristóteles (1985), natural que a cidade se organize de forma a superar a barbárie, sabe-se, nesse sentido que o ser humano é um animal político, e somente ele é apto a essa tarefa. Dessa forma, o contrário de uma cidade é a vida do bárbaro, assim como os contrários, justo, injusto, bem ou mal, belo ou feio. Somente o ser humano é capaz de diferenciar esses contrários e seguir, assim, o caminho da virtude (GARCIA, 2011, p. 91).

Aristóteles nos manuais de hsitória da educação

Um dos conceitos chave para Aristóteles é o equilíbrio. Dessa forma, está claro para quem observa a cidade de São Paulo com mais atenção, que nos falta entre outras coisa é sem dúvida o equilíbrio. E se isto é inexistente até entre os nossos governantes, é porque a coisa está realmente nebulosa.

Uma das críticas que observamos em ralação as ciclofaixas seguem abaixo:

Os moradores e comerciantes se queixam da postura autoritária da prefeitura de da cidade de São Paulo em produzir do dia para a noite as ciclofaixas. O vídeo a seguir comprova estas queixas: http://tvuol.uol.com.br/video/moradores-prometem-protesto-contra-ciclovia-no-centro-de-sp-04028C99336CD4895326

Com base nessas queixas observamos a seguinte premissa:

Procurar impor sobre a comunidade um programa elaborado a priori sem ouvir antes o que ela tem para nos dizer o que ela necessita agora mas também o que ela foi continuamente preservando e valorizando ao longo das gerações é quebrar o elo fundamental de confiança que deve existir e presidir a relação entre governantes e governados (COUTINHO, 2014, 55).

Este totalitarismo imposto a cidade de São Paulo como apontam os moradores e comerciantes não é aceitável. Qualquer elaboração apriori, sem consulta ampla, sem discussão, ou seja, eliminando-se a ligação entre governante e governado é digna de um totalitarismo a ser repudiado. O que se faz na cidade em relação às ciclofaixas é puramente um totalitarismo das bicicletas. É ação política e ideológica, que no final das contas só visa angariar votos, aprovação e consentimentos de alguns poucos gatos pingados, mas que exercem na cidade uma voz gritante, que fazem barulho e que aparece como a voz da “verdade”.

Se não fosse assim, não viríamos o que se faz com uma ciclofaixa inútil como a exposta no link abaixo:

http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/uma-ciclofaixa-de-haddad-o-faixista-da-bicicleta/

É este o resultado de uma ação totalitária que não visa uma discussão entre as partes envolvidas. Todos pagam impostos, alguns mais outros menos, mas todos pagam impostos, direta ou indiretamente. Os moradores pagam impostos e merecem respeito, os comerciantes pagam impostos e merecem respeito, os ciclistas pagam impostos e merecem respeito, os motoristas de automóvel, pagam seus impostos e merecem respeito. E o governante tem o dever de escutar a todos.

No Twitter, o senador Aloysio Nunes Ferreira chamou a decisão de Haddad de entregar 400 quilômetros de ciclovias até 2015 de “delírio autoritário”. http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/psdb-quer-vetar-ciclovia-de-haddad-na-avenida-paulista

Cabe aos legisladores, imprimirem nos cidadãos os bons hábitos, visto que será por meio deles que se terá uma cidade justa. Nesse sentido não é o que encontramos neste caso das bicicletas. Assim se faz a diferença das boas e más constituições. Nesse caso, estão dadas todas as bases de uma educação pelo exemplo. Se não temos bons exemplos dos governantes, certamente não seremos bons governados, ou seja, bons cidadãos.

Na Câmara Municipal, em reunião da Comissão de Política Urbana, Metropolitana e Meio Ambiente, o vereador Andrea Matarazzo (PSDB) pediu que as Secretarias de Planejamento e de Transportes apresentem os projetos de criação de ciclofaixas. O tucano disse não ser contra as faixas reservadas mas criticou a forma como elas vêm sendo implantadas na cidade. http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/psdb-quer-vetar-ciclovia-de-haddad-na-avenida-paulista

O meio termo seria uma possibilidade para se praticar as virtudes, como exemplo, ser corajoso. O homem não pode ser temeroso nem muito confiante. A deliberação antes da tomada de decisão é o fator de suma importância. Em síntese não se deve deixar de fazer as ciclofaixas, mas também não as pode fazer em excesso. Caso isto ocorra, se pecará por falta de equilíbrio.

O vereador Andrea Matarazzo (PSDB) ainda aponta várias incongruências: http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/matarazzo-recorre-a-dois-orgaos-de-defesa-do-patrimonio-contra-o-ciclofaixismo-de-haddad-que-agora-ameaca-a-avenida-paulista/
1: as ciclovias de Haddad atropelam faixas de pedestres;
2: as ciclovias de Haddad atropelam espaços destinados a ônibus;
3: as ciclovias de Haddad são ocupadas por motoqueiros — estes, sim, realizando um trabalho vital para a economia da cidade;
4: as ciclovias de Haddad são ocupadas por pedestres;
5: as ciclovias de Haddad estão virando depósito de lixo;
6: as ciclovias de Haddad não respeitam áreas de acessibilidade;
7: as ciclovias de Haddad têm de tudo, menos bicicletas.

A virtude, assim, se desenvolve a partir da prática. As relações em comunidade, certamente, que proporcionam a experiência que é precisa. Seguramente, que o cidadão deve agir conforme a justiça, seus atos serão seguramente justos. Isto, se o governante também for justo. Não nos parece o caso.

Sendo a grande obra do legislador, educar seus cidadãos para tal finalidade, para Aristóteles, o homem deve ser primeiramente governado e, posteriormente, governante. Contudo, como podemos ser governados dessa maneira? E que tipo de governado o governante produzirá? Enquanto não refletirmos sobre essas perguntas, estaremos muito longe de uma cidade justa e feliz.

 

REFERÊNCIAS

ARISTÓTELES (II). Metafísica: Livro 1 e Livro 2; Ética a Nicômaco; Poética / Aristóteles; seleção de textos de José Américo Motta Pessanha (traduções de) Vincenzo Cocco … (et al.). São Paulo: Abril Cultural, Coleção Os Pensadores, 1984, 329p.

COUTINHO, J. P. As ideias conservadoras explicadas a revolucionários e reacionários. São Paulo: Três Estrelas, 2014.

GARCIA, A. B. Aristóteles nos manuais de história da educação. 1. Edição, São Paulo: Clube de Autores, 2011.