POR RODRIGO VIANA
Se há algo do qual gosto muito é dar risadas. Na verdade, quem não gosta? E se feito por profissionais talentosos, é garantia de riso. Se por uma piada bem contada, um trejeito bem encenado, de estilo mais escrachado e “na cara” ou sutil e , digamos, “inteligente” (sabe lá Deus o que isso quer realmente dizer) não importa porque gosto mesmo é de rir.
Desconstruindo as facetas da sociedade desde épocas remotas, a comédia está aí aos nosso olhos também para nos fazer enxergar a dureza da vida de uma forma diferente. Ou não, só pra ter o gosto de dar boas gargalhadas mesmo.
O que fiz aqui foi um apanhado de algumas esquetes humorísticas de grupos diversos do qual eu tenho certa estima. Com comediantes de gerações e estilos diversos e tendo a política como tema, peço que reserve um tempinho do horário de almoço do seu trabalho, dê uma parada nos estudos ou simplesmente saia um pouco das redes sociais pra rir um pouco. Não é porque um tema seja algo sério que não possa ser engraçado em certas circunstâncias. Ou várias delas, quem liga?
Os Trapalhões – O governo tá certis
Começo abrindo este apanhado com estes que nos encheram de alegrias, Os Trapalhões. Um humor com a cara do Brasil, desleixado, de moleque e sem frescuras. Os temas eram baseados no cotidiano do país, mas com aquele toque circense característico da trupe. É lembrar deles e esboçar um sorriso fácil.
Talvez a geração mais nova não tenha se familiarizado com eles, mas saiba que este grupo parava o país em qualquer coisa que fosse. Recorde Guinness como tendo o programa de comédia televisiva com mais tempo na ar, ainda possuem o privilégio de ter no currículo nada mais que 5 dos 10 maiores filmes em bilheteria do cinema nacional.
Nesta esquete vemos Dedé e Mussum discutindo os aumentos dos preços estabelecidos pelo governo. Contrariando tudo, Mussum retruca defendendo que as intervenções do governo são para o benefício da própria população. De um modo não proposital, o resultado parece um trabalho antropológico da sociedade brasileira encarnado no comportamento do Mussum. É muito bom.
Monty Python – Cobrança de impostos
O que falar desse grupo britânico? Tudo já foi dito sobre a genialidade deles. Posso comentar que essa turma atravessou os mares da ilha da rainha, saiu do Velho Mundo e conquistou longínquas terras. Influenciou milhares de profissionais do humor no mundo (inclusive no Brasil) e ainda continua fazendo escola. Resumindo, é normalmente comparado aos Beatles da comédia. Simples assim.
Misturando em seus trabalhos o surreal, o nonsense, o humor negro e o toque sutil do humor inglês. Tudo, claro, na psicodélica era do final dos anos 60 e início dos 70. Não conhece? Na boa, acho melhor você se atualizar um pouco.
Nesta esquete, um típico grupo de burocratas tenta criar um novo tipo imposto. O que eles não conseguem é dar uma boa impressão para a mesma, e pior, taxar em algo onde deveria dar apenas prazer às pessoas. E o desfecho é “montypythoniano” puro, como não poderia deixar de ser.
TV Pirata – Funcionalismo público
Imagine um programa de comédia politicamente incorreto, extremamente crítico e ainda assim muito engraçado. Agora pense que além de tudo isso, tal programa passava em horário nobre e na TV Globo. Estranho, né? Pois é, esse foi os anos 80…
Encenado por atores mais voltados ao drama do que para a comédia (pelo menos na TV), TV Pirata não contava com comediantes propriamente. O que não quer dizer que não tinha interpretações fantásticas, porque tinha. Era escrito por grandes roteiristas que viviam do humor, do qual vinha toda a base humorística. Influenciados pelos britânicos do Monty Python e os americanos do Saturday Night Live, o TV Pirata foi a prova de que um dia a TV aberta soube sim fazer humor de qualidade. Muitas de suas esquetes contém uma forte crítica social a qualquer grupo que fosse e explorado de um modo muito, muito ácido. Não havia por onde correr.
Nesta esquete uma senhora vai a um departamento público para poder ter a autorização que precisa. Presa pela “eficiência” estatal, ela tenta lutar contra o Leviatã que, aos poucos, vai “acabando” com sua vida. O tema é tão atual que parece que foi gravada ontem.
Hermes e Renato – Drops Away News – Impostos
Talvez os mais velhos não conheçam o garoto Boça, o cineasta José Canjica Marins, o Joselito “sem noção”, o apresentador de TV Cláudio Ricardo ou o jornalista sensacionalista Bradock. Mas 11 em cada 10 jovens não só os conhecem mas sabem as falas dos personagens, bem como os significados dos termos “defecar pela boca” ou “leite-com-pera”.
Influenciados pelos clássicos filmes da porno-chanchada brasileira, Hermes e Renato segue uma linha de comédia extremamente escrachada (muitas vezes chulo), politicamente incorreto, humor negro total e produção barata. O grupo existiu até a década de 2000 com seu programa na MTV, deixando marcas de popularidade imensa entre a geração mais nova. Os atores ainda se mantém na ativa, no programa Os Legendários, porém com uma proposta, estilo e nome diferente (hoje se apresentam como Banana Mecânica) do que faziam anteriormente.
Nesta esquete o apresentador do jornal informa os aumentos dos impostos atribuídos pelo governo e dá a deixa para o comentarista do programa. Só que o comentarista é ninguém menos que o desbocado Gil Brother, o Away de Petrópolis. É pra chorar de rir.
Monty Python – Forum mundial
E se fosse reunido estadistas e intelectuais esquerdistas históricos como Lênin, Marx, Mao-Tsé e Che Guevara? E que na verdade essa reunião era para um programa de TV com perguntas e respostas, com direito a premiação e tudo? Bizarro? Não, é só o Monty Python.
Comédia MTV – Wal Marx
Com a saída do grupo Hermes e Renato, a MTV sentiu a necessidade de formar um novo programa de comédia para a grade. Formado por comediantes de diferentes estilos, dos quais alguns já trabalhavam na própria emissora, o Comédia MTV foi um programa que se baseava na sátira, nonsense (às vezes no humor negro) e no improviso. Diferente do grupo anterior, não possuíam uma veia trash e pastelão. Com a saída de parte do elenco, o programa sofreu alterações de nome (passando a se chamar Comédia MTV ao Vivo) e de formato. Um dos maiores trunfos do programa foi poder revelar seus comediantes talentosos.
Nesta esquete o que segue é uma típica propaganda de um supermercado… mas dentro do cenário socialista soviético. Cheio de indiretas, o grupo meio que resume a tristeza (ou alegria, para os masoquistas) de ter que viver em tal ambiente político.
TV Pirata – Piada em debate
Como seria os nossos intelectuais discutindo entre si uma simples anedota? Essa sátira feita pelo grupo mostra exatamente o quão bizarro seria colocar entre si um economista, uma socióloga, um integrante de uma torcida organizada de futebol e um sindicalista (e papagaio ao mesmo tempo) comentando os efeitos que uma simples anedota traz para a sociedade.
Destaque para a performance perfeita de Regina Casé incorporando uma típica intelectual de esquerda. Chega a ser impressionante não só as roupas e cabelos customizados mas os trejeitos também encenados. De verdade, você jura que está vendo um típico professor de universidade estatal discursando.
Not the Nine O’ Clock News – Os marxistas
Not the Nine O’ Clock News foi um famoso programa de humor britânico criado no final dos anos 70 e que durou até o início dos anos 80. Baseado na “escola montypythoniana”, Not… continha sátiras, musicais e esquetes recheados de cultura pop. Vale lembrar que o programa foi quem deu o pontapé inicial para a fama do ator Rowan Atckinson, mundialmente conhecido por interpretar o Mr. Bean.
Nesta esquete um grupo esquerdista tenta voltar seus pensamentos aos estudos marxistas mas acaba por fazer o que mais sabem de melhor.
Monty Python – Eleições
Após o fim das votações, a briga é para ver quem ganhou, certo? Quer dizer, mais ou menos porque nem toda a imprensa trabalha de modo coerente. E pior, ainda podemos ver os resultados da democracia, onde os piores normalmente chegam ao poder.
Gato Fedorento – Debate político insultuoso
Você pode nunca ter ouvido falar desse grupo mas saiba que ele é muito conhecido em Portugal. Criado por comediantes de Stand Up, o português Gato Fedorento teve início através de um blog de internet, começaram a trabalhar na gravação de esquetes até ir para a TV, de onde tiveram grande reconhecimento junto ao público. Baseiam se em imitações, no nonsense e sátiras sobre atualidades.
Nesta esquete você verá um debate televisivo entre dois políticos candidatos a um cargo público. E claro, como todo debate, sempre há ataques diretos ao adversário. Porém há uma relativização das regras do programa, o que torna a esquete muito hilária. Tudo isso pra ver que burocratas são todos iguais, esteja você em que parte do mundo estiver.
TV Pirata – Os direitos do cidadão
Há um motivo para eu ter deixado esta esquete por último: ela é uma obra prima do humor brasileiro. Na época, a democracia havia sido restaurada a pouco tempo e a “nova” Constituição acabara de se tornar realidade. Com um tom anárquico ao extremo, a esquete resume bem para que a serve. Sem delongas, veja por você mesmo.