Guia Prático para a Esquerda alcançar o Poder Totalitário

Este texto foi publicado originalmente no blog “Mundo Analista“. Para ler no original, clique aqui

lula-mafioso

Você é marxista, mas está frustrado porque precisa fingir ser democrático? Está irritado e triste porque não vê mais maneira de instaurar a ditadura do proletariado? Percebeu que seu sonho de ver conservadores e burgueses um dia fuzilados está indo por água abaixo? Seus problemas acabaram!!! Aqui vai o “Guia Prático para a Esquerda alcançar o poder totalitário”. São 30 passos para você colocar seu partido no poder e instalar uma ditadura sem ser taxado de ditador e golpista. Vamos acompanhar.

(1) Encha as faculdades de professores marxistas e os instrua a enfiar ideias de esquerda no meio de suas aulas, mesmo que não tenha nada a ver. Com isso, as faculdades formarão militantes esquerdistas. Eles virarão advogados, juízes, jornalistas, sociólogos, psicólogos, filósofos, cineastas e artistas de esquerda, e começarão a ocupar outros lugares importantes, tornando-se influentes na sociedade. No meio de todos esses, a faculdade também estará formando professores! Esses professores continuarão o ciclo de doutrinação de alunos, muitos agora sem nem perceberem. Em pouco tempo, tanto nas faculdades, quanto nas escolas, os professores serão majoritariamente de esquerda.

(2) Modere seu discurso e procure apoio de grandes empresas e de algum grande partido. “Ah, mas eu estarei mentindo…”. Dane-se! Você não quer o poder totalitário? Vale tudo! Tudo pela revolução. Os fins justificam os meios. O partido é o novo Príncipe, de Maquiavel. Com apoio de um grande partido e grandes empresas, seu partido terá dinheiro para fazer campanha e votos. Ficará fácil ganhar a eleição. E lembre-se: você encheu faculdades de marxista. Os intelectuais formados ali e espalhados em vários lugares de influência te darão apoio e farão você ter uma boa imagem para a sociedade.

(3) Chegou ao poder? Trate de agradar os empresários e o partido que te ajudaram a chegar lá. É sua parte no acordo e você precisa gerar confiança. Mas não se acomode. Há um totalitarismo à conquistar.

(4) Para não parecer elitista e também para conseguir a confiança do povo, invista em programas sociais. Se já existem, renomeie cada um deles, injete mais grana e diga que foi seu partido que os criou. Não se preocupe com questões supérfluas como: “De onde tirarei o dinheiro?”. Se a economia estiver boa, dá para engordar esses programas por um bom tempo. Se não estiver boa, aumente impostos, mande imprimir mais dinheiro, pegue empréstimos com bancos privados, pedale com os bancos públicos, enfim… Há muitas maneiras de se conseguir dinheiro. Não se preocupe se todas essas maneiras vão destruir a nação, causando inflação, quebradeira nas empresas, desemprego e etc. O importante é ter o dinheiro para manter os programas sociais. Isso garante voto e será usado pelos intelectuais que você criou para defender o partido. O que ocorrer de ruim com a economia por sua culpa, você transfere a culpa para o governo anterior, ou para o sistema capitalista, ou para alguma crise global. As crises são suas amigas, não se esqueça.

(5) Mantenha altos os impostos, as burocracias e as regulamentações por parte do governo. Quanto mais você puder asfixiar o setor privado, melhor. Onde você puder colocar a mão do Estado, coloque. É claro que nesse cenário só as empresas grandes sobreviverão. Não há problema. São essas empresas grandes que você vai procurar agradar por um tempo para conseguir apoio. Concomitantemente, são elas que os intelectuais à favor do partido vão culpar por todas as desgraças do país, como se o governo não tivesse qualquer participação. Dificultar a livre concorrência com altos impostos, burocracias e regulamentações é perfeito para impedir o desenvolvimento pleno do capitalismo e, ao mesmo tempo, culpar o próprio capitalismo, fortalecendo o discurso de que o governo precisa intervir ainda mais na economia. Cria-se aqui um ciclo. Quanto mais você intervir, mais problemas causará. E quanto mais problemas causar, mais poderá culpar o capitalismo e vender a ideia de que precisa intervir mais. Mantenha esse ciclo vivo sempre e o caminho do totalitarismo será inevitável.

(6) Não tenha escrúpulos se precisar agraciar algumas grandes empresas “amigas” do governo com empréstimos à baixos juros, isenções fiscais, licitações fraudadas e obras superfaturadas. Lembre-se que em todas essas manobras o seu partido sairá ganhando, pois terá mais dinheiro e apoio.

(7) Utilize as empresas estatais para desviar verbas, distribuir cargos dos altos escalões para pessoas de confiança do partido, lotar os baixos escalões de militantes, sugar mais dinheiro de impostos do povo e consolidar a cultura do “meu sonho é passar num concurso para ser funcionário público”. Tudo isso é muito importante. Com o aparelhamento das empresas estatais ao partido é possível criar os mais diversos esquemas de desvio de verbas, o que facilitará o financiamento das eleições do partido e a expansão de suas atividades legais e ilegais. Lembre-se: dinheiro é muito importante. Sem ele, o partido não poderá comprar o povo pobre, nem empresários, nem parlamentares, nem artistas, nem ninguém.

(8) Compre parlamentares sempre que necessário. Se uma lei importante precisa ser aprovada e tem gente indecisa no plenário, compre. Não hesite. Há um monte de políticos oportunistas só esperando quem irá pagá-los mais. Você pode pagar com dinheiros ou outros benefícios. Veja o que será melhor conveniente em cada caso. O importante é conseguir o voto dele e aprovar as leis que você precisa para chegar ao totalitarismo.

(9) Escolha bem os juizes da Suprema Corte do país, bem como os ministros e mais quem comporá cada órgão. Os escolhidos devem ser pessoas leais à cleptocracia do partido. São eles que darão status legal à tudo o que o partido quiser fazer. Os juízes, no entanto, devem fazê-lo de modo a não comprometer a imagem de imparciais. Deve-se lembrar ainda que nem sempre o partido poderá ser salvo por esses juízes, ou porque ficaria muito na pinta em determinadas circunstâncias, ou porque a pressão popular seria grande, ou porque a Corte ainda não está tomada inteiramente por juízes do sistema, o que impede uma maior liberdade. Por isso, é preciso cautela.

(10) Financie projetos de artistas, sobretudo se forem de esquerda. Isso colocará boa parte da classe artística à favor do governo. E o seu exército de intelectuais de esquerda (já produzidos pela faculdade) farão a sociedade achar que não se trata de uma moeda de troca, mas de “incentivo à cultura e à arte”, o que soa muito importante. Coloque na cabeça das pessoas o mito de que a cultura e a arte não sobrevivem sozinhas se não tiverem incentivo do governo, que o Estado é essencial para que haja vida cultural no país, que quem se opõem a esses incentivos está querendo destruir a cultura, a arte e os artistas. Não negligencie esse ponto. O apoio dos artistas é essencial para ganhar as massas e fazer circular projetos de orientação esquerdista, sejam filmes, peças, séries, seriados, telenovelas, livros, músicas ou o que for.

(11) Crie uma forte campanha para desarmar a população, utilizando um discurso de que a violência no país se dá porque o povo tem acesso às armas. Desarmar a população é essencial para alcançar o poder totalitário no futuro sem grandes problemas. Uma população armada poderia se revoltar contra o governo e gerar uma luta sangrenta contra a ditadura. Não seria algo interessante para o partido. Então, armas só nas mãos da polícia, ok? Se não for possível desarmar por completo, crie o máximo de dificuldade possível. Não se preocupe com o fato de que os bandidos continuarão armados. Os bandidos não te causarão problemas. Eles estão pouco se lixando para política. A intenção é desarmar a população honesta mesmo.

(12) Só a polícia tem acesso às armas? Ótimo. O próximo passo é centralizar as polícias nas mãos do poder federal. Do que adianta, por exemplo, tirar as armas do povo, mas ter polícias independentes em cada Estado-Membro da União? Totalitarismo é o oposto a isso. Significa poder total nas mãos do Estado. Essa independência militar dos diferentes estados e regiões que compõem uma nação não pode existir. Isso tornaria muito difícil a tomada de decisões autoritárias por parte do governo federal. Crie um discurso de unificação das polícias e da criação de uma grande força nacional. A ideia vai colar bem se você defender isso alegando desejar uma maior organização e humanização da polícia. Se conseguir esse feito, toda a polícia do país estará nas mãos do partido.

(13) Fomente a indisciplina e a falta de limites no ensino básico e fundamental. Crianças e adolescentes precisam crescer sem limites, abusados, inconsequentes. Qualquer disciplina deve ser gradualmente considerada opressora. Os intelectuais de esquerda formados pelas faculdades ajudarão nisso, no âmbito da cultura. A ideia é que os estudantes sejam insubmissos à autoridade, amantes dos prazeres e pouco inteligentes. Isso os fará uma boa massa de manobra e enfraquecerá o conservadorismo. Os que escaparem ao emburrecimento, poderão ser doutrinados por professores marxistas ainda no ensino fundamental e/ou na faculdade.

(14) Crie projetos de lei para incluir educação sexual no curriculo escolar de crianças e adolescentes. Essa é uma das táticas importantes para enfraquecer o conservadorismo, o cristianismo, a moral judaico-cristã e a família tradicional – historicamente pedras no sapato do socialismo. Quanto mais devassos você conseguir transformar os jovens, menos resistência haverá na sociedade aos projetos do seu partido. Por esta causa, explore a imagem de o socialismo e o seu partido serem à favor da liberdade sexual.

(15) Espalhe, através de seu exército de intelectuais, a devassidão pela cultura. E faça o que for possível para fortalecer isso. Usar recursos públicos para esse tipo de coisa é belo e moral (para a causa do partido, claro).

(16) Fomente conflitos e problemas que possam ser usados para culpar o capitalismo, o conservadorismo, o cristianismo e os valores judaico-cristãos. A criminalidade, o racismo, a homofobia, a intolerância, enfim, tudo isso pode ser fomentado e depois colocado na conta da direita, do “neoliberalismo”, da religião cristã e etc. Você pode e deve criar um caos na sociedade. O seu exército de intelectuais vai criar uma teia de explicações que culpará seus inimigos.

(17) Para garantir as eleições (caso a doutrinação da população demore ainda algumas décadas e os problemas econômicos coloque o povo insatisfeito com o governo), procure manter um sistema de urnas eletrônicas que possam ser facilmente fraudáveis. É óbvio que não será possível fraudar todas, mas sempre é possível fraudar algumas. Isso poderá ser muito útil.

(18) Crie projetos de lei que pretendam regular a mídia e a internet. Para esses proejtos fugirem ao rótulo de “censura”, use o termo “democratização”. Diga que a intenção dessas leis é impedir abusos de grandes grupos de comunicação e o ódio de indivíduos “fundamentalistas”. É claro que a intenção real é fazer uma censura velada à opiniões, comentários, análises e notícias que possam ser muito prejudiciais ao governo.

(19) Financie com dinheiro público blogs, sites e revistas impressas que sejam favoráveis ao governo. Não hesite. Meta a mão na grana e gaste muito nisso, pois esses meios servirão de propaganda para o partido, mas com status e aparência de veículos sérios de informação. Encha a internet desse tipo de jornalismo.

(20) Não foque apenas nos meios de comunicação favoráveis ao governo. Uma forma de amenizar as críticas de meios de comunicação adversários é enchê-los de publicidade estatal. Seus proprietários, acionistas e mesmo editores-chefes tenderão a não pegar muito pesado. Mas se o dinheiro estatal não impedir muito as críticas, você ainda tem uma carta na manga: tirar o dinheiro. A redução de publicidade fará os meios de comunicação perceberem que o governo não gostou da postura, o que os impulsionará a pegarem mais leve. Relembro: dinheiro é muito importante.

(21) Aumente o número de cargos comissionados e pessoal de gabinete com militantes do partido. Dobre ou até triplique o número se for possível. Quanto mais inchado de militantes o Estado tiver, melhor. Isso dará substância e verba ao partido, servirá de moeda de troca e agradará os amigos.

(22) Depois de ter se esbaldado com dinheiro de empresários e eleito uma enorme bancada de parlamentares, se coloque favorável a uma lei que vete doação de empresas à campanhas. A ideia é aumentar o fundo público partidário. O maior beneficiário será seu partido, que já possui ampla bancada e receberá mais. Os partidos menores terão menos e sem poder contar com dinheiro de empresas, terão dificuldade de eleger parlamentares.

(23) Crie e mantenha financeiramente organizações que apoiam a esquerda, ou cooptar organizações já existentes para a esquerda, sejam elas ONGs, sindicatos trabalhistas, união geral de estudantes, movimentos feministas, movimentos LGBT e etc. A ideia é alimentar essas organizações, fazê-los aceitar a agenda do seu partido e criar uma rede fiel de organizações que aparentam lutar pelos interesses das minorias.

(24) Apoie tudo o que possa ir contra a moral judaico-cristã, o capitalismo, o conservadorismo, a família tradicional, o cristianismo ou os EUA. Pode ser ditaduras islâmicas, ditaduras comunistas, narcotraficantes, terroristas, multiculturalismo, relativismo moral, relativismo da verdade, vandalismo pró-socialismo, aborto, promiscuidade, sexualização de crianças e adolescentes, casamento gay, casamento poliamoroso, pedofilia, zoofilia, enfim, tudo. Não importa o quão contraditórias todas essas coisas juntas possam ser.

(25) Invista no politicamente correto e no policiamento ideológico. Tudo o que for ruim para o partido, chame de retrógrado, fundamentalista, intolerante, preconceituoso, discriminador, fascista, machista, desumano e etc. Policie a linguagem das pessoas, crie proibições sobre alguns termos e imponha os próprios chavões do partido e da esquerda. Sobretudo, mantenha-se senhor das definições e dos rótulos, a fim de que você ganhe as discussões na base dos termos e não dos conteúdos.

(26) Invista nas faculdades. Não no sentido de tornar o ensino melhor. Até porque, para isso, seria necessário investir primeiro nos ensinos básico, fundamental e médio. Invista nas faculdades no sentido de aumentar a oferta de vagas e facilitar a entrada de pessoas lá. As faculdades são grandes centros de doutrinação. Quanto mais universitário tiver, melhor. Vão sair todos militantes ou, no mínimo, simpatizantes do partido.

(27) Enfie um monte de livros enviesados na grade curricular das escolas e colégios. Quanto mais livros contiverem uma visão favorável à esquerda e ao marxismo, e antipática ao capitalismo, aos EUA e ao conservadorismo, melhor. O sistema de educação deve estar todo enviesado. Ele deve se tornar uma máquina de emburrecimento e doutrinação. Quem escapar do emburrecimento puro e simples, não escapará à doutrinação. Só há duas metas que a educação deve ter: criar massa burra de manobra e criar intelectuais militantes.

(28) Infiltre marxismo no interior das religiões, mas principalmente do cristianismo. Crie vertentes teológicas dentro do cristianismo que sirvam de braços para a esquerda, que possam influenciar e cooptar cristãos sem que eles precisem sair de suas religiões. A ideia é alcançar aqueles que não desejam se tornar ateus ou deixar crer em Cristo. Desde que o cristianismo deles esteja repleto de marxismo, secularismo e sincretismo, não há problema nisso. É até melhor, pois eles poderão influenciar cristãos dentro de suas igrejas com um discurso de que marxismo e cristianismo não se excluem, ao contrário, se complementam.

(29) Não permitam que associem a imagem do partido e da esquerda ao ateísmo. Embora o marxismo ortodoxo seja ateísta, a história deixou claro que tentar extirpar a religião do povo não dá certo. Então, a ideia é apresentar o partido e a esquerda como favoráveis à tolerância religiosa. É claro que essa tolerância não inclui o cristianismo verdadeiro. Mas isso não precisa ser dito. Para tanto, procure, através do exército de intelectuais de esquerda, incentivar o conhecimento e a tolerância às religiões africanas e tribais, ao budismo, ao hinduismo, às variadas formas de exoterismo e etc. Aos mais céticos, aí sim, sirva ateísmo (de preferência, ateísmo militante – neoateísmo). E aos cristãos que não vão deixar o cristianismo de forma alguma, sirva, como já dito, formas marxistas de cristianismo. Assim resolvemos o problema das religiões.

(30) Legal. Você chegou até aqui. Ocupou faculdades e escolas; doutrinou alunos; fomentou rebeldia e burrice; formou militantes esquerdistas e espalhou-os pela sociedade; subiu ao poder com apoio e financiamento de empresários; aparelhou as estatais; comprou o povo com populismo; comprou empresários com esquemas de corrupção; comprou parlamentares; comprou artistas; comprou parte da mídia; invadiu as religiões; fortaleceu conflitos, dividindo a sociedade; criou censura velada; desarmou a população; centralizou as polícias; garantiu um sistema eleitoral manipulável; expandiu a intervenção do Estado; colocou a culpa de todo o mal em seus inimigos. Neste ponto, você está pronto para dar o golpe final e instaurar o totalitarismo pleno. O Estado e a sociedade estão nas suas mãos. Abrir-se-ão três opções:

A) Você pode começar a se voltar contra os empresários que te ajudaram. Eles não são coitados, claro. Eles te ajudaram para obter benefícios e iriam te descartar no momento em que as crises causadas pelo seu partido começassem a afetá-los. Como um bom político estrategista, você os larga antes de eles te largarem. Iniciará um discurso firme contra o capitalismo e usará seus poderes despóticos para expropriar as empresas e bens deles;

B) Você pode resolver parar onde chegou, percebendo que estatizar tudo não dará certo e que é possível engambelar os seus amigos empresários (ou engambelar o povo), mantendo um poder totalitário de caráter corporativista. Aqui o populismo continua e o sistema permanecerá até que abe o dinheiro da população;

C) Você pode perceber que estatizar tudo não dará certo, que as crises causadas pelo seu governo irão destruir a nação e te tirar do poder, e que, portanto, é melhor fazer algumas reformas pontuais, liberalizando um pouco o mercado para que o país respire, mas sem tirar muito a mão do Estado, mantendo um corporativismo mais ameno.

Se escolher as opções (B) ou (C) você não deixa de ser esquerdista. Não se preocupe. Às vezes temos uma meta e depois descobrimos que ela não é possível ou viável. Acontece. Não se ache um farsante.

Mas talvez você tenha seguido todos esses passos desde o início por puro interesse em poder. Ou ainda: talvez você tenha inciado a trajetória realmente querendo mudar o mundo para melhor, mas acabou mudando de ideia no caminho, percebendo que ter poder é um bem em si mesmo e que você gostou do sistema incompleto que criou. Neste caso, também não precisa se preocupar. Lembre-se que nesse processo todo você abriu mão da moral, colocou-se acima do bem e do mal. Sendo assim, não há do que culpar. Você é tão inescrupuloso quanto qualquer político oportunista. Já que Deus não existe (segundo a ótica marxista), nem a moral, nem nada, aproveite a vida. Mantenha o poder, compre tudo do bom e do melhor e, quando precisar aliviar a consciência (essa coisa chata que insiste em nos atormentar), lembre a ela que você ajudou muitas famílias com populismo. E minta descaradamente para si mesmo. Não é difícil. Você mentiu a vida inteira para todos. Poderá mentir para você mesmo sem maiores dificuldades.

Por que me tornei de direita? – Parte 1

Este texto foi originalmente publicado no blog “Mundo Analista“. Para ler na página original, clique aqui.

L Death NoteResolvi expor aqui as razões pelas quais eu me tornei de direita (ou conservador político, reacionário, coxinha… O que vocês preferirem). Vou fazer isso porque algumas pessoas não entendem a minha posição política e não poucas acham que eu me tornei de direita por mera modinha, sem ter qualquer base razoável para isso, mas apenas baseado em bordões, frases de efeito e ideias estereotipadas. Espero com este texto possa sanar algumas dúvidas e deixar claro para todos a minha posição.

Sobre a organização do texto, uma vez que ele ficou bem maior do que eu pensava que ficaria, resolvi dividi-lo em duas partes. Além disso, ele é subdividido em oito capítulos breves, que vão revelando aos poucos o passo a passo da minha transformação política, e uma conclusão. Vamos começar.

Capítulo 1: Como era o meu pensamento?

Até os meus 17 anos de idade eu não tinha o menor interesse em política. Minha visão sobre o assunto era a visão comum à maioria dos brasileiros. Ela se resumia no seguinte conjunto de ideias:

(1) só existem dois tipos de políticos: os honestos e os desonestos. No Brasil, os  desonestos são a maioria;

(2) os desonestos são aqueles que desviam verbas para encher os próprios bolsos e enriquecerem. Os honestos são aqueles que querem beneficiar o povão com coisas públicas;

Em outras palavras, eu acreditava que para o Brasil mudar apenas precisávamos de políticos honestos. Mais nada. Afinal, políticos honestos não roubariam dinheiro, mas, em vez disso, iriam criar e ampliar um monte de coisas públicas, beneficiando as pessoas pobres. Simples assim! “Se isso não acontece no Brasil”, pensava eu, “é porque há muita corrupção”.

A partir desses dois pensamentos acríticos eu concluía quase inconscientemente:

(3) que a raiz de todos os problemas do Brasil é, indiscutivelmente, a corrupção;

(4) que quem luta por coisas públicas é honesto e a favor dos pobres;

(5) que um governo bom é o que faz muitas coisas públicas;

(6) que qualquer manifestação de pessoas pobres contra pessoas ricas e/ou a   favor de coisas públicas é sempre algo bom, pois parte de gente honesta;

(7) que grandes empresários são o pior tipo de gente que pode existir (junto com   os políticos corruptos). Afinal, eles são donos de grandes riquezas privadas, e o   privado é ruim, o público é que é legal;

(8) que privatização é algo muito ruim;

(9) que o capitalismo é algo ruim;

(10) que os EUA são o pior inimigo do mundo;

(11) que o governo FHC não foi bom, pois privatizou empresas;

(12) e que o comunismo, embora tenha dado alguns “pequenos problemas” (mas “nada” tão grave e horrendo, como foram o nazismo, a ditadura militar brasileira ou as guerras feitas pelos norte-americanos), ele tem muitos princípios bons que podem ser usados no capitalismo para ajudar os pobres. Assim, ser marxista é algo bom; e só empresários e políticos corruptos são antimarxistas.

Pois bem. Essa era minha visão até os 17 anos de idade. E é válido ressaltar que eu achava política uma chatice. Quando alguém dizia a palavra política, geralmente me vinha à mente a visão de esquemas de corrupção revelados pelo “Fantástico”, na Rede Globo, ou de propagandas partidárias. Ou seja, eu era um prisioneiro do “senso comum”, da opinião medíocre, da unanimidade. Minhas crenças faziam parte de um saco de crenças que todo mundo que não entende e não tem interesse em política compartilha com alegria, achando-se muito inteligente.

Capítulo 2: Como e quando minha visão começou a mudar?

As coisas começaram a mudar quando eu estava no 3° ano do ensino médio. Eu me preparava para o vestibular e contraí uma preocupação: o atual ambiente acadêmico costuma a ser hostil ao cristianismo e aos cristãos. Como eu não queria ter embates com professores e alunos sobre minha fé sem que ter como responder racionalmente, passei a estudar sobre o assunto. Acabei descobrindo a apologética, um ramo da teologia que se ocupa em explicar, embasar e defender o teísmo e o cristianismo de maneira racional, baseando-se em campos de estudo como: filosofia, lógica, ciências naturais, história, arqueologia, literatura, filologia, princípios interpretativos básicos e etc.

Naquele momento, um novo mundo se abriu diante dos meus olhos. Eu percebi que, embora a maior parte das pessoas não saiba (mesmo os cristãos), há milhares de sites e livros que tratam de temas apologéticos, respondendo com tranquilidade todas as críticas lançadas por acadêmicos antirreligiosos ao teísmo e ao cristianismo; críticas essas que são tolamente alardeadas pelas grandes mídias, a fim de vilipendiar a religião, causar polêmicas e ganhar audiência. Os livros apologéticos que descobri, aliás, são de autores renomados em suas faculdades, com títulos de doutorado e pós-doutorado nas mais diversas áreas de estudo.

O interesse que ganhei pela área apologética dura até hoje. Eu passaria os dois anos seguintes àquela descoberta em intenso estudo individual. Ora, seria justamente este estudo que me introduziria também à política. Como? Vamos ver.

Os três sites que eu mais lia sobre apologética eram “Quebrando o encanto do neoateísmo”, “Luciano Ayan” e “Teísmo”. Os três sites tinham como objetivo não só apresentar argumentos racionais para o cristianismo, mas atacar argumentos falhos e desonestos de neoateus.

Quem são os neoateus? Peço muita atenção do leitor agora. Neoateus são ateus antirreligiosos e militantes. Eles não apenas descreem de Deus, mas também odeiam a religião, são hostis aos religiosos e passam a maior parte de seu tempo livre tentando “desconverter” pessoas e lançando ofensas diversas contra crentes, crenças e símbolos religiosos. Para eles, todas as religiões são nocivas e precisam ser extintas da terra. E eles lutam diariamente por isso.

O problema dos neoateus não é só a agressividade e o desrespeito à liberdade religiosa. Além disso, eles também são desonestos intelectualmente. Eles não estudam nada do que dizem renomados intelectuais religiosos, lançam argumentos falaciosos e mentiras, fazem interpretações absurdas da Bíblia (a fim de forçar contradições) e põem na conta das religiões todos os males do mundo.

Se o leitor é ateu, mas não se sente representado por este tipo de gente, não é necessário ficar chateado comigo. Há uma diferença grande (ou melhor, enorme) entre um ateu e um neoateu. Um ateu é aquele cara que simplesmente não acredita em Deus, mas que não se importa se outras pessoas acreditam. Desde que a crença das outras pessoas não interfira na sua vida, ele não vê problema na existência de religiões. Ele até consegue ver bons ensinamentos em cada uma delas e apenas condena fanatismos. Um ateu às vezes até se esquece de que é ateu. Isso é algo que não ocupa muito a sua mente, assim como uma pessoa que não acredita em alienígenas não costuma a se ocupar muito pensando nesse fato.

Pois bem, os três sites do qual eu falava criticavam radicalmente neoateus apenas, e não meros ateus. Para os autores desses sites, os neoateus não eram sequer considerados dignos de respeito, em função de sua postura suja; eram tratados como desonestos e picaretas intelectuais, e ninguém deveria se ocupar em convertê-los, mas em desmascará-los diante daqueles que pretendiam enganar com suas mentiras.

Ora, não demorou muito para que os autores desses três sites (que mantinham uma boa correspondência entre si) começassem a perceber que o neoateísmo estava fortemente relacionado a doutrinas políticas de esquerda, como o marxismo, o humanismo social, o anticlericalismo revolucionário, o globalismo, os diversos socialismos, o feminismo radical, o gayzismo e etc. Como se dá essa relação? Vamos entender.

A esquerda política, desde seu surgimento, sempre pregou uma visão otimista do ser humano, na qual ou ele é bom por natureza (tendo sido corrompido por fatores sociais), ou ele é moralmente perfectível (isto é, que é capaz de caminhar para a perfeição ou algo bem próximo disso). Daí decorre a crença esquerdista de que o ser humano é plenamente capaz de transformar o mundo, através da destruição dos fatores sociais que causam a crueldade, a injustiça e a exploração, e, em última instancia, da própria sociedade hoje existente, a fim de se construir outra. E como fazer isso? Ora, colocando as pessoas certas no governo, dando muito poder a essas pessoas e destruindo os grupos inimigos que impedem a ação desse governo iluminado. Essa é a receita de todas as revoluções de esquerda desde a revolução francesa, mãe de todas.

O neoateísmo tem muitas ideias semelhantes ao pensamento revolucionário de esquerda. Ele não entende a natureza do homem como a principal culpada pelos males do mundo, mas acredita que a crença em Deus é a responsável por criar injustiças, guerras e crueldades. Ele também enxerga o homem como um ser perfectível, que pode mudar o mundo se destruir todas as religiões.

Finalmente, pelo fato de negar a Deus, o neoateísmo tende a substituir Deus por outra autoridade (ou mais de uma), e a substituir a esperança da vida eterna no paraíso pela esperança de um paraíso efêmero aqui na terra. Por estas semelhanças, muitos neoateus acabam por aderir a doutrinas da esquerda política, passando a usar sua fúria antirreligiosa a favor do esquerdismo. Seu objetivo pessoal é conseguir formar um governo de esquerda antirreligioso que destrua a religião e crie o paraíso ateu desejado.

Por outro lado, a esquerda sempre teve muita influencia do pensamento ateísta e do pensamento antirreligioso. Não que todo o esquerdista seja ateu, porém quanto mais uma pessoa se torna esquerdista, mais ela tende a se afastar da religião. Afinal, para o esquerdista radical, não há espaço para um paraíso que não seja aqui na terra, nem para uma autoridade maior que o seu partido, seus líderes revolucionários e seu ideal de justiça social.

Assim, muitos esquerdistas acabam se tornando ateístas, e logo adiante, neoateus, associando a crença em Deus a um dos fatores que oprimem a sociedade. Aliás, os criadores do comunismo, Marx e Engels, afirmavam que a religião era uma das ilusões criadas pelo cenário econômico de exploração. A religião era, portanto, um ópio para as classes exploradas, bem como um mecanismo de manobra de massas utilizado pelas classes exploradoras.

Ademais, devemos ressaltar que tanto esquerdistas radicais, quanto neoateus, estão muito interessados em criar uma cultura onde a liberdade sexual sem limites seja vista como normal, saudável, bela e aceitável por todos. Ou seja, eles não querem só ter liberdade para fazer o que quiserem em matéria de sexo, mas querem destruir o direito de qualquer pessoa achar errado aquilo que fazem. Essa é uma das razões pelas quais esquerdistas radicais e neoateus odeiam a moral judaico-cristã. Há outras também.

Capítulo 3: Tonando-me um antirrevolucionário

Quando entendi essa relação íntima entre neoateísmo e esquerdismo, comecei a perceber que política não se resumia apenas a “honestos x desonestos”. Ela envolvia um conflito de visões de mundo também; visões estas que permanecem bem vivas hoje e que fazem muita diferença na prática.

Foi ali que eu compreendi o que estava em jogo na política e qual era o meu papel naquilo tudo. Eu não poderia votar em um partido ou um indivíduo que acreditasse na ideia de que o ser humano é bom por natureza e capaz de transformar o mundo. Essa é uma ideia ridícula. Há milênios o ser humano tem se mostrado incapaz de erradicar a injustiça e a maldade. E isso ocorre por um motivo simples: todos são, em maior ou menor grau, imperfeitos. Assim, todo aquele que se levanta para tentar erradicar a injustiça, tende também a cometer injustiças.

Desde a idade mais tenra, já nos vemos contando mentirinhas aos nossos pais, brigando com o coleguinha, desejando o que não é nosso, fazendo pirraça, não querendo limites, fazendo vingançazinhas. Não somos uma tábua rasa. Nascemos inclinados à imperfeição. Isso pode ser atestado tanto por meio da observação do nosso cotidiano e dos exemplos da história, como pela ciência. A ciência reconhece que o ser humano compartilha com os animais uma série de instintos. Esses instintos naturais não são morais e podem facilmente se transformar em atos cruéis. O instinto sexual, o instinto de bando, o instinto gregário e outros são exemplos de inerências que nos impelem a fazer coisas erradas.

A diferença entre homens e animais é que os primeiros apresentam razão, podendo refletir sobre seus atos e fazer escolhas. Mas isso não é um motivo para crermos em sua perfectibilidade. Ao contrário, a razão faz do homem um ser muito mais cruel e perigoso do que os animais, pois com ela o mesmo pode avaliar o prazer que o mal pode lhe proporcionar e maquinar o mal contra a sua própria espécie. Do ponto de vista da ciência, somos tão animais como os animais irracionais, o que significa que a selvageria está em nós e isso não pode ser mudado.

Do ponto de vista da Bíblia, o ser humano sempre foi visto como pecador. Ou seja, o homem passou a ser inclinado à imperfeição por natureza após sua raça ter escolhido cometer o primeiro pecado. A sua obrigação desde então é se esforçar individualmente para não fazer o mal e, a nível político, criar leis que tornem mais difícil a propagação do mal. Mas esse mal não tem como ser extinto.

Ainda que o mal não fosse algo natural, mas social, isso não prova que o homem é capaz de se descorromper socialmente para poder descorromper a outros. A história evidencia que isso não é possível. E a própria lógica também. Para descorromper a outros, uma pessoa deveria se descorromper totalmente primeiro. Se você não consegue se descorromper nem a si mesmo, como ajudará os outros?

Portanto, a ideia esquerdista de encher alguns homens de poder para mudar a sociedade e destruir supostos inimigos é totalmente utópica e perigosa. Dar muito poder a homens é pedir para fazer deles pessoas mais cruéis e autoritárias. É dar ao Estado o aval para administrar mal, roubar verba pública, perseguir dissidentes e causar enormes genocídios. Até Montesquieu, que não acreditava que o homem fosse naturalmente inclinado ao mal, sabia que o poder corrompe. Ele diz em um de seus livros que: “Todo o homem que tem poder é levado a abusar dele; vai até encontrar limites”. Isso é algo lógico! Qualquer pessoa de bom senso entende isso. Eu jamais poderia, então, endossar a crença no homem.

A partir daquele ponto, através de leituras e mais leituras, minha atenção foi sendo chamada para os problemas que regimes baseados nessas ideias causaram em diversos países. Era lógico sendo provado na prática! Em todo lugar em que muito poder foi colocado nas mãos do Estado, a fim de que este mudasse a sociedade, o que aconteceu foi uma série de desgraças.

Os males do comunismo eram os que mais saltavam aos olhos. Tanto na URSS, como na China, no Camboja, na Coréia do Norte, no Vietnã, em Cuba e etc., o regime comunista gerou grotescas ditaduras, genocídios por repressão, inanição forçada e desastres econômicos. Pela primeira vez tive acesso à informação de que os regimes comunistas pelo mundo geraram mais de 100 milhões de mortos. Pela primeira vez eu fiquei sabendo sobre o genocídio de Holodomor, na Ucrânia, entre 1930 e 1932, e do genocídio chinês, entre 1956 e 1962, e do genocídio cambojano, em 1975 (este último matando um quarto da população!). Qualquer pessoa honesta e com um mínimo de senso das proporções conseguiria perceber que o comunismo foi um mal tão ruim ou até pior que o nazismo.

Não obstante, observei que os esquerdistas se agarravam tanto a suas crenças que não sentiam qualquer embaraço ao elogiar e se guiar pelas ideias de Marx. E mesmo aqueles que não eram comunistas, permaneciam defendendo a maioria das ideias de Marx, disseminando ódio entre classes, lutando para formar um Estado cheio de poder, atacando religião e religiosos, simpatizando com ditadores de esquerda, defendendo os antigos regimes comunistas, militando contra a liberdade de expressão de conservadores, colocando sua fé em líderes revolucionários, orientando suas ações em prol de futuro utópico imaginado por eles e etc.

Em vista disso tudo me tornei anticomunista, antimarxista, antirrevolucionário e totalmente contrário a governos que pretendem inchar o Estado com enormes poderes políticos e econômicos. Se eu era de direita? Ainda não. Eu apenas era um cético da esquerda e do pensamento revolucionário. O direitismo ainda viria posteriormente.

Capítulo 4: Adesão ao liberalismo econômico

Embora eu tivesse entendido o tamanho do mal que representava a crença no homem propagada pela esquerda, eu não sabia bem o que defendia a direita, tampouco tinha noção do que um governo deveria fazer na prática para administrar um país, estado ou cidade. Nessa parte, curiosamente, eu ainda estava bastante preso a muito senso comum. Eu ainda achava que privatizações eram ruins, não sabia fazer distinção entre um governo de direita e um de esquerda moderada, e tinha aquela visão distorcida de que a direita é a favor de ditaduras (desde que não sejam comunistas).

Meu pensamento sobre a direita poderia ser resumido assim: “Se ser de direita é concordar e desejar uma ditadura militar, definitivamente não sou de direita. E se a extrema direita é o nazismo, então prefiro me distanciar dessa posição. Sou de centro”.

Ocorre que minha opinião não era baseada no que os autores de direita diziam, mas apenas em senso comum. Eu não conhecia nenhum autor de direita. Simplesmente não sabia o que a direita defendia. Na medida em que entendi isso e tive mais contato com direitistas, passei a ler os autores de direita. E isso fez toda a diferença!

Comecei entendendo mais sobre a economia. Pela primeira vez soube qual era a versão direitista sobre as privatizações. Longe de ser uma defesa dos milionários e um ataque aos pobres que não tem dinheiro para pagar coisas privadas, as privatizações pretendem sanar dificuldades inerentes ao setor público e melhorar a condição de toda a sociedade. Como? Vamos analisar os problemas do setor público.

Empresas públicas não precisam se preocupar com o risco de ir à falência ou com a competição para estar entre as maiores empresas. Sua situação é estável, pois seu dinheiro é público, nunca acaba. Aliás, se uma empresa pública contrai muitas dívidas, quem paga somos nós. Se uma empresa pública vai mal, ela é beneficiada com mais dinheiro do governo. Isso cria uma tendência, tanto de seus administradores como de seus funcionários de se acomodarem, não fazendo um bom trabalho ou não dando o melhor de si. A estabilidade dos funcionários públicos apenas reforça isso. Além do mais, o governo não tem capacidade para gerir tantas empresas e mais os problemas do país. Desta forma, é comum que os serviços públicos sejam inferiores aos privados e que deem muitos déficits públicos.

O resultado é que o povo não é bem atendido pelos serviços públicos e ainda é obrigado a pagar altos impostos para manter essas empresas. Como se não bastasse, as empresas públicas deficitárias também geram inflação de moeda. A inflação é um modo que o governo tem de saldar suas dívidas injetando mais dinheiro no mercado. Para o governo é bom, para o povo não, pois só os primeiros a utilizarem o novo dinheiro criado se beneficiam. Quando o dinheiro chega ao povo, todos os preços já aumentaram para equilibrar a nova quantidade de dinheiro na economia. Mas as empresas privadas e o povo em geral continuam recebendo os mesmos salários. Então, se você ganhava R$ 1.000,00 por mês e comprava carne por R$ 15,00, continua a ganhar R$ 1.000,00 por mês, mas agora compra carne por R$ 20,00.

Serviços públicos ruins, impostos, inflação… Como se já não fosse muito, quanto mais empresas públicas se têm, mais a estrutura pública se torna grande e complexa de ser administrada e mais dinheiro vai para as mãos do governo. Isso aumenta a dificuldade de fiscalização, as chances de desvios ou gastos desnecessários, esquemas de corrupção e o pior: o poder do governo. Um governo com muito dinheiro e que tem tentáculos em tudo quanto é setor, se torna mais poderoso. O risco de ele se tornar totalitário e ditatorial, tanto econômica como politicamente, é muito grande.

É claro que isso não quer dizer que nada possa ser público ou que uma empresa pública não possa ser relativamente bem gerida. Mas a tendência é o setor público ser inferior. Os riscos de um país ter esses problemas quando possui muita coisa pública são bem grandes e os exemplos da história comprovam que (para ser claro) geralmente isso dá merda!

Agora, empresas privadas não possuem esses problemas. Uma empresa privada, precisa estar constantemente preocupada em não falir e ficar bem na concorrência entre as outras empresas. Se não fizer isso, ela não terá dinheiro público (ou, pelo menos não deveria ter) para resolver a situação. O dinheiro das empresas privadas é finito. Assim, tanto administração como os funcionários são instados a trabalharem bem. Quanto mais concorrência há, mais as empresas tendem a buscar melhoras nos serviços, agilidade e maneiras de diminuir preços. Isso é óbvio!

Que o setor privado também tem problemas isso é evidente! Mas são problemas muito menores e mais facilmente contornados. A regra geral é que o setor privado tende a ser mais eficiente e menos perigoso. E o que o Estado pode fazer para permitir esse cenário de maior eficiência? Basicamente reduzir dificuldades burocráticas e financeiras para que as pessoas abram, mantenham e desenvolvam empresas. Fazendo isso, muitas empresas surgem e se desenvolvem, gerando empregos e concorrência. A concorrência tende a sufocar a manutenção perpétua de monopólios, fazendo com que a luta por maior eficiência seja maior. O resultado é que o povo tem mais empregos, melhores serviços, preços mais baixos, menos impostos, menos inflação.

Isso não ocorre da noite para o dia. Uma economia, para se dinamizar, demora muitos anos. É por isso que trabalhistas odeiam o setor privado, o livre mercado, os baixos impostos e a pouca burocracia estatal. Por que tudo isso leva a um vagaroso e penoso desenvolvimento econômico. Sobretudo se o país em que isso for implantado não apresentar uma boa industrialização.

É neste ínterim que entendemos como a privatização é um processo que só demonstra resultados em longo prazo. No início, uma empresa privatizada pode gerar cortes de funcionários e até mesmo aumento no valor dos produtos. Isso ocorre porque os resultados negativos da má gestão pública precisam ser equilibrados. A empresa privada não dispõe mais do dinheiro eterno que a empresa pública dispunha. Mas em longo prazo, se (e somente se) o governo abrir o mercado e incentivar a competição, a empresa privatizada equilibrará o orçamento e lutará para ser mais eficiente, gerando o cenário que já comentei.

Vê-se, portanto, que apenas a privatização não é suficiente. O governo precisa garantir o surgimento de concorrência. No princípio eu não percebi isso. Achava que bastava privatizar era o suficiente. Com mais leitura eu entenderia posteriormente que a abertura do mercado e o incentivo máximo a competição são essenciais para que o processo de privatização seja positivo. Se o governo não incentiva a concorrência, vão surgir os monopólios privados, que são tão nocivos quanto os monopólios públicos

É importante salientar que hoje eu acho aceitável a manutenção de uma ou outra empresa pública, contanto que ela não seja um monopólio no ramo em que atua, podendo ser comparada a concorrentes privadas, e que não haja a estabilidade empregatícia. Isso diminui consideravelmente os problemas que podem ser causados pela empresa por ser pública.

Mas voltando à questão do setor privado, quando compreendi a verdade de que a privatização sozinha não é o suficiente, aí entendi como que o intervencionismo estatal na economia é um dos maiores responsáveis por monopólios privados. Quando o governo dificulta a vida das empresas privadas, apenas as empresas mais ricas e poderosas conseguirão permanecer lá no alto da competição. As empresas menores ou não terão chances de crescer e galgar os primeiros lugares, ou desaparecerão.

Isso significa que a grandes empresas ficam protegidas dentro de um governo intervencionista. Elas aceitam pagar altos impostos e lidar com grande burocracia porque, em contrapartida, vão continuar no topo para sempre. É por isso que o Olavo de Carvalho afirma que apenas os pequenos e médios empresários desejam o livre mercado, isto é, o capitalismo mais puro. Os grandes, os mega, aqueles que já construíram um império e estão sólidos, estes querem mais um governo interventor, a fim de não precisar lidar com uma concorrência constante. Por mais irônico que pareça, os grandes capitalistas atuais são anticapitalistas.

O governo intervencionista, por sua vez, aceita que essas empresas continuem no alto porque fecham conchavos com elas, tanto para que as mesmas financiem suas campanhas políticas, quanto para que juntos eles possam desviar verbas. Além disso, um governo que detém seus empresários privados nas mãos é tão poderoso quanto um governo que tem muitas empresas públicas. O leitor compreende?

Aqui aprendi algo importante. Quem defende o livre comércio? A direita. Quem defende o intervencionismo estatal? A esquerda. Então, pelo menos economicamente, o fascismo e o nazismo pertencem a qual espectro? Exatamente, leitor: essas doutrinas pregam aquilo que a esquerda prega em matéria de economia. Elas falam em forte controle do Estado sobre as empresas privadas, usando o discurso de “reestruturar a sociedade”. Mas na prática esse intervencionismo é um casamento entre grandes empresas e o governo. E o livre mercado não defende isso. Nunca defendeu. O nome já diz: “livre” mercado. Se você coloca o governo na equação e tira a concorrência da jogada, isso não é liberdade de mercado.

Ora, o nazismo alemão era um socialismo. E agiu estendendo seus tentáculos por todo o setor privado. O criador do fascismo italiano, Mussolini, era um tinha sido um marxista que entendeu que o Estado nunca seria superado e que ele precisava ser mais pragmático para mudar a sociedade. Sua frase síntese do fascismo era “Tudo no Estado, nada fora do Estado, nada contra o Estado”; e isso é rigorosamente a mesma coisa que a ditadura socialista do proletariado propunha (só que dizendo que isso era um estágio “temporário”). Então, compreendi que, chamar essas doutrinas de direitistas é uma tolice sem tamanho. Pelo menos no aspecto econômico. O mesmo se poderia dizer da ditadura militar brasileira, extremamente intervencionista.

Em suma, entendi que a direita defende uma economia mais livre e que a mesma é muito superior às economias intervencionistas. Descobri neste ponto também que há alguns rankings anuais interessantes que indicam o grau de liberdade econômica de um país, a facilidade de se fazer negócios e a competitividade empresarial. São, por assim dizer, medidores de capitalismo. E invariavelmente os países mais bem colocados nos tais rankings são os que oferecem maior qualidade de vida para o povo. E os piores colocados são os países mais injustos, antidemocráticos e pobres. Coincidência? Claro que não! Em outras palavras, o capitalismo não era, então, o monstro que pintavam!

Capítulo 5: Adesão ao conservadorismo político

Quando alguém percebe como o capitalismo foi um dos responsáveis, em longo prazo, pela melhora na qualidade de vida de muitos países, existe uma tendência a enxergá-lo com otimismo demasiado. Foi assim com o Adam Smith (que merece ser desculpado, pois o capitalismo ainda estava surgindo) e é assim até hoje com diversos direitistas. Não foi muito diferente comigo, embora eu não tenha chegado a me tornar um extremista.

Dentro da direita, assim como na esquerda, existem graduações no que tange o pensamento econômico. Eu vejo quatro tipos na direita: os conservadores políticos, os liberais econômicos, os libertários e os anarco-capitalistas. O que os diferencia é o nível de ceticismo/confiança em relação ao livre mercado.

Os conservadores geralmente são adeptos da liberdade econômica, mas reconhecem que ela tem muitas limitações e que gera muitos problemas se não andar de mãos dadas com uma boa base moral, espiritual e cultural na sociedade, um respeito pelo o que o passado nos ensina, pelas tradições e instituições milenares e pela dignidade do ser humano e, finalmente, um bom conjunto de leis democráticas e não tirânicas. O liberalismo econômico não deve suprimir essas coisas em hipótese nenhuma, pois o princípio da revolução é justamente esse: destruir tudo o que levou tempo para construir e colocar o destino da sociedade nas mãos de um futuro que não conhecemos, desprezando as lições do passado.

Os liberais econômicos já pensam mais na liberdade econômica do que nessas outras questões, tendendo a ignorá-las ou reduzir sua importância. Acreditam que só o livre mercado já é capaz de resolver quase todos os problemas causados pelo estatismo da esquerda. Sustentam também que a liberdade é o bem mais importante que existe e deve ser colocado em um pedestal. O liberal extremo é um libertário. E o libertário extremo é um anarco-capitalista. Um anarco-capitalista acredita tanto no livre mercado que acha possível criar uma sociedade sem estado, apenas baseada nas leis que já vimos de competição econômica. Nesse cenário, tudo seria privado e competiria entre si. Até mesmo (pasmem!) a polícia e a justiça. Não haveria governo e impostos.

Quando descobri isso, entendi que essa é a verdadeira “extrema-direita”. E aí comecei a analisar um pouco do pensamento conservador. O conservadorismo, a meu ver, é muito mais sensato que o mero liberalismo, pois ele não cai no mesmo otimismo no homem e idealismo utópico que as revoluções de esquerda. Ao contrário, mantendo o ceticismo em relação a um mundo perfeito, ele leva o conservador a aprender as lições do passado e daquilo que precisa ser conservado (como a família, a moral, as tradições, as instituições milenares, a hierarquia, o Estado, a educação familiar e individual, a espiritualidade, a dignidade humana e a visão realista do ser humano como um ser inclinado ao mal e imperfeito). Isso impede que o conservador deposite confiança em projetos mirabolantes e idealismos utópicos.

Para o conservador, a mudança é boa, mas deve ocorrer de modo muito pensado, geralmente gradual e respeitando os limites da realidade. Destruir a sociedade como conhecemos para construir outra, totalmente distinta, é algo que nunca dá certo. Todos os movimentos revolucionários como a Revolução Francesa, a Revolução Russa, o Stalinismo, o Nazismo, o Fascismo, o Maoísmo e etc. geraram apenas destruição, crueldades, miséria, violência, abuso de poder e genocídios.

A premissa básica de toda a revolução é esta: destruir esta sociedade, com seus maiores inimigos (sejam burgueses, ou negros, ou judeus, ou gays, ou cristãos, ou religiosos, ou a moral, ou uma cultura, ou um sistema e etc.) e construir outra no lugar, com novas regras, crenças, moral, cultura, religião e heróis revolucionários. Todo o sistema que se propõe a fazer isso pisa no passado e põe sua confiança em um futuro idealizado. E isso é algo totalmente contrário ao pensamento conservador.

Considerações sobre o aborto

Artigo meu (Davi Caldas) originalmente publicado no blog “Mundo Analista“. Para ler o original, clique aqui.

Um amigo meu me pediu, há uns três meses (creio eu), para escrever algo sobre a questão do aborto. Eu não só dei minha palavra que escreveria como, de fato, fiquei interessado em falar sobre o tema. Mas o tempo passou e acabei não escrevendo. Bem, antes tarde do que nunca, certo? Farei algumas considerações, de acordo com a minha visão sobre o tema.

Aqueles que são favoráveis ao aborto costumam a argumentar que a mulher tem direito sobre o seu corpo. O leitor mais inteligente deve estar pensando: “Mas que raios têm a ver uma coisa com a outra?”. Explico. Para os abortistas, uma grávida não é uma mulher com um ser humano dentro do útero. Uma grávida é apenas uma mulher. Talvez uma mulher com uma doença, mas de forma alguma, uma mulher com um ser humano dentro do seu corpo. Essa é a premissa básica do abortista.

Assim, na visão do abortista, quando uma mulher aborta, ela está apenas tirando uma doença do seu corpo. E isso, certamente é um direito da mulher. Então, me parece que o ponto principal do debate entre abortistas e não abortistas deveria ser: “O que a mulher carrega dentro de si é ou não é um ser humano?”. Se você responde “sim” a essa pergunta, então o aborto é um assassinato. Se você responde “não”, o aborto é apenas a retirada de algo que está irritando a mulher.

Como pessoas racionais, que desejam debater logicamente, este é o momento de perguntar aos abortistas quais são as evidências científicas que eles apresentam para afirmar que fetos e bebês não são seres humanos. Sim, eu sou cristão e conservador, e estou falando de evidências científicas. Afinal, o Estado é laico e é assim deve ser. As afirmações políticas, portanto, devem ser validadas à luz da razão. Estou certo que se o Deus em que acredito realmente criou o mundo, a razão sempre estará do lado da minha religião e vice-versa. Do criador também advém a razão.

Então, vamos lá. Cadê as evidências? O que é que prova, na ciência, que um bebê dentro da barriga não é um ser humano? Se ele não é um ser humano é o quê? Um macaco, um urso, um inseto? Certamente não.

O abortista pode dizer: “Ele é um feto humano. E um feto não é um ser humano, mas apenas um feto”. Ok. Mas, em primeiro lugar, um bebê de nove, oito, sete, seis ou até cinco meses de gestação não pode ser chamado de feto. É uma criança. Então, o argumento, já não serviria, à priori, para nenhuma gestação com mais de cinco meses.

Em segundo lugar, o que prova essa afirmação? Qual é a base cientifica para dizer que um feto não é um ser humano? É porque ele ainda não se desenvolveu? Ora, mas simplesmente dizer que o feto não é uma pessoa porque ainda não está totalmente desenvolvida é arbitrário. É tão arbitrário quanto dizer que um bebê que nasceu sem braços e pernas não é um ser humano porque não se desenvolveu totalmente. É tão ridículo quanto dizer que uma criança não é uma pessoa porque ainda não é adulta. Não faz sentido esse argumento. Um ser humano em desenvolvimento é tão humano quanto um ser humano já desenvolvido.

Alguns fatos interessantes: com 18 dias de gestação, o coração de um feto já começa a se formar; com 21 dias, já está batendo. O filósofo e teólogo cristão William Lane Craig nos lembra que a maioria dos abortos ocorre bem depois dessa fase. Isso quer dizer que quase todos os abortos interrompem o batimento de um coração. Um coração humano! Craig continua:

Além disso, depois de 30 dias o bebê já tem um cérebro e com 40 dias ondas cerebrais já podem ser medidas. […] Na oitava semana (de existência do feto), mãos e pés já estão quase prontos. Na nona semana, já se podem ver as pequenas unhas das mãos e dos pés, e o feto pode até mesmo conseguir chupar o dedo. A essa altura, não estamos tratando de um agrupamento de células, mas de um bebê (essa palavra é inevitável), um bebê bem minúsculo com face e características, com pequenos braços e pernas, com pequeninos pés e mãos. Todos os órgãos do corpo já estão presentes, e os sistemas muscular e circulatório estão completos. [1]

Como alguém pode dizer que isso não é uma pessoa? O fato do bebê depender da mãe biologicamente não significa que o bebê é parte do corpo da mulher. Ele é uma vida. É outro ser. Portanto, é ridículo ouvir um abortista dizer que abortar “é um direito da mulher porque estamos falando do corpo dela”. Não, não estamos. Abortar é retirar um ser humano que depende da mulher, de dentro do seu corpo, ceifando-lhe a vida. É uma ação egoísta e assassina.

O leitor quer saber quais são os direitos da mulher? Pois eu digo. É direito da mulher, escolher se terá relações sexuais ou não. É direito da mulher, escolher se em suas relações ela usará camisinha ou não. É direito da mulher escolher se ela fará uma operação para ligar suas trompas ou não. É um direito da mulher escolher se fará ou não sexo com um homem que não fez vasectomia. Esses são direitos legítimos de toda e qualquer mulher.

Agora, a partir do momento em que a mulher escolhe, por livre e espontânea vontade, fazer sexo sem nenhuma proteção, sabendo que poderá ficar grávida, e acabar engravidando mesmo, ela não tem o direito de matar o seu filho. Não importa se sua gestação está no oitavo mês ou no segundo. Isso é um homicídio.

Entretanto, os delírios abortistas não param por aqui. Em uma busca frenética pelo direito de matar crianças, eles argumentam que não podemos considerar um ser como pessoa se o mesmo não tiver consciência e autoconhecimento. Assim, um feto ou um bebê com oito meses de gestação não seriam pessoas ainda.

Isso é ridículo. Se aceitarmos este argumento, um ser humano que está dormindo ou em estado de coma não poderá ser considerado uma pessoa. Afinal, não estamos conscientes nestes momentos e nosso autoconhecimento não está funcionando. Somos como seres inanimados. Segue-se, portanto, que se alguém me matar quando eu estiver dormindo ou em coma, ela não cometeu homicídio, porque eu não era uma pessoa.

Craig vai mais longe. Ele demonstra que esta visão implica na justificação do infanticídio. Isso porque bebês recém nascidos não apresentam consciência em relação ao mundo ao seu redor e autoconhecimento. Eles acabaram de nascer, oras! Sair do útero para o mundo não é passar por um portal mágico que nos faz, de uma hora para outra, aprender tudo e deixar a condição de um recém-nascido. Autoconhecimento e consciência (ou autoconsciência, como diz Craig) são atributos que um recém nascido ganha ao longo do tempo, conforme cresce. O filósofo critica:

[…] três dias não é um tempo longo para desenvolver autoconsciência. Um ano, talvez dois, serão necessários. Durante todo esse tempo, a criança não é uma pessoa. Desse modo, alguém pode matá-la, como se põe um animalzinho indesejado para dormir. Certamente, alguém cujo coração não foi totalmente endurecido por um comportamento obsessivo com o aborto reconhecerá a terrível imoralidade e, consequentemente, a intolerância dessa rota de escape proposta! [2]

Mas os abortistas não param. Na medida em que rebatemos seus argumentos, eles montam argumentos mais inescrupulosos, mostrando o verdadeiro caráter de suas idéias. O argumento que vem a seguir é pragmático. Algo do tipo: “O aborto deve ser legalizado justamente para evitar que meninas grávidas recorram ao aborto ilegal (que é perigoso para a menina), ou que joguem seus bebês em sacos de lixo e rios, ou ainda, que os deixem em orfanatos, lotando ainda mais esses lugares”.

Acredite, eu já ouvi este tipo de argumento da boca de um professor da minha faculdade (um esquerdista, naturalmente, como todos os outros que tive). Não é preciso ser muito inteligente (e nem muito moral) para perceber que o argumento tenta justificar um crime pelo fato do mesmo solucionar alguns problemas sociais. Neste ponto, nem vale mais à pena continuar a discussão.

Em resumo, dito de maneira direta, curta e grossa, a mentalidade abortista que vem sendo apregoada vorazmente pelos esquerdistas (não só por eles, mas, sobretudo por eles) é a seguinte: “Você fez merda, se descuidou e agora terá um filho indesejado? Livre-se desse problema matando o seu filho”. Simples assim.

Como se isso não bastasse, a imoralidade não acaba por aí. Mas é evidente que não. Porque quando a esquerda consegue fazer a sociedade aceitar o aborto como algo natural e até moral, a mesma mentalidade começa a ser utilizada na resolução de outros problemas. “A religião é o ópio do povo. Mate os religiosos”. “A direita atrapalha o projeto da esquerda. Mate os direitistas”. “Há empresas de notícias que falam mal do governo de esquerda. Mate os jornalistas que criticam o governo”. E por aí vai.

Então, querido amigo leitor, quando alguém vier te falar sobre a legalização do aborto, lembre-se que a mentalidade que está por trás dessa proposta é: “Se tem alguém te incomodando… Mate-o”.

Mas e quanto aos casos extremos?

Sim, eu sei que o leitor deve estar se perguntando: “Mas e quanto àqueles casos em que a mulher é estuprada, ou o seu bebê nascerá sem cérebro, ou o nascimento do bebê oferece risco à vida da mulher? Você também é contra o aborto?”. Bem, vamos por partes.

No caso da anencefalia, é necessário ressaltar que nem sempre o bebê realmente nasce sem cérebro. Na maioria das vezes o que se chama de anencefalia é apenas uma má formação no encéfalo. Muitas crianças que foram diagnosticadas com esta doença, não foram abortadas por suas mães e hoje vivem normalmente. Elas têm cérebro. Só não é um cérebro totalmente desenvolvido.

Se o argumento é de que, do ponto de vista científico, uma criança sem cérebro já está morta (já que ninguém vive sem cérebro) e, por isso, não é imoral recorrer ao aborto, então é necessário que se prove que o bebê realmente é anencéfalo (no sentido literal da palavra). Se isso for provado, creio que, neste caso específico, a mulher deve ter o direito de abortar. Mas se o bebê tem um cérebro, ainda que mal formado, permitir o aborto seria uma espécie de eugenia, isto é, escolher bebês perfeitos para viver e bebês defeituosos para morrer. Certamente isso seria terrível.

No caso da gravidez que oferece sérios riscos à vida da mulher, o que temos aqui é uma tensão moral. Se por um lado, a criança tem todo o direito de viver, por outro lado, a mulher também o tem. Quem opta por defender a criança, tira da mulher um direito legítimo de defender-se de um alto risco de morte. Quem opta por defender a mulher, tira da criança o seu legítimo direito de viver. Quem tem razão?

Esse é o tipo de questão para o qual eu não tenho resposta. Na posição pessoal de cristão, creio que o mais correto seria a mulher manter-se em oração e confiar que Deus irá livrar tanto o bebê quanto ela. Mas isso é uma opinião pessoal e não deve ser imposta a ninguém. Assim, dada a complexidade e delicadeza da questão, acredito que, nesse caso específico, a mulher deveria ter o direito de escolher se abortaria ou não.

A situação dos casos de estupro é bem semelhante. Nestes casos, a mulher não escolheu ser abusada sexualmente. É uma situação muito diferente daquela em que uma mulher assume o risco de engravidar (ao não se preservar sexualmente) e depois não aceita assumir as conseqüências de seu erro. O direito da segunda de escolher não ficar grávida termina no momento em que ela escolhe assumir o risco de engravidar. Mas o direito da primeira de escolher não ficar grávida continua intacto, pois ela não fez escolha alguma; foi violentada.

Não obstante (e aqui reside a delicadeza da situação), a criança nada tem a ver com o fato de ser fruto de um estupro. Ela é uma pessoa com direitos como qualquer outra. Ela tem direito de viver. E então? Quem tem razão? Se defendemos a mulher, tiramos o direito da criança viver. Se defendemos a criança, tiramos o direito da mulher escolher (direito que, neste caso, ela tem).

Mais uma vez, na posição de cristão, acredito que o correto seria não optar pelo aborto, por mais difícil que essa decisão possa ser. Estamos falando de uma vida que é inocente. Mesmo que esta vida tenha vindo de uma forma horrorosa, o problema não está na criança, mas no estupro. Contudo, enfatizo que esta também é uma opinião estritamente pessoal. Não deve ser uma imposição legal. Assim, dada a complexidade e delicadeza da questão, penso que, também neste caso, a mulher deveria escolher legalmente se abortaria ou não.

Certamente, é muito triste que uma vida inocente possa ser ceifada nesses dois casos específicos. Moralmente falando, creio que a melhor opção é sempre não abortar o bebê. E seria este o conselho que eu daria para uma mulher que estivesse pensando em abortar. Mas sabemos que estes casos específicos citados são bem diferentes dos casos em que a mãe fez besteira e não quer assumir as conseqüências. Por isso não penso que deva haver imposição legal nestes casos. Ao menos, na posição de cristão, sei que a vida que for abortada, já está salva por Deus (“das crianças já é o reino dos céus”) e estará no paraíso quando ele ressuscitar os justos.

Considerações Finais

Acredito ter deixado bem claro que não existe nenhum motivo plausível para considerarmos um feto, ou um bebê que ainda não nasceu, como não sendo uma pessoa, um ser humano. Não há evidências cientificas que comprovem isso. Portanto, o aborto não pode ser definido como outra coisa que não homicídio.

Exceto para os casos extremos específicos que observamos (que são a minoria, diga-se de passagem), não há sentido em legalizar o aborto. Mas é exatamente o que os abortistas almejam. Eles não lutam para que a mulher decida sobre casos onde ela foi violentada ou irá morrer (o que seria até compreensível). Eles lutam para que a mulher possa decidir se vai abortar ou não em qualquer caso. Isso é como querer legalizar o homicídio em qualquer situação.

Por exemplo, sabemos que matar por legítima defesa não é crime, pois defender sua vida é um direito seu. O que o leitor diria, no entanto, se uma pessoa viesse a público defendendo a tese de que devemos ter direito de matar qualquer ser humano em qualquer situação? Não seria absurdo? Pois o aborto é exatamente isso.

Por estas razões, a legalização do aborto deve ser veementemente rechaçada. E aqueles que defendem políticas deste tipo precisam ser orientados de que a mentalidade que estão ajudando a propagar é homicida. Quem defende o aborto como algo natural, moral e bom para a sociedade, não está muito longe de quem defende o infanticídio, a eugenia e o genocídio. O princípio é o mesmo.

_________________________

1. Craig, William Lane. Apologética para questões difíceis da vida. São Paulo: Vida Nova, 2010.

2. Idem

A Democracia Como Ideologia

POR SÉRGIO A. DE A. COUTINHO

John Locke – um dos “pais” do liberalismo político e, consequentemente, da democracia moderna.

Ao se dizer democrata, portanto anti-marxista, imediatamente você é estigmatizado “de direita”, retrógrado e, na melhor das hipóteses, conservador. Mas, o que fica mesmo insinuado é que você é totalitário, reacionário, neo-liberal e servidor do capitalismo internacional.

Tudo acontece pela aplicação estereotipada de um modelo topológico linear em que, se você não é de esquerda, por exclusão, só pode ser de direita. É uma fórmula eficaz do patrulhamento ideológico. Assim, alguns democratas, inibidos ou intimidados, não manifestam abertamente sua posição política e se calam, quando não fazem algumas concessões ao socialismo. Outros se colocam “no muro” e aceitam uma identificação de “centro” ou, complacentes, de “centro-esquerda”, como se fosse possível uma síntese dialética da esquerda com a direita. Finalmente outros radicalizam a sua posição e assumem, aberta ou discretamente , que são de direita, aceitando o modelo ideológico maniqueísta.

Em qualquer uma das atitudes, as esquerdas saem ganhando porque o protagonismo dos democratas está definitivamente neutralizado e o país marcha, sem oposição para o socialismo com a tácita e “democrática”concordância de todos. Para romper esta inação induzida, é preciso, antes de tudo, definir a Democracia como entendida na tradição ocidental cristã e tirá-la do contexto linear das posições de esquerda e direita.

A verdadeira democracia (governo do povo) pode ser denominada LIBERAL DEMOCRACIA REPRESENTATIVA para não ser confundida com outras “democracias”, enganosas e adjetivadas para esconder uma concepção revolucionária: Liberal Democracia, para não se confundir com social-democracia ou “socialismo democrático”; Democracia Representativa, para não se identificar com “democracia popular”, “democracia de classe” e “democracia direta”.

Nas concepções marxistas em que, na luta de classes, a classe média é “não-povo”[1], todas são eufemismos para ditadura do proletariado ou “democracia radical”, expressão referida por Roberto Freire, presidente do Partido Popular Socialista (Ex-Partido Comunista). O uso manipulado da palavra democracia pode muito bem ser ilustrada na denominação da antiga Alemanha Oriental comunista: República Democrática da Alemanha.

Feita a distinção elementar da Liberal Democracia Representativa (LDR), deve-se reconhecer que ela é o oposto de qualquer concepção ideológica seja de direita, seja de esquerda. Muito menos ela é o meio-termo de uma e outra; nem pensar que possa ser a síntese dialética, uma espécie de “Terceira Via” proposta pelos socialistas fabianos ingleses.

Portanto a LDR, numa visão relativa, ocupa uma posição extrema e absoluta de oposição simultânea às concepções ditas de “direita”e de “esquerda”. Colocando tudo em um modelo geométrico, podemos dizer que a Democracia, a esquerda internacionalista marxista e a direita nacionalista totalitária ocupam os vértices de um triângulo eqüilátero. Cada concepção em lugar próprio, inconfundível e irreconciliável ideologicamente.

Os cidadãos democratas e os partidos democráticos, ditos vulgarmente “de centro”, devem romper todas as relações de compromisso ou de conveniência e perceber logo de inicio que suas concepções políticas não estão eqüidistantes dos extremos totalitários, mas colocadas noutro vértice tópico “extra centro”, posição ideológica distinta e fundada na precedência do homem, nas prerrogativas humanas originais de liberdade, dignidade e individualidade e na soberania popular.

A Liberal-Democracia é uma concepção singular e inconfundível, sem qualquer relação afim com a esquerda e direita, vale dizer, com socialismo científico ou reformista e com nacional-socialismo totalitário, com as suas mais sedutoras roupagens. Este entendimento deve ser um referencial para o cidadão democrata.

Sérgio Augusto de Avellar Coutinho foi um general militar, escritor e palestrante. Estudioso do pensamento gramscista, é autor dos livros “Cadernos da Liberdade” e “A Revolução Gramscista do Ocidente”.

Nota:
[1] Cadernos do Cárcere, A. Gramsci – Vol. IV, p. 87 e 88

Pluripartidarismo ilusório

Apesar de o debate político ser centralizado, o Brasil pode se orgulhar do seu número de legendas. Ostenta o glorioso número de 30 partidos registrados no TSE, com muitos outros ainda por vir. Muitas legendas desnecessárias ou redundantes politicamente. Aliás, a maioria assim o seria se considerássemos seus programas de governo. A mais recente palhaçada é o Partido Ecológico Nacional, que vem para somar ao cenário político a luta pelo meio ambiente, supostamente já lutada pelo Partido Verde. Verde é o novo vermelho. Mas isso não vem ao caso. A subdivisão no Brasil tendendo a infinitos partidos é interessante pelo fato de que nenhum partido que aparece vem a somar algo novo ao cenário: aqueles que o fariam não possuem força o suficiente nem mesmo para regularizar sua legenda para poderem lançar candidatos.

TSE
TSE e suas regras que dificultam a renovação e facilitam o mais do mesmo

As últimas aberrações mostram claramente esse fato triste: primeiro veio o PSD, que nada fez além de criar um clone do DEM na base aliada. Então o Partido Pátria Livre, que pretende ser apenas um PCO mais amigável. Por último, o Partido Ecológico Nacional… que dispensa comentários. E essa redundância política não se restringe aos mais recentes: a política nacional é inundada dessas redundâncias. A maioria dos partidos possuem programas de governo idênticos, propostas idênticas, todas dentro de dois paradigmas políticos: Welfare State, entre os fabianos, e socialismo entre os mais radicais. E a política nacional se polariza entre as duas esquerdas.

Não sendo injusto, pode-se até dizer que nos últimos tempos existiram propostas no sentido de se alterar o centro do debate, mas mesmo esses tem medo de se assumir como a Direita. Até mesmo o em tese fabiano PSDB, apesar de sua formação socialista, construiu uma tradição no sentido de diminuir o tamanho do Estado quando assumiu em coligação com o PFL (apesar de suas privatizações mal feitas). O Aécio Neves em recente entrevista ressaltou a importância de descentralizar o poder para que se possa fazer uma reforma tributária e retirar o peso do Estado da vida do cidadão, para que este pare de atrapalhar o cidadão. Mas mesmo esses tem medo de fazer oposição. Ficam apenas, eternamente, esperando seu lugar ao sol.

Paulo Freire
Paulo Freire – O Embuste que cooptou um plano de educação e trocou seus conceitos pela luta de classes. O resultado de nossa educação depois desse ilustríssimo mentor é claro: sucata.

No fim o pluripartidarismo é uma ilusão, já que, desde o ensino mais básico, a diversidade ideológica é cerceada. Na academia, então, a esquerda é predominante e doutrina a seu bel prazer. E se podem até existir alternativas no campo da economia (Escolha entre um certo liberalismo do PSDB ou o PT se afogando nas glórias alheias sem executar uma só medida de peso), todas se rendem ao marxismo cultural: ninguém, além da bancada evangélica, tem coragem de se opor ao aborto, por exemplo. Como consequência, a causa da vida acaba sendo associada exclusivamente à Igreja, e não à vida em si como deveria. E no campo cultural não existe oposição. E prevalece, sem o menor esforço, o politicamente correto, que nada mais é do que o que o poder aceita que seja dito.