Merkel ganha eleições na Alemanha

A chanceler alemã, Angela Merkel, venceu neste domingo (22) as eleições legislativas e assegurou um terceiro mandato à frente da maior economia da Europa. Seu partido conservador, a CDU (União Democrata Cristã, na sigla em alemão) e, recebeu 41,5% dos votos, ultrapassando o SPD (Partido Social-Democrata na sigla em alemão) que ficou em segundo lugar com 25,7% dos votos.

Merkel CDU

O resultado força uma aliança com a oposição social-democrata, o que não ocorre desde o governo do democrata-cristão Konrad Adenauer em 1957.

Merkel é a terceira pessoa a conquistar um terceiro mandato na História da Alemanha, depois de Adenauer e Helmut Kohl, o pai da unificação alemã. Se ela cumprir o mandato pelo menos até 2017, se tornará a líder europeia mais longeva no poder, superando Margaret Thatcher, que foi primeira-ministra da Grã-Bretanha por 11 anos.

Merkel foi considerada a mulher mais poderosa do mundo pela revista Forbes em sete ocasiões. Aos 59 anos, a chanceler alemã confirmou essa posição ao permitir ao seu partido conservador um resultado quase 8 pontos acima da última eleição de 2009.

Dia da Reunificação

Ontem, dia 3 de outubro, foi uma data muito especial para os alemães. Há aproximadamente 22 anos deixava de existir a Alemanha Oriental (socialista) para que a Alemanha fosse novamente reunificada. A reunificação (em alemão, Wiedervereinigung) é lembrada por pessoas ao redor do mundo pela icônica imagem da queda do Muro de Berlim.

Um povo dividido

Por cerca de 50 anos, o povo alemão ficou separado em duas “Alemanhas”: a Ocidental (República Federal da Alemanha – Bundesrepublik Deutschland, BDR) e a Oriental (República Democrática Alemã – Deutsche Demokratische Republik, DDR). A separação não implicava somente a divisão do país (e de sua antiga capital, Berlim), mas de famílias e comunidades inteiras. Berlinenses que antes se visitavam passaram a ser tratados como cidadãos de países distintos praticamente em estado de guerra.

O lado ocidental, uma republica federativa parlamentar, passou pelas mãos de cinco presidentes: Heuss, Lübke, Heinemann, Scheel, Carstens e Weizsäcker, o último continuando a presidência da Alemanha novamente unificada. Dos cinco presidentes, dois foram membros do partido liberal Freie Demokratische Partei (FDP), dois do democrata-cristão Christlich Demokratische Union (CDU) e um do social democrata Sozialdemokratische Partei Deutschlands (SPD). Nela, um período de baixa inflação e rápido crescimento industrial foi desenvolvido pelo governo do chanceler Konrad Adenauer e seu ministro da economia Ludwig Erhard, levando a Alemanha Ocidental da devastação total do tempo da Segunda Guerra ao patamar de uma das nações mais desenvolvidas da Europa. Foi nesta época que ocorreu o milagre econômico alemão (Wirtschaftswunder).

Socialismo: memórias amargas

O lado oriental, infelizmente, era quase um estado fantoche da então existente União Soviética e entrou para a História como uma continuação dos horrores totalitários que os alemães só haviam sentido então sob o regime nacional-socialista de Hitler. Não bastasse a escassez e o racionamento[1], boa parte dos alemães orientais era empregada pelo Estado para agir como espiões nos dois países, espionando amigos e colegas, delatando-os e vendendo informações para a Stasi, a polícia secreta da Alemanha Oriental.[2][3]

A Stasi prendia pessoas por motivos banais, como tentar sair do país ou contar piadas políticas. Após meados de 50, suas execuções eram feitas em segredo, geralmente empregando uma gilhotina e, em anos posteriores, um tiro de pistola. Na maioria dos casos, os parentes do executados não eram informados sobre a sentença ou a execução.[4] A Stasi também é conhecida pelas técnicas de tortura psicológica que desenvolveu: a Zersetung, como era chamada, consistia em causar danos colaterais à vida pessoal, profissional e social de uma pessoa sem envolvimento aparente do serviço secreto. Hoje considerada uma organização criminosa, muitos membros da Stasi foram condenados por seus crimes na década de 90, apesar de terem tentado destruir os arquivos que os incriminavam. Estima-se que as autoridades do governo socialista tenham sido responsáveis por 1.393 assassinatos no período entre 1961 e 1989.[5]

A ASTAK (Anti-Stalinist Action Normannenstraße), uma associação fundada por comitês de cidadãos da antiga Alemanha Oriental, transformou a antiga sede da Stasi em um museu, que é dividido em três andares. O térreo foi mantido com a decoração original, suas estátuas e bandeiras. Os andares seguintes exibem a tecnologia de espionagem e os símbolos da Stasi, ferramentas (como câmeras ocultas e uma AK-47 escondida na bagagem).

O termo “Stasi 2.0” é usado hoje na Alemanha para se referir a toda tentativa do governo de vigiar ou censurar os cidadãos na internet ou na mídia em geral. Arquivos sobre as vítimas do regime socialista podem ser acessados no site da Stasiopfer [6].

Reunificação

Com o colapso da União Soviética, e consequentemente seus estados-satélite, a Alemanha Oriental tendia a um idêntico colapso político e econômico. A decisão da data da unificação foi feita em 22 de agosto pelo ministro-presidente da Alemanha Oriental, de Maiziere, numa sessão especial no Congresso que iniciou-se às 9 horas da manhã. Após um acalorado debate o presidente do Congresso (Volkskammer) anunciou os resultados às 2:30 da manhã de 23 de agosto:

A Volkskammer decide pela adesão da GDR à Constituição da República Federal da Alemanha de acordo com o Artigo 23 das Leis Básicas em efeito a partir de 3 de outubro, 1990. O tópico de Nº 201 recebeu 363 votos. Não houveram votos inválidos. 294 deputados votaram ‘sim’, 62 deputados votaram ‘não’, e 7 pessoas se abstiveram do voto. Este é um evento histórico. Senhoras e Senhores, acredito que não tenhamos feito uma decisão fácil, mas hoje agimos dentro de nossas responsabilidades no que diz respeito aos direitos eleitorais dos cidadãos da GDR. Agradeço a todos que este resultado tenha se tornado possível pelo consenso entre os partidos.

O Dia da Unidade Alemã (Tag der Deutschen Einheit) é um feriado nacional na Alemanha celebrado em 3 de outubro.[7] Comemora a Reunificação de 1990, embora também seja comemorado alternativamente no dia da Queda do Muro de Berlim, em 9 de novembro.

Para os alemães, a Reunificação representou muito mais do que um rearranjo de fronteiras. Significou o reencontro com amigos e parentes, ou com a verdade por trás de seu desaparecimento; significou poder ir para a escola ou para o trabalho sem temer a perseguição e a violência da Stasi; significou não ter mais a sua privacidade violada por espiões e informantes, não ter mais sua vida pessoal arruinada pelo pesadelo da Zersetsung. Significou e significa a reconquista da liberdade e do respeito à vida e à dignidade humana. Sem dúvidas, são motivos de sobra para comemorar o presente, preparar o futuro, e nunca esquecer o passado.


NOTAS:

[1] http://www.osaarchivum.org/files/holdings/300/8/3/text/24-5-79.shtml
[2] http://www.spiegel.de/international/germany/shocking-new-research-stasi-had-thousands-of-spies-in-west-germany-a-799335.html
[3] http://www.spiegel.de/international/germany/bild-799335-286696.html
[4] Koehler, John. Stasi: The Untold Story Of The East German Secret Police.
[5] http://www.thelocal.de/national/20100811-29105.html
[6] http://www.stasiopfer.de/
[
7] https://www.tag-der-deutschen-einheit.de/

A história perto de se repetir

A história não é retilínea, mas cíclica. Muitos vão discorda disso, mas basta estudar de fato a história e você verá como eventos se repetem em lugares distintos ou ao longo do tempo.

Leia a seguinte descrição:

Uma crise financeira que teve origem no Estados Unidos assola a Europa. Os países estão com altos déficits em suas contas, populações inteiras endividadas e altas taxas de desemprego pelo continente. No aspecto político diversos grupos lutam pelo poder e culpam o capitalismo pela origem da tal crise. Desses grupos políticos, dois se fazem ouvir mais e são apoiados pela maioria da população: o primeiro é composto por socialistas e comunistas. Eles propõem centralizar o poder do Estado sobre a economia para distribuir a renda, e culpam ‘as elites’ pela crise. Na visão deles foi essa “burguesia” que gerou a crise. Já o outro grupo é composto sobretudo de fascistas e, assim como o primeiro, defende a centralização do poder na mão do Estado e culpa certos grupos por terem gerado a crise. São sobretudo xenófobos.

A descrição acima não é da Europa dos anos 1930, e sim da Europa de hoje. Nos países onde a crise está batendo mais forte os grupos socialistas/comunistas e fascistas vem ganhando espaço e apoio político. Na França, a nacionalista Marine Le Pen obteve 18% dos votos, ficando atrás do “conservador” Nikolas Sarkozy (23%)  e do socialista François Hollande que ganhou o primeiro turno com 29% dos votos. Hollande venceu o segundo turno e é o novo presidente da França. Le Pen se manteve neutra e não quis declarar seu apoio a nenhum candidato. Isso mostra como uma onda antiliberal e anticapitalista tomou a França.

Na Espanha, onde o desemprego chega a afetar 24% da população ativa, grupos socialistas ganharam voz. Porém nas eleições do ano passado o conservador Mariano Rajoy foi eleito primeiro ministro e seu partido, o Partido Popular (de direita), conquistou maioria das cadeiras de deputados. Porém, grupos sindicais financiados por partidos de esquerda buscam boicotar as medidas contra a crise do governo, que se baseiam em cortar gastos e equilibras as contas públicas. Essa tática vem dando resultado, pois a popularidade de Rajoy vem caindo, e em abril registrou a maior queda: apenas 31% dos espanhóis aprovam o governo de Rajoy.

Grupo do partido Aurora Dourada, eles tem com exemplo o nacional-socialismo

Na Grécia, o país mais afetado pela crise do Euro, grupos nacionalistas simpatizantes ao nacional-socialismo assim como grupos de extrema-esquerda (comunistas) vêm ganhando simpatizantes pelo país, e até conseguiram cadeiras no parlamento. Os nacionalistas do Aurora Dourada conseguiram 20 deputados. Toda essa situação denuncia o que pode vir a acontecer nos próximos anos caso a história tenda a se repetir. Muitos jovens gregos estão aderindo ao nacionalismo, e assim como os jovens nazi-fascistas eles culpam os imigrantes pelos problemas que assolam o país.

A melhor saída para Europa seria governo liberais que permitissem ao mercado se reestruturar, curar as feridas da crise e depois sair dela. Na Alemanha o CDU de Angela Merkel vem fazendo uma ótima administração, com o tradicional ordoliberalismo alemão mantendo a economia do país bem e o desemprego em 7%. São dados ótimos se compararmos ao resto da Europa. A bonança germânica se dá pela capacidade de enfrentar os desafios: eles sabem como utilizar a mão de obra imigrante e dá condições para a criação de postos de trabalhos, assim todos ganham e consequentemente o país cresce.

A população européia precisa fazer algo para parar esses grupos. Eles são nocivos à democracia e à vida em sociedade. Não é possível no século XXI continuarmos a cometer os erros do século XX. Acreditar que a solução vem de uma forma rápida e milagrosa ou creditar a culpa a um grupo especifico é algo estúpido. A solução dos problemas vem de nós mesmos. Os alemães estão numa situação melhor, pois eles trabalham por ela e não estão procurando um  “salvador da pátria”. Talvez porque eles buscaram por um há mais de 70 anos e o resultado tenha sido catastrófico.