Exportações e indústria

A descoberta de novas fontes de recursos naturais pode simbolizar um grande aumento da atividade econômica. O petróleo, então, é fundamental no processo econômico moderno. Todavia, há alguns que exalam certa preocupação, em parte composta por questionamentos justos, mas talvez inválidos.

Com a ampliação da exploração do petróleo no Brasil, muito por causa do pré-sal, há uma tendência daquilo conhecido como “doença holandesa”, que leva a desindustrialização de um país. A Holanda, na década de 1960, exportava bastante gás, e recebia muitos dólares pela venda. Essa enxurrada de dólares valorizou o florim, então a moeda local, e o país passou a enfrentar problemas para exportar outros bens, principalmente industriais, pois sua moeda estava mais cara para o mercado externo.

Entretanto, fundamental é localizar o problema, para, a partir daí, buscar soluções. Já no século XIX, o economista britânico David Ricardo falava das vantagens comparativas: grosso modo, se dois países se especializarem em produzir aquilo que são melhores e posteriormente comercializarem esses bens entre si, a produção e o ganho socioeconômico serão muito maiores do que se ambos produzissem ambas as mercadorias.

Um aumento das exportações de petróleo brasileiro simbolizaria uma vantagem comparativa do país para com o exterior, se tornando um meio para a obtenção de dólares para a importação de bens. E, para alguns, é aí que começa o problema. Nesse processo, o real tende a ser valorizar, e o dólar ficará mais barato; por conseguinte, os produtos importados também. O brasileiro passaria a importar mais, o que seria ruim para a indústria brasileira, que passaria por apertos ainda maiores já que agora enfrenta uma maior concorrência internacional.

Porém, retornando ao conceito de vantagem comparativa, vemos que agora o país está se beneficiando ao se especializar naquilo que produz de maneira mais eficiente. O Brasil estaria realocando recursos para fora de algo que o exterior está mais competitivo, e se aproveitando de um bem que produz de maneira eficaz. Além disso, essa diminuição do peso da indústria manufatureira no produto agregado da economia pode não estar necessariamente ligada a problemas de “câmbio sobrevalorizado”, e essa diminuição pode, também, não simbolizar decadência econômica. A seguir, dois países que passaram por processos parecidos, e qual o desenrolar da situação: Canadá e Noruega.

O caso canadense

Há algumas décadas atrás, a província de Alberta, no Canadá, aumentou significativamente sua exploração de recursos naturais, e a atividade econômica na região se intensificou. Depois de uma desvalorização lenta e gradual na década de 1990, a partir de 2002 o dólar canadense sofreu uma valorização significativa – a paridade em relação ao dólar americano naquele ano era de CAD$ 1,60; por volta de 2007, chegou a ser menos do que um para um.

Cotação do dólar canadense em relação ao dólar americano, de 1991 a 2007.

A indústria canadense, segundo dados da Statistics Canada, não passou por nenhum tipo de pânico nesse período. De 2003 a 2006 a produção industrial aumentou cerca de 1,3% em valores monetários reais, puxada por um aumento de cerca de 4,8% dos bens duráveis, contra uma redução de cerca de 3,4% dos bens não duráveis. Já no que diz respeito aos empregos, a taxa de desemprego, que oscilava pouco abaixo de 8% entre 2002 a 2004, caiu para pouco abaixo de 6% no começo de 2008. Distribuindo por setores e indústrias, de 2003 a 2007, apenas a agricultura e a manufatura enfrentaram queda na geração líquida de empregos. Ao passo que a manufatura perdeu pouco mais de 10% de empregos, mineração, petróleo e gás representaram um aumento de cerca de 28%, a construção civil, 26%, e as finanças, 17%.

O mercado de trabalho canadense, todavia, não é homogêneo. Enquanto as províncias do Oeste possuem taxas de desemprego que dificilmente ultrapassam os 7%, e Alberta e Saskatchewan, os 5%, as do leste enfrentam números que constantemente ultrapassam a casa dos 10%. Mas boa parte dessa diferença não se deve a exploração de recursos naturais. Alberta, por exemplo, simplesmente não cobra imposto provincial sobre o consumo. O imposto sobre o consumo cobrado existente é do governo federal, com uma leve alíquota de 5%. Outras províncias, somando a taxa federal e a provincial, chegam a quase 15%. Alberta e Saskatchewan também adotam políticas econômicas pró-negócios, evitando burocracias e flexibilizando mercados (incluindo privatizações até de lojas estatais que vendem bebidas alcoólicas, algo ainda comum no restante do país), o que atrai investimentos, imigrantes de todos os países e, também, migrantes de outras províncias.

Essa alteração se deveu bastante ao boom das commodities e à bolha imobiliária, dentro do novo contexto em que a economia chinesa criou. Na prática, o que houve foi uma realocação de capital humano, financeiro e maquinário, e não a aniquilação do mesmo; além disso, a balança comercial manteve-se positiva e estável, apresentando valores muito próximos daqueles dos anos 1990, em que o câmbio estava bem mais desvalorizado.

Balança comercial canadense, entre 1996 e 2007. Realmente apresentou mais superávit com a desvalorização, mas os valores continuaram praticamente no mesmo nível com a posterior valorização, caindo só depois de 2006.

O caso norueguês

Já sobre a Noruega, uma situação parecida se verifica. A coroa norueguesa enfrentou forte valorização na década de 2000, depois de forte desvalorização na década de 1990. Por volta de 1995, US$ 1,00 valia cerca de 6,20 NOK e, em meados de 2001, estava em 9,50 NOK. Já na década de 2000, após essa desvalorização encerrada em 2001, a moeda sofreu uma gradual valorização, chegando a 5,5 NOK no final de 2007.

Cotação da coroa norueguesa, entre 1995 e 2007.

A economia norueguesa também se comportou positivamente nesse período. O superávit comercial, de pouco mais de 5 mil NOK de 1995 a 1998 sofreu um boom no final da década, e passou a oscilar entre 20 mil NOK e 25 mil NOK no começo da década de 2000. Com a valorização, o superávit caiu para cerca de 15 mil NOK no final de 2002; todavia, as contas melhoraram e em 2006 chegou a 35 mil NOK, caindo para 25 mil NOK no final de 2007 – valor maior do que o ápice daquele quando o câmbio estava desvalorizado. A moeda sofreu desvalorização com a crise de 2008 e o comércio internacional norueguês se deteriorou, mas claro que o contexto internacional influenciou bastante nessa queda. A moeda voltou a valorizar, e o superávit aumentou para mais de 40 mil NOK em 2012.

Balança comercial norueguesa entre 1995 e 2012.

A produção industrial, por sua vez, desacelerou na época de desvalorização cambial, após uma época de crescimento no começo da década de 1990. Após crescer 7,5% em 1994 em relação a 1993, os números se deterioraram lentamente até meados de 1999, em que houve retração na produção de quase 5%, melhoraram um pouco na virada da década e se estagnaram na década de 2000.

Variação na produção industrial da Noruega, entre 1994 e 2007.

Evidente que um setor da economia estagnado durante uma década não é motivo para se comemorar. Só que isso, ao mesmo tempo, não transforma a economia como um todo em algo que enfrenta problemas. Com o câmbio desvalorizado nos anos 1990, o desemprego caiu de mais de 4% em 1997 para 2,7% em meados de 1999; a partir daí, houve um aumento bem lento e gradual do desemprego com a valorização do câmbio, chegando a 4,6% no final de 2005. Porém, esse movimento freou em 2007, em que a taxa caiu para pouco menos de 2,5% no final do ano.

Taxa de desemprego norueguesa entre 1997 e 2007.

Os salários nominais na indústria aumentaram cerca de 75% de 2000 a 2014, e os índices de preço somente cerca de 28% no mesmo período. Como dito anteriormente, houve estagnação na produção, logo, o aumento salarial sem problemas sérios de desemprego foi possível graças ao ganho de produtividade. A produtividade norueguesa estava estagnada no início dos anos 1980, tendo em vista que nesse período houve certo protecionismo, já que a paridade com o dólar, que era cerca de 5,00 NOK há anos, mudou para quase 10,00 NOK no começo de 1985. A partir daí, houve uma valorização da coroa norueguesa, acompanhada de uma aceleração na produtividade – o aumento da concorrência externa força com que a indústria nacional se aprimore mais para sobreviver.

Taxa de câmbio da coroa norueguesa em relação ao dólar, entre 1980 e 1993.
Produtividade norueguesa, que aumentou mesmo com a “ameaça” da valorização da moeda.

Importante ressaltar que o governo norueguês, adepto do Estado de bem-estar social, realmente gasta bastante dentro do produto agregado da economia. Porém, as contas públicas são relativamente responsáveis: o governo gasta aquilo que possui. Boa parte da receita do governo tem como origem a renda do petróleo, e o gasto têm como base isso, e não endividamento. O país apresenta constantes superávits nas contas públicas, mesmo com esse tipo de política fiscal; mesmo com o Estado de bem-estar social, ainda sobram recursos, e isso é fundamental para que tal sistema socioeconômico não imploda. A dívida pública em relação ao PIB não ultrapassou os 60% nos últimos 24 anos, e pouco depois da crise, que evidenciou um aumento da dívida, a mesma já diminuiu e gira em torno de 29%, muito diferente dos endividados países da Europa Ocidental e Meridional, que apresentam dívidas crescentes e que se aproximam de uma média de 100%. Pouco antes da crise, mesmo com o Estado de bem-estar social, a Noruega apresentava superávits de cerca de 18% do PIB, e um ambiente regulatório não muito intrusivo e que facilita os negócios, sendo considerada a nona entre as economias mundiais menos atravancadas e burocratizadas em 2014.

Dívida do governo em relação ao PIB nos últimos 24 anos.
Resultado orçamentário do governo em relação ao PIB. Em poucos momentos o superávit foi menor do que 10%, algo “impossível, terrível e contraproducente” na mentalidade keynesiana. Definitivamente, o governo norueguês não atrapalha muito a oferta de recursos no mercado financeiro.

A preocupação deve girar em torno do fato de que o petróleo é um recurso finito. Na Noruega, a produção já vem declinando. É fundamental que durante esse processo de queda da produção da commodity a economia possa realocar novamente os recursos da economia para outros mercados. Para tal, a flexibilização da economia torna-se necessária. O atual modelo socioeconômico do país dificilmente sobreviveria sem a renda atual e acumulada do petróleo. Portanto, no longo prazo, para o sustento da própria economia, seria de bom grado uma redução gradual da participação estatal no âmbito econômico, preparando a economia para um ambiente ainda mais globalizado e competitivo. Dessa forma, com a queda da renda do petróleo, a indústria norueguesa estaria mais preparada para enfrentar o mercado internacional, principalmente se não precisar mais arcar com um pesado Estado de bem-estar social, que será cada vez mais caro sem o petróleo.

A indústria em específico e a economia como um todo

O que se pode concluir, portanto, é que valorizações cambiais podem sim pressionar a indústria de um país, mesmo se tenham como origem exportação de recursos naturais. Entretanto, esse cenário não é necessariamente ruim, caso os recursos da economia sejam realocados, como houve na economia canadense, ou então a própria manutenção de indicadores socioeconômicos mesmo com a valorização cambial e a estagnação da indústria, como no caso norueguês.

A indústria de um país não pode se tornar uma finalidade. Os setores da economia são meios, e não fins em si mesmos. A finalidade da economia é, afinal, a produção e distribuição de bens e serviços pela e para a sociedade. Esse é o objetivo. Se a indústria consegue agregar a esse processo, ótimo; se a agricultura de um país possui determinadas vantagens comparativas, é algo benéfico. O problema seria a decadência do produto da economia, o desemprego alto e constante, a má qualidade de vida da população, e não quedas específicas na indústria, na agricultura ou no setor de serviços. Quedas em um setor específico, se acompanhadas de aumentos minimamente proporcionais ou ainda maiores em outros setores representam um avanço econômico, e não um retrocesso.

Isso também não significa que todo um setor deva ser sucateado. Por isso, é fundamental, ao mesmo tempo em que se aumente a competição com o mercado externo, que o mercado interno receba a devida atenção, mas sem proteção. A indústria brasileira, por exemplo, sofre com impostos em cascata, o que é ainda pior para o setor, pois conforme vai agregando valor ao produto, de quebra acaba por “agregar impostos” também, encarecendo o processo. Além disso, ela paga mais impostos proporcionalmente do que outros setores. A Fiesp já destacou que a indústria arca com mais impostos em relação ao PIB do setor. Eles representam mais da metade do PIB da indústria, sendo praticamente o dobro do que acontece noutros setores. Além disso, analisando friamente, a indústria contribui mais para a arrecadação de impostos para o governo do que para o PIB do país. A indústria de transformação, em 2011, segundo o IBPT, respondeu por 14,6% do PIB, mas por 33,9% dos impostos. É um tratamento injusto dado ao setor, que sai prejudicado perante o mercado externo e até mesmo em relação aos outros setores da própria economia brasileira.

No que diz respeito à exploração do petróleo no Brasil e suas consequências socioeconômicas, se trata de um tema que desperta emoções nas pessoas, pois, como os próprios nacionalistas afirmam, “o petróleo é nosso!”, e se trata de uma commodity extremamente “estratégica”. Os Estados Unidos, certamente, consideram o petróleo muito mais importante e estratégico do que o Brasil. Reflexo disso é a política externa americana, que constantemente se relaciona intensamente com países petroleiros, como Irã, Iraque e Kuwait. Todavia, ao passo que lá a exploração de petróleo praticamente sempre foi delegada ao setor privado, já que os Estados Unidos, por sua tradição capitalista, sabem que o setor privado é mais eficiente que o setor público e, dado que o petróleo é de suma importância ao país, nada surpreendente a exploração desse recurso natural ser delegada ao setor privado. Tudo bem que a ExxonMobil se destaca por seu market share nesse ramo dentro da economia americana, com 1/3 entre as doze maiores, mas o país possui mais de uma dúzia de empresas de faturamento bilionário no setor.

No Brasil, o Estado sempre interveio bastante (não somente) nesse setor. Em 1936, até mesmo o escritor Monteiro Lobato fazia oposição ao governo, com seu livro O Escândalo do Petróleo, em que acusava o governo de não perfurar e não deixar que (o setor privado) perfure. Sofreu censura do Governo Vargas, que proibiu a venda do livro, e lançou um livro infantil logo em seguida, O Poço do Visconde, mas com a mesma temática, para tentar driblar a censura governamental. Não obteve sucesso, sendo até mesmo preso em 1941.

Em 1938, houve a criação do Conselho Nacional do Petróleo (CNP), que considerava todas as jazidas minerais em território brasileiro, até mesmo as que nem foram sequer descobertas até aquela data, como pertencentes à União. Após anos de debates, em 1953, Getúlio Vargas sancionou a Lei nº 2004, que criou a Petrobrás e instituiu o monopólio do Estado sobre exploração, refino e transporte do petróleo no país. Isso seria parcialmente revogado em 1997, durante o primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso, com a Lei nº 9.478, que permitiu que pelo menos a concessão para o setor privado dessas práticas fosse autorizada. Ainda se trata de um mercado extremamente regulamentado e atrelado legalmente à Petrobrás, principalmente no que foi verificado no leilão do campo de Libra e com a criação da Pré-Sal Petróleo S.A. (PPSA), também conhecida como Petrosal, responsável pela gestão de contratos das concessões, mas já é uma situação mais positiva.

A permissão da exploração do petróleo por parte das empresas estrangeiras não se trata de “entreguismo”. Se trata da autorização para que empresas do mundo todo possam vir para o Brasil, investir, gerar empregos, renda e infraestrutura. As mesmas remetem lucros para o exterior, só que ao mesmo tempo realizam todas essas ações que melhoram e muito a economia de um país, e ainda por cima dentro de um ambiente mais livre economicamente – até porque um monopólio estatal ainda é um monopólio. Além disso, o investimento externo não surge do nada, e muito menos cai do céu sem motivos, aleatoriamente.

Quando um país possui potencial para investir em mercados lucrativos mas os investidores dali não investem, não é porque não querem. Querer querem, mas não basta apenas querer, é preciso ter capital para investir. Dada a escassez do capital, que precisa ser acumulado constantemente, realizar investimentos a partir do zero é muito mais difícil. E é nesse ponto em que os investidores estrangeiros entram em ação, aproveitando essa oportunidade de utilizarem seu próprio capital para preencher essa “brecha”. Dessa forma, os países em desenvolvimento se aproveitarão de capital mais moderno e que não estava disponível para os países que desenvolveram antes; ao invés de todos partirem igualmente do zero, aqueles que se desenvolverem depois terão um auxílio externo que os países que lideraram a Revolução Industrial, por exemplo, não tiveram. A não ser, claro, que o governo do país rompa com esse processo.

E o setor petrolífero, como um monopólio estatal, sofre das mesmas consequências de ineficiências que um monopólio privado, exceto pelo fato de, por questões sociais e principalmente políticas, haver uma pressão por preços baixos e subsidiados, ao invés de altos. O petróleo, sob esse sistema, é tão “nosso” quanto eram os minérios, antes da privatização da Vale, a telefonia, antes da privatização da Telebrás, a siderurgia, antes da privatização da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), e a produção de aviões, antes da privatização da Embraer. Antes das privatizações, essas empresas via de regra davam prejuízo aos cofres públicos, e às vezes lucros bem modestos se comparados com os atuais. Após as privatizações, a produção das empresas aumentou drasticamente, assim como a qualidade dos serviços realizados. As empresas, hoje, objetivando a maximização do lucro, pagam muito mais em imposto de renda ao governo do que pagavam de dividendos enquanto estatais, e o governo melhorou suas contas com o auxílio do dinheiro que entrou por meio das vendas das empresas. No que diz respeito ao emprego, houve algumas demissões durante o processo da (necessária) reestruturação. Mas nos dias atuais, com o crescimento dessas empresas, muito mais postos de empregos (bem mais produtivos) já foram criados se comparados com o patamar de antes das privatizações – a Vale dobrou os postos em poucos anos. Inegável o avanço socioeconômico dessas medidas.

Conclusão

O Brasil pode se beneficiar muito com a produção e exportação de petróleo. Mas só a exploração de petróleo não é suficiente para resolver os problemas do Brasil, pois essa exploração precisa ocorrer em um sistema com maior concorrência para maximizar os ganhos socioeconômicos. Há, também, o fato de novas jazidas e novos meios de produção para concorrer com o pré-sal e a exploração de petróleo em águas profundas. Os Estados Unidos, com avanços na extração do petróleo em terra firme no meio das rochas de xisto, está buscando a autossuficiência, algo que pode ocorrer por volta de 2035, caso as previsões dos analistas sobre as reservas estejam corretas. Em 2005 o país importava 60% do combustível consumido. Em 2013, o valor já havia caído para 36%, e as projeções indicam 25% já em 2016. As exportações da Petrobras ao mercado americano caíram 60% entre 2011 a 2013.

Dessa forma, caso aumente a produção de petróleo, há a necessidade de que a economia brasileira tenha a possibilidade de ter condições de enfrentar uma realocação de capital na situação de alterações em sua estrutura, o que provavelmente significaria uma gradual redução do peso da indústria e um aumento do peso do setor de serviços e da extração de recursos naturais. Para tanto, uma economia burocratizada e altamente taxada não é o caminho a ser seguido.

A Verdade Sobre o Neoconservadorismo (parte 1)

POR RON PAUL
Artigo escrito em Julho de 2003.

Errata: segue as notas do tradutor não publicadas anteriormente. Para ler a continuação deste ensaio, clique aqui.

Nos dias atuais, o movimento do governo limitado tem sido cooptado. Os conservadores falharam em seus esforços em diminuir o tamanho do governo. Não houve, nem haverá tão logo, uma revolução conservadora em Washington. O controle do partido político do governo federal mudou mas, inexoravelmente, cresceu em tamanho e escopo do governo continuou sem se abater. O argumento progressista pela diminuição governamental em assuntos pessoais e o aventureirismo militar estrangeiro nunca foram seriamente considerado como parte dessa revolução.

Dado que a mudança do partido político no comando não fez uma diferença, quem está realmente no comando? Supondo o determinado partido no poder faz pouca diferença, de qual a política é a que permite programas do governo expandidos, aumento de despesas, enormes déficits, políticas nacionalistas/ desenvolvimentistas[1] e a invasão penetrante de nossa privacidade, com menos proteção da Quarta Emenda[2] do que nunca?

Alguém é responsável e é importante que aqueles de nós que amam a liberdade e ressentem-se a um governo do Grande Irmão[3], identificar os apoiadores filosóficos que tem mais dito sobre a direção que o nosso país está indo. Se eles estiverem errados, e acredito que estejam, nós precisamos mostrar, alertar o povo americano e oferecer uma abordagem mais positiva ao governo. Contudo, isso depende se o povo americano deseja viver em uma sociedade livre e rejeita a noção perigosa de que precisamos de um governo central forte para cuidar de nós do berço à sepultura. O povo americano realmente acredita que é responsabilidade do governo em fazermos moralmente melhores e economicamente iguais? Nós temos uma responsabilidade em policiar o mundo, ao passo que impondo a nossa visão de bom governo em todo o resto do mundo com alguma forma de nacionalismo/ desenvolvimentismo utópico? Supondo que não e com os inimigos da liberdade expostos e rejeitados, então cabe a nós apresentar uma filosofia alternativa que seja superior moralmente, economicamente sólida e provê um guia de assuntos ao mundo para realçar a paz e o comércio.

Uma coisa é certa: os conservadores que trabalharam e votaram por menos governo nos tempos de Reagan e receberam bem a aquisição do congresso americano e a presidência nas décadas de 90 e início de 2000 foram enganados. Em breve ele irão perceber que a meta do governo limitado tem estado quase parada e que suas visões quase não importam mais.

A então chamada revolução conservadora de duas décadas passadas tem dado-nos um enorme aumento no tamanho do governo, em gastos e regulamentações. Déficits estão explodindo e a dívida nacional está agora a subir a mais de meio trilhão de dólares por ano. Os impostos não caem – mesmo que votamos para diminuí-los. Eles não podem, contanto que despesas esteja aumentada, uma vez que todos os gastos devem ser pagos de um jeito ou de outro. Tanto os presidentes Reagan[4][5] e George Bush “pai” aumentaram impostos diretamente. Com esta administração, até agora, impostos diretos tem sido reduzidos – e eles certamente deveriam estar estar reduzidos – mas significa pouco se gastos aumentam e déficits sobem.

Quando impostos não são elevados para acomodar gastos altos, as contas deverão ser pagas tanto por empréstimo ou por “imprimir” dinheiro novo[6]. Esta é uma razão do porque nós temos um generoso presidente do Banco Central que está disposto acomodar o Congresso. Com empréstimo e inflação, “imposto” é adiado e distribuído de um jeito que dificulta, para aqueles que pagam impostos, identificá-lo. Por exemplo, gerações futuras, ou aqueles com rendimentos fixos que sofrem dos aumentos de preço e daqueles que perdem empregos – eles certamente sentem as consequências dos deslocamentos econômicos que este processo causa. Gasto governamental é sempre um “imposto” carregado pelo povo americano e nunca é distribuído igualmente ou de modo justo. O trabalhadores pobres e os de renda média-baixa sempre sofrem a maior parte dos impostos enganosos da inflação e do endividamento.

Muitos conservadores de hoje, que geralmente argumentam por menos governo e que apoiaram a aquisição Reagan/Gingrich/Bush do governo federal, estão agora justificativamente desiludidos. Embora não sendo um grupo monolítico, eles quiseram encolher o tamanho do governo.

No início de nossa história, os que advogavam um governo limitado e constitucional reconheceram dois importantes princípios: o estado de direito foi crucial e um governo constitucional deve derivar “somente poderes do consentimento dos governados”. Foi entendido que uma transferência explícita de poder ao governo poderia somente ocorrer com o poder corretamente e naturalmente dotado para cada indivíduo como um direito dado por Deus. Portanto, os poderes que poderiam ser transferidos seriam limitados ao propósito de proteger a liberdade.

Irving Kristol, o “pai” do neoconservadorismo.

Infelizmente, nos últimos 100 anos, a defesa da liberdade tem sido fragmentada e partilhada por vários grupos, com algum protegendo as liberdades civis, outras liberdade econômica e um pequeno grupo diverso argumentando por uma política externa não-intervencionista.

A filosofia da liberdade tem tido um difícil caminho, e foi esperado que o interesse renovado em um governo limitado de duas décadas atrás iria reviver um interesse em constituir a filosofia da liberdade sem algo mais consistente. Aqueles que trabalharam pela meta de um governo limitado creram a retórica de políticos que prometeram o governo menor. Às vezes era somente um plano de pensamento desleixado de suas partes, mas em outras vezes, eles foram vítimas de uma distorção deliberada de uma filosofia de governo limitado conciso por políticos que induziram muitos a crer que nós veríamos um recuo na intromissão do governo.

Sim, sempre houve um remanescente que ansiava por um governo verdadeiramente limitado e mantido na crença do Império da Lei, combinado com uma profunda convicção de que as pessoas livres e um governo sujeito a Constituição eram formas mais vantajosas de um governo. Eles reconheceram isso como a única forma prática para a prosperidade ser espalhada para o número máximo de pessoas ao passo que promovendo paz e segurança.

Esse remanescente – imperfeito como deve ter sido – foi ouvido nas eleições de 1980 à 1994 e então alcançado grandes vitórias em 2000 e 2002 quando proponentes declaradamente pelo estado limitado assumiram a administração, o senado e a Casa Branca. No entanto, os apoiadores do estado limitado estão agora sendo evitados e sendo motivo de risos. No mínimo, são ignorados – exceto quando eles são usados por novos líderes da direita política, os novos conservadores que agora estão no comando do governo dos EUA.

Os instintos dos remanescentes estavam corretos, e os políticos aquietaram os com a conversa de mercados livres, governo limitado e uma modesto nacionalismo/ desenvolvimentismo em política externa. Contudo, um pequeno interesse pelas liberdades civis foi expressado nesta recente busca por menos governo. No entanto, para uma vitória final de alcançar a liberdade, isto deve mudar. Interesse em privacidade pessoal e escolhas tem, geralmente, permanecido fora do interesse de muitos conservadores – especialmente com o grande dano causado por apoiarem a guerra contra as drogas. Apesar de que algumas confusões emergiram sobre a nossa política externa desde o colapso do império soviético, tem sido um benefício líquido em ter alguns conservadores de volta aos trilhos de uma política externa menos militarista e intervencionista. Infelizmente, depois do 11 de Setembro, a causa da liberdade sofreu um revés. Como resultado, milhões de americanos votaram “revolução americana do menos pior” porque acreditaram nas promessas se políticos.

Agora há crescentes evidências para indicar exatamente o que ocorreu com a revolução. O governo está maior do que nunca e os futuros compromissos são esmagadoras. Em breve, milhões ficarão desencantados com o novo status quo que foi entregue ao povo americano pelos defensores do estado limitado e vão achar nada mais do que o velho status quo. As vitórias pelo governo limitado tem se tornado, de fato, vazias.

Os neocons modernos tem vindo da extrema-esquerda, um grupo historicamente identificado como ex-trotskystas. 

Uma vez que a dívida nacional está a aumentar sob uma taxa de maior do que meio trilhão por ano, o limite da dívida foi recentemente aumentado por um espantoso 984 bilhões de dólares. As obrigações totais do governo dos EUA são de 43 trilhões, enquanto o total do patrimônio líquido das famílias americanas é de apenas 40 trilhões. O país está quebrado, mas ninguém em Washington parece notar ou se importar. O compromisso filosófico e político por canhões ou manteigas[7] – e especialmente pela expansão do império americano – deve ser desafiada. Isso é crucial para nossa sobrevivência.

Apesar da economia estar em tropeços, o congresso e a administração continua a fazer novos compromissos em ajuda externa, educação, agricultura, medicina, esforços múltiplos em um estado nacionalista/ desenvolvimentista e guerras preventivas em volta do mundo. Nós já estamos fixados no Iraque e Afeganistão, com planos para aumentar rapidamente novos troféus para nossas conquistas. Conversa de guerra a se produzir quanto a quando Síria, Irã, e Coreia do Norte serão atacadas.

Como tudo isso aconteceu? Por que o governo fez isso? Por que o povo não se opôs? Quanto tempo isso vai continuar antes que algo seja feito? Alguém se importa?

Será que a euforia das grandes vitórias militares – contra não-inimigos – já amadureceram? Em algum dia, nós como um corpo legislativo devemos encarar a realidade da terrível situação pelo que temos permitindo a nós mesmos sermos enredados. Esperemos que será breve!

Chegamos aqui porque ideias tem consequências. Ideias más tem consequências más e até mesmo a melhor das intenções tem consequências não intencionais. Nós precisamos saber exatamente quais ideias filosóficas foram que nos levaram a este ponto; então, esperamos, rejeitá-los e decidir sobre outro conjunto de parâmetros intelectuais.

Há evidência abundante para aqueles que dirigem nossa política externa justificando guerra preventiva. Aqueles quem esquematizam são orgulhosos das realizações em usurpar o controle sobre a política externa. Estes são os neoconservadores de fama recente. Admitidos, eles são talentosos obtiveram uma vitória política em que todos os formuladores de política devem admirar. Mas pode a liberdade e a república sobreviver a este aquisição? Esta pergunta deveria nos preocupar.

Neoconservadores estão, obviamente, em posições de influência e estão completamente bem alocados em nosso governo e na mídia. Um congresso apático levantou uma pequena resistência e abdicou suas responsabilidades sobre os assuntos estrangeiros. O eleitorado foi facilmente influenciado a se juntar no fervor patriótico apoiando o aventureirismo militar defendido pelos neoconservadores.

O número daqueles que ainda tem esperança por um governo verdadeiramente limitado diminuiu e teve seus interesses ignorados nestes últimos 22 meses, durante a consequência do 11 de Setembro. Membros do congresso foram facilmente influenciados a apoiar publicamente qualquer política doméstica ou aventura militar estrangeira que, supostamente, era para ajudar a reduzir a ameaça de um ataque terrorista. Crentes do governo limitado era mais difícil de encontrar. Dinheiro político, como de costume, desempenhou um papel em pressionar o congresso em apoiar quase que qualquer proposta sugerida pelos neocons. Este processo – onde dólares de campanha e esforços de lobbies afeta a política – é, dificilmente, o domínio de qualquer simples partido político e, infelizmente, é o estilo de vida em Washington.

Há muitas razões do por quê o governo continua a crescer. Seria ingenuidade para alguém esperar o contrário. Desde o 11 de Setembro, a proteção da privacidade, se médica, pessoal ou financeira, desapareceu. A liberdade de expressão e a Quarta Emenda tem estado sob constante ataque. Despesas assistencialistas altas são endossadas por líderes de ambos os partidos. Policiar o mundo e questões nacionalistas/ desenvolvimentistas são alvos de campanha popular, e ainda eles agora padronizam procedimentos operacionais. Não há sinal de que estes programas serão diminuídos ou revertidos, tanto por estarmos parados pela força além mar (pelo que não será breve) ou quanto quebrarmos e podermos não mais dispor desses planos grandiosos para um império mundial (pelo que, provavelmente, virá mais cedo do que tarde).

Nada disso aconteceu por acaso ou coincidência. Ideias filosóficas precisas induziram certos indivíduos a ganhar influência para implementar estes planos. Os neoconservadores – o nome que eles se deram – diligentemente trabalharam em seus caminhos em posições de poder e influência. Eles documentaram suas metas, estratégias e justificação moral para todos os que esperavam realizar. Acima de tudo, eles não eram e não são conservadores dedicados ao governo limitado e constitucional.

Leo Strauss, o intelectual que está por trás das ideias imperialistas neoconservadoras.

O neo-conservadorismo tem estado em volta por décadas e, estranhamente, possui conexões com gerações passadas já em Maquiavel. O neo-conservadorismo de hoje foi introduzido a nós na década de 1960. Implica tanto uma estratégia detalhada quanto uma filosofia de governo. As ideias de Teddy Roosevelt[8] e, com certeza, Woodrow Wilson[9] foram muito semelhantes das ideias dos neocons modernos. O porta-voz neocon Max Boot se gaba de que o que ele defende é o “Wilsonianismo[10] forte”. Em muitos aspectos, não há nada “neo” em seus pontos de vistas e, com certeza, nada conservador. No entanto, eles tem sido capazes de cooptar o movimento conservador por propagandear a eles mesmos como uma nova ou moderna forma de conservadorismo.

Mais recentemente, os neocons modernos tem vindo da extrema-esquerda, um grupo historicamente identificado como ex-trotskystas. O progressista Christopher Hitchins[11] recentemente se juntou oficialmente aos neocons. E tem sido relatado de que ele já foi à Casa Branca como um consultor ad hoc. Muitos neocons agora em posição de influência em Washington podem traçar seus status de vota ao professor Leo Strauss, da Universidade de Chicago. Um dos livros de Strauss foi Thoughts on Machiavelli (Reflexões sobre Maquiavel, tradução livre). Este livro não foi uma condensação da filosofia de Maquiavel. Paul Wolfowitz, na verdade, teve seu doutorado sobre Strauss. Outros intimamente associados com estes pontos de vistas são Richard Perle, Eliot Abrams, Robert Kagan e William Kristol. Todos são peças-chaves em elaborar nossa nova estratégia de guerras preventivas. Outros incluem: Michael Ledeen, do American Enterprise Institute; James Woolsy, ex-diretos da CIA; Bill Bennet do famoso livro Book of Virtues (Livro de virtudes, tradução livre), Frank Gaffney, Dick Cheney e Donald Rumsfeld. Há pouco demais para mencionar quem estão filosófico ou politicamente conectados a política neocon em algum variados grau.

O padrinho do moderno neo-conservadorismo é considerado Irving Kristol, pai de William Kristol, que preparou o terreno em 1983 com sua publicação Reflections of a Neoconservative (Reflexões de um neoconservador, tradução livre). Neste livro, Kristol também defende a tradicional posição progressista do assistencialismo.

Mais importante do que os nomes de pessoas afiliadas om o neo-conservadorismo, são os pontos de vistas do qual eles aderem. Aqui está um breve resumo do entendimento geral do que os neocons acreditam:

  1. Concordam com Trotsky em uma revolução permanente, violenta, bem como intelectual.
  2. Eles estão redesenhando o mapa do Oriente Médio e estão dispostos a usar da força para fazê-lo.
  3. Acreditam em guerras preventivas para alcançar os fins desejados.
  4. Aceitam a noção de que os fins justificam os meios – que seus métodos políticos em usar modos desumanos, cruéis e agressivos é uma necessidade moral.
  5. Não expressam oposição ao estado assistencialista.
  6. Não estão envergonhados sobre o império americano, pelo contrário, o aprovam.
  7. Acreditam na mentira como necessário para o estado sobreviver.
  8. Acreditam que um poderoso governo em âmbito federal seja benéfico.
  9. Acreditam em fatos pertinentes em como a sociedade deveria ser executada e realizada pela elite e retida daqueles que não tem coragem de lidar com isso.
  10. Acreditam que a neutralidade nas relações exteriores é desaconselhável.
  11. Possuem alta estima por Leo Strauss.
  12. Acreditam que o imperialismo, se de natureza progressiva, é apropriado.
  13. Usando o poderio americano em forçar ideais aos outros é aceitável. Esse uso da força não deveria ser limitada a defesa de nosso país.
  14. O 11 de Setembro resultou na falta de envolvimentos estrangeiros e não de muitos envolvimentos.
  15. Não gostam e menosprezam libertários (portanto, o mesmo se aplica a todos os ferrenhos constitucionalistas)
  16. Defendem ataques contra as liberdades civis, como aqueles encontrados no Patriot Act, como sendo necessário.
  17. Incondicionalmente apoiam Israel e tem uma aliança próxima com o Partido Likud.

Várias organizações e publicações dos últimos 30 anos desempenharam um papel significante na ascensão do poder dos neoconservadores. Pegaram muito dinheiro e compromisso para produzir argumentos intelectuais necessários para convencer muitos participantes do movimento de sua própria respeitabilidade.

Não é segredo – especialmente depois da obstinada pesquisa e artigos escritos sobre neocons desde a nossa invasão no Iraque – em como eles ganharam influência e quais organizações foram usadas para promoverem suas causas. Apesar de décadas, eles agitaram suas crenças através de publicações como National Review, The Weekly Standard, The Public Interest, The Wall Street Journal, Commentary e New York Post, suas opiniões somente ganharam força nos anos 90, seguido da primeira Guerra do Golfo Pérsico – que ainda não terminou, mesmo com a remoção de Saddam Hussein. Eles tornaram-se convencidos de que uma abordagem muito mais combativa para resolver todos os conflitos no Oriente Médio era uma necessidade absoluta, e estavam determinados a implementar essa política.

Além das publicações, múltiplos institutos e projetos foram criados para promover sua agenda. Um produto do Bradley Foundation, o American Enterprise Institute (AEI) levou o neocon comandar, mas o verdadeiro impulso pela guerra veio do Project for a New American Century (PNAC), outra organização ajudada pela Bradley Foundation. Isto ocorreu em 1998 e foi presidido pelo editor da Weekly Standard, Bill Kristol. Logo no início, eles insistiram uma guerra ao Iraque mas ficaram desapontados com a administração de Clinton, que nunca seguiu seus ataques periódicos. Obviamente, esses ataques foram motivados mais pelo problemas pessoais e políticos de Clinton do que na crença da agenda neocon.

A eleição de 2000 mudou tudo isso. O Conselho de Política de Defesa, presidido por Richard Perle, não desempenhou nenhum papel pequeno na coordenação de vários projetos e institutos, todos determinados a nos levar a uma guerra contra o Iraque. Não foi muito tempo que o sonho do império foi trazido mais próximo da realidade pela eleição de 2000, com Paul Wolfwitz, Richard Cheney e Donald Rumsfeld desempenhando papéis importantes neste feito. O plano para promover uma “grandeza americana” de política externa imperialista era agora uma possibilidade distinta. O Iraque ofereceu uma ótima oportunidade para provar suas teorias de longa data. Esta oportunidade foi uma consequência do desastre do 11 de Setembro.

O dinheiro e os pontos de vistas de Rupert Murdock também desempenharam um papel importante em promover as visões neocons, também como angariar apoio da população em geral, através do seu News Corporation o qual pertence a Fox News Network, o New York Post e Weekly Standard. Este poderoso e influente império de mídia fez mais para galvanizar apoio público a invasão iraquiana do que se poderia imaginar. Isso facilitou a política de Rumsfeld/ Cheney como seus planos para atacar o Iraque chegaram a ser concretizados. Teria sido difícil para os neocons usurparem a política política externa das restrições do Departamento de Estado de Colin Powell sem a agitação de sucesso do império de Rupert Murdock. Max Boot estava satisfeito, como ele mesmo explicou: “Neoconservadores acreditam em usar o poderio americano para promover ideais americanos no exterior”. Esta atitude está muito longe do conselho dos Pais Fundadores americanos, que defendiam não enredar alianças e neutralidade como o objetivo correto de uma política externa americana.

Que não haja dúvida, aqueles no campo de neocons tem estado ansiosos para ir a uma guerra contra o Iraque por uma década. Eles justificam o uso da força para realizar seus objetivos, mesmo que seja necessário uma guerra preventiva. Se alguém duvida dessa informação, apenas precisa ler de suas estratégias em “A Clean Break: a New Strategy for Securing the Realm ”[12]. Embora eles se sentiram moralmente justificados em mudar o governo do Iraque, eles sabiam que o apoio público era importante e a justificação tinha sido dada para buscar a guerra. Claro, uma ameaça para nós tinha que existir diante do povo e do congresso iria junto com a guerra.

A maioria dos americanos se convenceu desta ameaça, pelo que, na realidade, realmente nunca existiu. Agora nós temos um debate em andamento sobre a localização das armas de destruição em massa. Onde estava o perigo? Foi toda uma matança e gastos necessários? Por quanto tempo esse nacionalismo/ desenvolvimentismo e essa morte lenta irá durar? Quando nos tornarmos mais interessados sobre as necessidades de nossos cidadãos do que os problemas que procuramos no Iraque e Afeganistão? Quem sabe onde será a próxima – Irã, Síria ou Coreia do Norte?

No fim da Guerra Fria, os neoconservadores realizaram um rearranjo do mundo que estava ocorrendo e que nossa economia superior e poder militar ofereceu-lhes uma perfeita oportunidade para controlar o processo de refazer o Oriente Médio.

Foi reconhecido que uma nova era estava sobre nós e os neocons acolheram pela declaração o “fim da história” de Frances Fukuyama. Para eles o debate acabou. O Ocidente venceu, os soviéticos perderam. O comunismo antiquado estava morto. Vida longa a nova era do neoconservadorismo. A luta pode não estar acabada, mas o Ocidente venceu a luta intelectual, eles argumentaram. O único problema é que os neocons decidiram definir a filosofia dos vitoriosos. Eles tem sido espantosamente bem sucedidos em seus esforços para controlar o debate sobre o que os valores ocidentais são e por quais métodos eles serão espalhados pelo mundo.

Aguarde a parte final deste ensaio.

Traduzido por Rodrigo Viana

Notas do tradutor:
[1] O termo original é Nation Building porém foi adotado o termo “nacionalismo/ desenvolvimentismo” por estar razoavelmente mais próximo do significado original.
[2] Quarta Emenda constitucional americana – Wikipedia
[3] Referente ao romance 1984 de George Orwell.
[4] The Reagan Fraud – And After, por Jeff Riggenbach – Mises Institute
[5] The Mithys of Reaganomics, por Murray Rothbard – Mises Institute
[6] O Básico sobre a Inflação, por Henry Hazlitt – Instituto Mises
[7] Canhões ou manteiga é uma expressão econômica onde os gastos governamentais priorizam a questão da defesa (armas/ militarismo) ou produção de bens (consumo para a população).
[8] Teddy Roosevelt foi presidente dos EUA no período entre 1901 à 1909. Seu governo foi bem caracterizado por um intervencionismo externo.
[9] Woodrow Wilson foi presidente dos EUA no período entre 1913 à 1921. Seu governo exerceu um forte intervencionismo/ imperialismo externo para a finalização da 1a Guerra Mundial. Tais ações política foram descrita através do seu “Quatorze Pontos”.
[10] Relativo às políticas intervencionistas do governo de Woodrow Wilson. Tem como metas “espalhar” democracia e capitalismo à força, contrário às políticas isolacionistas e não-intervencionistas e a favor de um imperialismo para a garantia do interesse da nação.
[11] Christopher Hitchins é um escritor e jornalista britânico. Foi tachado de neoconservador por apoiar as políticas intervencionistas no Iraque.
[12] Clean Break é um documento político que foi preparado por um grupo liderado por Richard Perle e, na época, o primeiro ministro israelita Benjamin Netanyahu. É um relatório sobre como resolver a questão da segurança de Israel no Oriente Médio com uma ênfase nos “valores ocidentais”. Tem sido criticado por conter uma defesa de política agressiva, como também na remoção de Saddam Hussein do poder no Iraque.